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De acordo com
o local onde é falado, um idioma pode ter diferentes variações. Sotaques à
parte, o português do Brasil é um bom exemplo disso. Enquanto no Sul se fala
uma língua, no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste se falam outras, cada
qual com sua complexidade. O mesmo acontece com o espanhol. Ainda que
não haja tantas diferenças entre os países, palavras e expressões específicas
se diferem de uma região para outra. Uma dessas formas é o lunfardo.
“Nem idioma,
nem dialeto e muito menos jargão”. Assim o escritor argentino José Gobello
definiu o lunfardo. A gíria teve origem na imigração italiana no Rio da Prata,
durante a segunda metade do século 19. Ganhou força entre as classes sociais
mais baixas de Buenos Aires, foi parar nas letras de tango — o que lhe rendeu
certa fama — e acabou atravessando a fronteira. “Malandro”, “lábia”, “bronca” e
“guri” são alguns exemplos de expressões lunfardas incorporadas ao linguajar
dos brasileiros. E foi justamente um brasileiro que, em 1978, criou certos
termos que viraram moda no vocabulário futebolístico.
A história da Rua Caminito está intimamente ligada à imigração italiana, ao tango e, claro, ao lunfardo. Suas casas coloridas foram construídas com madeira retirada de navios imigrantes. |
Cláudio
Coutinho assumiu a Seleção Brasileira depois que Osvaldo Brandão foi demitido.
O Brasil havia empatado sem gols com a Colômbia, em Bogotá, o que, naquela
época, era considerado vexaminoso. Com Coutinho à frente, o time canarinho
goleou a mesma Colômbia, por 6 a 0, no Maracanã, e despachou o Paraguai,
chegando ao Mundial como um dos favoritos ao título.
Entrentando,
a Seleção não empolgou. Coutinho trouxe ideias muito mirabolantes para a equipe,
no que ele chamou de “europeização do futebol brasileiro”. Palavras como
“overlapping”, “polivalente” e “ponto futuro” (veja no final do texto seus
significados) passaram a fazer parte do cotidiano dos jogadores. Criticado pelo
esquema, pelos neologismos e por não ter convocado Falcão, do Internacional, o
técnico ainda teve que conviver com as contusões e a falta de conjunto.
Cláudio Coutinho era capitão do exército. Talvez aí a razão da foto, ao lado de Toninho Cerezo, mostrando sua função na miniatura do campo de guerra. |
A estreia no
Grupo 3, contra a Suécia, foi terrível, do gramado de Mar de Plata às chances
de gol perdidas. Os escandinavos saíram na frente, aos 37min, com Sjöberg. No
final do primeiro tempo, Reinaldo empatou, após uma bola longa alçada na área
sueca. Já era uma vitória para o camisa 9 estar na Copa, quanto mais fazer um gol — uma
contusão no joelho quase o tirou da disputa.
A partida se
arrastou no segundo tempo, até que, no último lance da partida, o árbitro Clive
Thomas resolveu ganhar os holofotes. Nelinho cobrou o escanteio e Zico, de
cabeça, mandou a bola para o fundo das redes. Porém, o galês anulou o gol,
alegando que havia encerrado a partida com a bola ainda no ar. De nada adiantou
a reclamação dos jogadores: assim como em 74, a Seleção estreava sem vitória.
Quatro dias depois, o Brasil voltou a campo contra a Espanha — mas as vitórias não retornaram ao placar. O empate por 0 a 0 só não foi pior porque o zagueiro Amaral salvou uma bola sobre a linha, com Leão já batido. Derrotar a Áustria, na rodada final, havia virado obrigação. Foi aí que o presidente da CBD entrou em ação.
Descontente
com a falta de gols e de vitórias da Seleção, o almirante Heleno Nunes pediu a
escalação de Jorge Mendonça e Roberto Dinamite no time titular. A partida contra os austríacos — já
classificados — estava difícil, até que, aos 40min, Gil cruzou da direita,
Roberto Dinamite dominou com precisão e, sem piedade, fuzilou o goleiro
Koncilia. Ainda que em segundo lugar, o gol classificou o Brasil no Grupo 3.
A vice-liderança
do grupo colocou o Brasil na mesma chave que a Argentina na segunda fase — como
há quatro anos, dois grupos de quatro seleções, e o campeão de cada um deles
jogaria a decisão. A estreia na fase final do torneio foi contra o
surpreendente Peru, em Mendoza. No entanto, os papéis se inverteram. A Seleção
Brasileira fez sua melhor apresentação, enquanto os peruanos não mostraram nem
um pouco do bom futebol da primeira fase.
Dirceu foi às
redes duas vezes. A primeira, aos 15min, em uma belíssima cobrança de falta; a
segunda, aos 28min, em um chute forte de fora da área. Zico, que havia entrado na
segunda etapa, fez o terceiro, de pênalti. A vitória por 3 a 0 deu
credibilidade ao time, que, na partida seguinte, enfrentou os donos da casa.
Jogando em
Rosario, o Brasil foi melhor que a Argentina, e teria saído vencedor, não
tivesse desperdiçado inúmeras oportunidades. O confronto, truncado, foi marcado
pela violência, e ficou conhecido como a “Batalha de Rosario”. O empate acabou
não sendo tão ruim para a Seleção. Com um saldo de gols melhor que dos hermanos
(3 a 2), o Brasil era o líder do grupo a uma rodada da final.
Leão repõe a bola em jogo contra a Argentina. O goleiro se disse tranquilo antes do clássico sul-americano. “Quem já disputou a terceira divisão paulista está preparado para tudo”, completou. |
As coisas começaram a ficar estranhas quando, a pedido das emissoras de TV argentinas, a FIFA alterou os horários das partidas decisivas do Grupo B. O Brasil entrou em campo mais cedo do que o previsto, e venceu a Polônia com propriedade: 3 a 1. Nelinho, em uma belíssima cobrança de falta, fez o primeiro, aos 12min. Lato, depois de uma confusão na área, empatou, aos 45min. Na segunda etapa, Roberto Dinamite, o “atacante do presidente”, marcou dois gols — aos 12min e as 18min — e deixou o Brasil com um pé na final.
A Argentina,
que enfrentaria o Peru, à noite, teria que vencer por quatro gols de diferença,
fato raro no histórico recente daquela seleção. Ainda no gramado de Mendoza, o
técnico Cláudio Coutinho deu um tapa nas costas do jovem goleiro Leão e disse,
rindo: “Boa, garoto! 3 a 1 foi o suficiente. A Argentina não vai fazer quatro
no Peru.”
Dicionário de Cláudio Coutinho:
Overlapping: jogada em que o lateral passa e corre para receber.
Ponto futuro: local onde o jogador que recebe o passe
encontra a bola.
Polivalente: dom do jogador de atuar bem em qualquer função.
Expressões
lunfardas no Brasil:
bacanazo: bacana (refinado)
bancar: bancar (pagar)
bronca: bronca (raiva)
burro: burro (ignorante)
cabrero: cabreiro (furioso)
cana: cana (prisão)
caradura: caradura
catinga: catinga (mau cheiro corporal)
chumbo: chumbo (bala de revólver)
chupado: chupado (bêbado)
coco: coco (cabeça)
dar bola: dar bola (prestar atenção)
gozar: gozar (zombar)
gurí: guri (criança)
labia: lábia
machete: macete (ajuda-memória)
malandro: malandro
mamado: mamado (bêbado)
mancar: se mancar (compreender)
mango: real (dinheiro)
manyado: manjado (conhecido)
matina: matina (manhã cedo)
mina: mina (moça)
mortadela: presunto (cadáver)
patota: patota (bando)
pechar: peitar
bronca: bronca (raiva)
burro: burro (ignorante)
cabrero: cabreiro (furioso)
cana: cana (prisão)
caradura: caradura
catinga: catinga (mau cheiro corporal)
chumbo: chumbo (bala de revólver)
chupado: chupado (bêbado)
coco: coco (cabeça)
dar bola: dar bola (prestar atenção)
gozar: gozar (zombar)
gurí: guri (criança)
labia: lábia
machete: macete (ajuda-memória)
malandro: malandro
mamado: mamado (bêbado)
mancar: se mancar (compreender)
mango: real (dinheiro)
manyado: manjado (conhecido)
matina: matina (manhã cedo)
mina: mina (moça)
mortadela: presunto (cadáver)
patota: patota (bando)
pechar: peitar
pirao: pirado
tira: tira (investigador de polícia)
vivo: vivo (astuto)
tira: tira (investigador de polícia)
vivo: vivo (astuto)