terça-feira, 29 de abril de 2014

1978 | De Volta para o Ponto Futuro

Para ler o texto anterior, "Tango e Circo", clique aqui.


De acordo com o local onde é falado, um idioma pode ter diferentes variações. Sotaques à parte, o português do Brasil é um bom exemplo disso. Enquanto no Sul se fala uma língua, no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste se falam outras, cada qual com sua complexidade. O mesmo acontece com o espanhol. Ainda que não haja tantas diferenças entre os países, palavras e expressões específicas se diferem de uma região para outra. Uma dessas formas é o lunfardo.

“Nem idioma, nem dialeto e muito menos jargão”. Assim o escritor argentino José Gobello definiu o lunfardo. A gíria teve origem na imigração italiana no Rio da Prata, durante a segunda metade do século 19. Ganhou força entre as classes sociais mais baixas de Buenos Aires, foi parar nas letras de tango — o que lhe rendeu certa fama — e acabou atravessando a fronteira. “Malandro”, “lábia”, “bronca” e “guri” são alguns exemplos de expressões lunfardas incorporadas ao linguajar dos brasileiros. E foi justamente um brasileiro que, em 1978, criou certos termos que viraram moda no vocabulário futebolístico.

A história da Rua Caminito está intimamente ligada à imigração italiana, ao tango e, claro, ao lunfardo. Suas casas coloridas foram construídas com madeira retirada de navios imigrantes.

Cláudio Coutinho assumiu a Seleção Brasileira depois que Osvaldo Brandão foi demitido. O Brasil havia empatado sem gols com a Colômbia, em Bogotá, o que, naquela época, era considerado vexaminoso. Com Coutinho à frente, o time canarinho goleou a mesma Colômbia, por 6 a 0, no Maracanã, e despachou o Paraguai, chegando ao Mundial como um dos favoritos ao título.

Entrentando, a Seleção não empolgou. Coutinho trouxe ideias muito mirabolantes para a equipe, no que ele chamou de “europeização do futebol brasileiro”. Palavras como “overlapping”, “polivalente” e “ponto futuro” (veja no final do texto seus significados) passaram a fazer parte do cotidiano dos jogadores. Criticado pelo esquema, pelos neologismos e por não ter convocado Falcão, do Internacional, o técnico ainda teve que conviver com as contusões e a falta de conjunto.

Cláudio Coutinho era capitão do exército. Talvez aí a razão da foto, ao lado de Toninho Cerezo, mostrando sua função na miniatura do campo de guerra.

A estreia no Grupo 3, contra a Suécia, foi terrível, do gramado de Mar de Plata às chances de gol perdidas. Os escandinavos saíram na frente, aos 37min, com Sjöberg. No final do primeiro tempo, Reinaldo empatou, após uma bola longa alçada na área sueca. Já era uma vitória para o camisa 9 estar na Copa, quanto mais fazer um gol — uma contusão no joelho quase o tirou da disputa.

A partida se arrastou no segundo tempo, até que, no último lance da partida, o árbitro Clive Thomas resolveu ganhar os holofotes. Nelinho cobrou o escanteio e Zico, de cabeça, mandou a bola para o fundo das redes. Porém, o galês anulou o gol, alegando que havia encerrado a partida com a bola ainda no ar. De nada adiantou a reclamação dos jogadores: assim como em 74, a Seleção estreava sem vitória.

O galês Clive Thomas anula o gol que mudaria a classificação do grupo. A Seleção Brasileira protestou na Comissão de Arbitragem e a FIFA afastou o árbitro, que nunca mais apitou uma partida de Copa do Mundo.

Quatro dias depois, o Brasil voltou a campo contra a Espanha — mas as vitórias não retornaram ao placar. O empate por 0 a 0 só não foi pior porque o zagueiro Amaral salvou uma bola sobre a linha, com Leão já batido. Derrotar a Áustria, na rodada final, havia virado obrigação. Foi aí que o presidente da CBD entrou em ação.

Descontente com a falta de gols e de vitórias da Seleção, o almirante Heleno Nunes pediu a escalação de Jorge Mendonça e Roberto Dinamite no time titular. A partida contra os austríacos — já classificados — estava difícil, até que, aos 40min, Gil cruzou da direita, Roberto Dinamite dominou com precisão e, sem piedade, fuzilou o goleiro Koncilia. Ainda que em segundo lugar, o gol classificou o Brasil no Grupo 3.

Roberto comemora o seu gol. “Nas duas primeiras partidas não fiquei nem no banco. Durante 15 dias fui ignorado pela imprensa. Depois do gol, passei a receber bom dia de todos. E alguns jornalistas diziam que não tinham me visto. Eu, grande desse jeito?”

A vice-liderança do grupo colocou o Brasil na mesma chave que a Argentina na segunda fase — como há quatro anos, dois grupos de quatro seleções, e o campeão de cada um deles jogaria a decisão. A estreia na fase final do torneio foi contra o surpreendente Peru, em Mendoza. No entanto, os papéis se inverteram. A Seleção Brasileira fez sua melhor apresentação, enquanto os peruanos não mostraram nem um pouco do bom futebol da primeira fase.

Dirceu foi às redes duas vezes. A primeira, aos 15min, em uma belíssima cobrança de falta; a segunda, aos 28min, em um chute forte de fora da área. Zico, que havia entrado na segunda etapa, fez o terceiro, de pênalti. A vitória por 3 a 0 deu credibilidade ao time, que, na partida seguinte, enfrentou os donos da casa.

Jogando em Rosario, o Brasil foi melhor que a Argentina, e teria saído vencedor, não tivesse desperdiçado inúmeras oportunidades. O confronto, truncado, foi marcado pela violência, e ficou conhecido como a “Batalha de Rosario”. O empate acabou não sendo tão ruim para a Seleção. Com um saldo de gols melhor que dos hermanos (3 a 2), o Brasil era o líder do grupo a uma rodada da final.

Leão repõe a bola em jogo contra a Argentina. O goleiro se disse tranquilo antes do clássico sul-americano. “Quem já disputou a terceira divisão paulista está preparado para tudo”, completou.

As coisas começaram a ficar estranhas quando, a pedido das emissoras de TV argentinas, a FIFA alterou os horários das partidas decisivas do Grupo B. O Brasil entrou em campo mais cedo do que o previsto, e venceu a Polônia com propriedade: 3 a 1. Nelinho, em uma belíssima cobrança de falta, fez o primeiro, aos 12min. Lato, depois de uma confusão na área, empatou, aos 45min. Na segunda etapa, Roberto Dinamite, o “atacante do presidente”, marcou dois gols — aos 12min e as 18min — e deixou o Brasil com um pé na final.

A Argentina, que enfrentaria o Peru, à noite, teria que vencer por quatro gols de diferença, fato raro no histórico recente daquela seleção. Ainda no gramado de Mendoza, o técnico Cláudio Coutinho deu um tapa nas costas do jovem goleiro Leão e disse, rindo: “Boa, garoto! 3 a 1 foi o suficiente. A Argentina não vai fazer quatro no Peru.”




Dicionário de Cláudio Coutinho:

Overlapping: jogada em que o lateral passa e corre para receber.
Ponto futuro: local onde o jogador que recebe o passe encontra a bola.
Polivalente: dom do jogador de atuar bem em qualquer função.

Expressões lunfardas no Brasil:

bacanazo: bacana (refinado)
bancar: bancar (pagar)
bronca: bronca (raiva)
burro: burro (ignorante)
cabrero: cabreiro (furioso)
cana: cana (prisão)
caradura: caradura
catinga: catinga (mau cheiro corporal)
chumbo: chumbo (bala de revólver)
chupado: chupado (bêbado)
coco: coco (cabeça)
dar bola: dar bola (prestar atenção)
gozar: gozar (zombar)
gurí: guri (criança)
labia: lábia

machete: macete (ajuda-memória)
malandro: malandro
mamado: mamado (bêbado)
mancar: se mancar (compreender)
mango: real (dinheiro)
manyado: manjado (conhecido)
matina: matina (manhã cedo)
mina: mina (moça)
mortadela: presunto (cadáver)
patota: patota (bando)
pechar: peitar
pirao: pirado
tira: tira (investigador de polícia)
vivo: vivo (astuto)


domingo, 27 de abril de 2014

1978 | Tango e Circo

Para ler o texto anterior sobre a final da Copa de 74, "Laranja Azeda", clique aqui.


Coragem, força e honra. Três virtudes enaltecidas durante o Império Romano. Lutas entre gladiadores, animais ferozes e corridas de bigas eram bons exemplos de tais atributos. Muito populares, os espetáculos sanguinários serviam de diversão para o povo. Já para os Césares, eram uma maneira de manter os cidadãos afastados das questões políticas.

Em 1978, a Argentina vivia o auge de sua ditadura militar. Liderado pelo general Jorge Videla, o governo viu na Copa do Mundo uma oportunidade de apaziguar os ânimos da população, que vivia em polvorosa. Mas para que a estratégia desse certo, o sucesso da seleção argentina era imprescindível. Os gladiadores da bola, no entanto, não precisaram derramar sangue. Apenas suor. Muito suor.

A distribuição de comida e as arenas faziam parte da chamada “política do pão e circo”, que se encarregava ao mesmo tempo de alimentar o povo e distraí-lo, o que aumentava a popularidade do imperador.

A Argentina, enfim, recebia o torneio com o qual sonhara e lhe fora negado por 40 anos, fazendo com que o país desistisse de três Mundiais, em represália — de 1938 a 1954. Porém, o desejo de sediar a Copa de 78 não evitou as falhas na organização. Os estádios ficaram prontos de última hora, o que fez tufos de grama recém-plantada se soltarem a cada jogada. As longas distâncias entre as sedes também incomodaram a maioria das seleções. Enquanto isso, o time da casa jogou praticamente só em Buenos Aires.

O goleiro alemão Sepp Maier na partida de abertura da Copa, entre a campeã Alemanha Ocidental e a Polônia. A única novidade estava na camisa das seleções: pela primeira vez, com o logotipo de seus fabricantes. Já o placar foi o mesmo dos últimos quatro jogos inaugurais de Mundial: 0 a 0.

As polêmicas na seleção argentina começaram antes mesmo da Copa. Um jogador do Argentino Juniors despontava como a grande revelação do futebol platino. Com sua mágica perna esquerda, seus lançamentos precisos, dribles curtos e chutes certeiros de onde fosse, o meia-atacante chegou a ser convocado para a seleção, mas foi preterido pelo técnico César Menotti antes da Copa por ser muito jovem. Aos 17 anos, Maradona teria que esperar para mostrar ao mundo todo o seu talento.

Com o escudo da A.F.A. (Associação Argentina de Futebol) bordado na camisa, pela primeira vez em Mundiais, a Argentina estreou no Grupo 1 contra a Hungria. E sofreu. A vitória, de virada, só se confirmou a 8min do fim, numa trombada entre Luque e o goleiro Gujdár, que Bertoni empurrou para o gol vazio. Na partida seguinte, contra a França, mais um lance discutível: um pênalti marcado para a anfitriã após um toque de mão involuntário, que Passarella cobrou e converteu. Platini empatou no segundo tempo — seu primeiro gol em Copas — e Luque fez o segundo dos hermanos, que repetiram o placar da estreia: 2 a 1.

No último minuto do primeiro tempo, Luque chuta e a bola desvia no braço de Trésor. As polêmicas partidas da Argentina na primeira fase eram um prenúncio do que ainda estava por vir.

Na rodada final da chave, a Itália roubou a cena e garantiu a primeira posição ao vencer a Argentina, por 1 a 0, com um gol de Bettega. Entretanto, quem chamou a atenção foi a França, em Mar Del Plata, na partida contra a Hungria. Em protesto contra as más arbitragens, os franceses entraram em campo de branco, mesmo sabendo que os húngaros jogariam de branco também. Sem uniforme reserva, os franceses tiveram que pegar emprestado as camisas listradas em verde e branco de um clube amador da cidade, o Kimberley.

O árbitro brasileiro Arnaldo Cézar Coelho recusou-se a iniciar a partida e ordenou que os franceses trocassem de camisa. Mesmo desconfigurada, a França venceu (3 a 1). Porém, os azuis de branco não se classificaram.

No Grupo 2, a Tunísia entrou para a história como o primeiro país africano a conquistar uma vitória em Copas. E foi logo na primeira partida: 3 a 1 diante do México — que até então nunca havia vencido uma estreia. As Águias de Cartago ainda arrancaram um 0 a 0 com a Alemanha Ocidental, o que foi decisivo para os germânicos terminarem atrás da líder Polônia no grupo. Apesar dos esforços, a Tunísia foi eliminada, mas deixou o seu legado: a partir daquela Copa, uma seleção africana sempre surpreenderia.

Sem Cruyff, a Laranja Mecânica perdeu o seu fascínio e, no Grupo 4, amargou uma apagada segunda colocação. Dirigido pelo austríaco Ernst Happel — a Holanda foi a única seleção comandada por um técnico estrangeiro —, o time venceu o Irã (3 a 0), empatou com o Peru (0 a 0) e, na última rodada, perdeu para a Escócia (3 a 2). Primeira colocada do grupo, a seleção peruana, campeã sul-americana de 75, foi o grande destaque da primeira fase, com o ataque mais positivo (7 gols) e uma das defesas menos vazadas.

Com apenas dois gols sofridos — média de menos de um por partida — o goleiro peruano Quiroga, mais tarde, seria a atração principal de um circo armado para a Seleção Brasileira dançar na Copa.

Rensenbrink se prepara para cobrar o pênalti do 1000° gol em Copas. Foi o primeiro dos cinco gols da derrota da Holanda para a Escócia, por 3 a 2. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

1974 | Laranja Azeda

Para ler o texto anterior, "Os Iluminados", clique aqui.


Silvio Gazzaniga nunca fez um gol em uma Copa do Mundo. Aliás, sequer chegou a jogar uma única partida. Mas é dele a mais emblemática obra dos Mundiais: a Taça FIFA. Tão universal quanto o próprio futebol, o troféu tem 36 centímetros de altura e pesa 6,17 quilos. É toda de ouro maciço, exceto pela base, formada por duas camadas de um metal semiprecioso, a malaquita. Criado pelo escultor italiano em substituição à taça Jules Rimet, o troféu, se estivesse à venda, valeria cerca de R$ 435 mil reais, segundo as cotações do ouro no mercado financeiro. Porém, a taça é privilégio de poucos, e o valor de levantá-la é incalculável.

A Taça FIFA guardada numa mala da Louis Vuitton. Na base do troféu há um espaço de luxo para 17 nomes. Já foram gravados dez. O último será afixado em 2038.

Estreante na Copa de 74, a estatueta foi descrita por seu inventor como “a figura de dois atletas no emocionante momento da vitória”. Para os alemães, eram eles Beckenbauer e Müller. Para os holandeses, Cruyff e Neeskens. A verdade é que nenhuma das seleções, qual fosse a vitoriosa, teria direito ao troféu original. O novo regulamento havia estabelecido que a taça permaneceria em posse da FIFA e os campeões levariam para casa apenas uma réplica.

A estátua não era a única novidade no Mundial. A FIFA tinha um novo presidente: o brasileiro João Havelange, que assumira no lugar do inglês Sir Stanley Rous. A “Era Havelange”, porém, não começou bem para a sua seleção. Além de não chegar à final, o Brasil perdeu a disputa de terceiro lugar para a Polônia, por 1 a 0, com um gol de Lato — o sétimo do artilheiro da competição.

Lato marca. Depois da derrota para a Polônia, o zagueiro Luís Pereira, se dizendo muito consciente, abriu o jogo: “Pelo que o Brasil apresentou o quarto lugar foi fenomenal. Isso pode até magoar alguns jogadores, mas só merecíamos um quarto lugar mesmo”.

Não havia mais dúvidas. O futebol total da Holanda era inteiramente favorito na decisão, mesmo a Alemanha Ocidental jogando em casa e, acima de tudo, bem. Refinada e ao mesmo tempo impiedosa, a Laranja impusera aos adversários 14 gols em seis partidas e levara apenas um.

Em grande estilo, a Holanda deu a saída. Sem perder a posse de bola, envolveu o time alemão por 53 segundos. Após 14 passes, Johan Cruyff, o camisa 14 do Carrossel, galopou do círculo central até a grande área e só foi parado por Höness. Menos de um minuto de jogo, os alemães nem tinham tocado na bola e os holandeses já faziam 1 a 0, com Neeskens — o primeiro gol de pênalti em uma final de Copa do Mundo. O goleiro Sepp Maier pegou a bola no fundo do gol e os alemães, enfim, tocaram nela.

Neeskens, de pênalti, abre o placar. Nas palavras de Rep, o pensamento nada mecânico da Laranja nos primeiros minutos da decisão: “Queríamos brincar em cima dos alemães”.

Enquanto a Holanda parecia se divertir em campo, a Alemanha Ocidental acordava. Comandada dos pés à cabeça por Beckenbauer, a anfritriã reorganizou sua marcação e travou o Carrossel: Vogts colado em Cruyff, Schwarzenbeck em cima de Rep e Bonhof no ‘cangote’ de Neeskens.

Aos 25min, foi a vez dos alemães caírem na área. Hölzenbein driblou três marcadores e se jogou na chegada de Jansen. O árbitro inglês, John Taylor, também caiu: na dele. Breitner cobrou no canto e converteu o segundo pênalti da decisão. Jongbloed nem se mexeu. Mais tarde, o próprio árbitro reconheceu o erro.

Com a Laranja emperrada, a seleção alemã engrenou. Bonhof subiu pela direita — o lado esquerdo era o mais fraco da Holanda — e cruzou para Müller. O passe foi forte e o atacante dominou mal. A bola quicou e, com o efeito, voltou a tempo de Müller conseguir fazer o arremate. A dois minutos do intervalo, a Alemanha Ocidental estava na frente.

Müller comemora seu 14° gol em Copas do Mundo. Naquele instante, o alemão superava o francês Just Fontaine como o maior artilheiro da história dos Mundiais.

O futebol dinâmico e envolvente da Holanda apareceu no segundo tempo. Mas a Laranja não contava com o muro de Munique: o alemão Sepp Maier. Eleito o melhor goleiro de 70, Maier ganhou o apelido de “O Gato” depois das impressionantes defesas na final de 74. Vivendo de contra-ataques, os alemães ainda chegaram a marcar mais um, mas o árbitro inglês anulou o gol, alegando impedimento — inexistente — de Müller.

Ao final do jogo, a Alemanha Ocidental provou toda a sua capacidade de superação. 20 anos depois de surpreender o mundo e a Hungria, os alemães, mais uma vez, derrotavam os favoritos numa final de Copa do Mundo. Um time não tão brilhante como a Holanda, é verdade, mas dotado de uma aplicação tática indiscutível.

O capitão Franz Beckenbauer com a taça (e o técnico Helmut Schön tentando tirá-la dele): o homem que revolucionou o papel de líbero.

Dos gramados para os livros, a Holanda entrou para a história. Depois da Copa, Johan Cruyff declarou que não havia nascido para perder e jurou nunca mais disputar outro Mundial. E assim fez. Na história das Copas do Mundo, Johan Cruyff foi protagonista de um capítulo só.

Johan Cruyff: o craque azedo da Laranja. Depois da rápida popularidade adquirida na Copa de 74, alguns jogadores da Holanda, como Cruyff, passaram a cobrar para dar autógrafos.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

1974 | Os Iluminados

Para ler o texto anterior, "O Muro da Berlinda", clique aqui.


“Professor?” Era a voz de Johan. O aluno dedicado, porém rebelde, se aproximou. Rinus, o professor, estava à beira da piscina. Virou-se, e seus olhos brilharam ao ver seu discípulo mais promissor. Johan agachou-se ao seu lado. “Professor, veja como o vento faz a água se movimentar por todo o espaço da piscina.” Rinus, atento, se curvou para ver. “Hmm, Johan, tive uma ideia! E se...”

O som do primeiro golpe com o picador de gelo cortou-lhe a palavra. Seguiram-se outros treze, todos na nuca, num total de quatorze — o número preferido de Johan. O velho Rinus caiu na água. A poça de sangue laranja se espalhou em ondas pela piscina. Ondas concêntricas, observou Johan.

Se fosse contado por Stanley Kubrick, teria sido assim o encontro à beira da piscina entre Johan Cruyff e Rinus Michels, que originou a chamada “Laranja Mecânica” — o time de futebol em que seus jogadores se movimentavam por todas as partes do gramado. A verdade é que, da Laranja Mecânica de Anthony Burgess, imortalizada pelo filme de Kubrick, a Holanda de 74 só tem o nome e, claro, o roteiro original de uma das equipes mais encantadoras de todos os tempos.

A exemplo da obra-prima da literatura e do cinema, a Laranja Mecânica do futebol revolucionou uma era.

A Holanda estreou no Grupo C vencendo o Uruguai, em Hanover. Foi um vareio de bola, apesar do placar humilde de 2 a 0, conquistado no fim do jogo — dois gols de Rep. Mas o que chamou a atenção mesmo foi o futebol dinâmico e participativo de uma equipe que não guardava posição. Liderados por Cruyff, os holandeses marcavam os uruguaios no campo de ataque, dando pouco ou nenhum espaço para a Celeste. Quando tinham a bola — a maior parte do tempo —, trocavam de lugar a todo o momento, confundindo a marcação adversária. O melhor conceito de “posse de bola” era apresentado ao mundo.

Na segunda partida, diante da Suécia, em Dortmund, os gols não saíram, apesar das inúmeras oportunidades criadas pelo time laranja. Parecia que o “Carrossel” havia emperrado, mas não. Ainda no Vale do Ruhr, a Holanda trucidou a Bulgária, por 4 a 1 — dois gols de pênalti de Neeskens, um de Rep e outro de de Jong — e confirmou um favoritismo que nem todos concordavam.

A Celeste terminou na lanterna do Grupo C, mas já estava no lucro. Antes da Copa, ao deixar Montevidéu para disputar amistosos, a delegação uruguaia mudou de voo. O avião que seguiu sem os uruguaios caiu, matando 107 pessoas.

"O time deles é bom, mas os holandeses não têm tradição em Copas e isso pesa. A Holanda não me preocupa. Estou pensando na final com a Alemanha Ocidental." Zagallo não mediu palavras para expressar seu pensamento sobre a sensação da Copa, mesmo depois de a Holanda massacrar a Argentina, por 4 a 0, na abertura do Grupo 1 da segunda fase do Mundial — dois grupos de quatro seleções no lugar do tradicional mata-mata, com o campeão da chave indo à final.

O Brasil, por sua vez, manteve-se aquém das expectativas. Venceu a Alemanha Oriental graças a um gol de falta de Rivellino (1 a 0), e a Argentina (2 a 1), com gols de Rivellino e Jairzinho. Na última rodada, a Seleção precisava ganhar da Holanda para ainda sonhar com o tetra.

Brindisi, de falta, marca o único gol da Argentina contra o Brasil. No primeiro clássico entre os rivais em Copas, a Seleção Brasileira fez a sua melhor partida. Mas venceu no sufoco.

Já pelo o outro grupo, a Alemanha Ocidental nem de longe lembrava o time apático da primeira fase. O técnico Helmut Schön se reuniu com o elenco e exigiu um melhor futebol. A conversa surtiu efeito: as boas vitórias, em Düsseldorf, contra Iugoslávia (2 a 0) e Suécia (4 a 2), possibilitaram aos anfitriões jogar pelo empate na rodada decisiva, diante da Polônia, em Frankfurt.

Porém, antes de alemães e poloneses entrarem em campo, a chuva marcou presença. E com força. O gramado alagado fez a partida ser adiada em meia hora. Uma força-tarefa foi convocada: o Corpo de Bombeiros foi acionado para drenar a água com bombas de sucção, enquanto funcionários do Waldstadion percorriam o campo com rodos. Mas não teve jeito: o confronto foi disputado em meio a poças d’água. Em um jogo difícil — mais pelo adversário do que pela lama — o gol de Gerd Müller, aos 31min do segundo tempo, colocou a Alemanha Ocidental em sua terceira final de Copa do Mundo.

O polonês Jan Tomaszewski defende a cobrança do alemão Höness. O goleiro conseguiu a proeza de defender dois pênaltis em uma mesma Copa do Mundo — o outro, do sueco Tapper. A façanha foi igualada pelo norte-americano Brad Friedel, em 2002.

“Não vamos subestimar o Brasil. Eles não têm marcado muitos gols, mas também sofreram poucos.” Foi assim que o holandes Johnny Rep rebateu a piada do técnico brasileiro Mário Zagallo, que havia dito que os brasileiros celebrariam a vitória tomando Crush — refrigerante da década de 70, cor de laranja. Mas quem bebeu mesmo foram os holandeses. E que porre de guaraná.
O jogo foi tenso, e por muitas vezes violento. O nervosismo fez com quem os jogadores brasileiros abusassem das faltas. Mas a Holanda era lisa, rápida e mortal. Aos 5min do segundo tempo, Cruyff cruzou da direita e Neeskens se esticou para acertar a bola e encobrir Leão. 15 minutos depois, a jogada foi pelo o outro lado. Cruyff entrou pelo meio e, voando, marcou o segundo gol. A expulsão de Luís Pereira, a 6 minutos do fim, botou um ponto final na pífia campanha brasileira. Terminada a partida, Zagallo se rendeu: “Perdemos para uma grande equipe”.

Enquanto a seleção canarinho via seu brilho desaparecer, a Laranja ganhava cada vez mais os holofotes.


Cruyff marca. Depois do fiasco, a revista "France Football", uma das mais conceituadas do planeta, publicou uma foto colorida de página inteira da seleção brasileira. A legenda: "a decepção do ano no mundo do futebol".

terça-feira, 22 de abril de 2014

1974 | O Muro da Berlinda

Para ler o texto (13 letras) sobre o Tri do Brasil em 70, clique aqui.


Um novo dia amanhecera. Mas, na alvorada de 13 de agosto de 1961, o que menos chamou a atenção foi o brilho do sol. Pelo contrário: a madrugada fria se perpetuara em 66,5 km de grades de metal, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Do dia para noite, uma fronteira que existia apenas na mente se tornou real. Berlim estava dividida. E não havia como ficar em cima do muro.

O muro foi erguido em pouco mais de 6 horas. Centenas de pessoas morreram tentando atravessar a barreira que separava muito mais que o lado ocidental do lado oriental da cidade. 

A principal divisão entre o mundo capitalista e o socialista fez de Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental países estrategicamente importantes no período da Guerra Fria, onde os conflitos ficaram apenas em termos políticos e econômicos. Contudo, em termos esportivos, as duas Alemanhas chegaram a ficar frente a frente.

Na Copa do Mundo de 1974, quis o destino que os alemães orientais, em sua primeira e única participação, caíssem no mesmo grupo dos vizinhos de muro e anfitriões do torneio. Depois de vencerem Austrália e Chile, as Alemanhas chegaram à rodada final disputando o primeiro lugar do Grupo A. Mas só uma Alemanha queria realmente a vitória.

No duelo de Hamburgo, a Alemanha Ocidental mostrou toda a sua frieza ao abrir mão do resultado — ao que tudo parece — para sair do caminho de adversários teoricamente mais fortes na segunda fase. O gol de Jürgen Sparwasser, aos 32min da etapa final, agradou a “gregos e troianos”, mas não livrou os donos da casa das vaias de sua torcida.

Os capitães Beckenbauer e Bransch protagonizam um raro aperto de mão entre os alemães divergentes. Após a derrota para os rivais de cercania, o “Kaiser” ocidental questionou o treinador Helmut Schön sobre o “enclausuramento” do time na concentração.   

A Copa do Mundo também viu, mais uma vez, o futebol perder para a política. Nas eliminatórias, a forte União Soviética se recusou a disputar o jogo de volta da repescagem no Chile, devido ao recente golpe militar que levou o general Augusto Pinochet ao poder e, consequentemente, à execução de prisioneiros esquerdistas.

Carlos Caszely, do Chile, recebe o primeiro cartão vermelho da história das Copas. Ele foi expulso aos 22min do 2° tempo na derrota por 1 a 0 para a Alemanha Ocidental. Depois do episódio, o atleta, opositor ferrenho do ditador Pinochet, foi proibido de jogar futebol em seu próprio país.

No entanto, o golpe que realmente nocauteou o Mundial foi a ausência de Pelé. O Rei abandonou a Seleção em 1971, um ano depois de conquistar o tri. Sem Pelé, a Copa de 74 não teve o mesmo brilho. A Seleção Brasileira muito menos.

O Brasil de 74 não foi nem sombra do timaço de 70. Zagallo, ainda técnico da equipe, mesclou heróis do tri, como Rivellino e Jairzinho, com uma nova geração, comandada pelo goleiro Leão e o zagueiro Luís Pereira. Mas a falta de entrosamento e o futebol burocrático fizeram a equipe perder o encanto de quatro anos antes.

O Brasil abriu a Copa contra a Iugoslávia, em Frankfurt, no dia 13 de junho — a partir de 74, o detentor do título passou a fazer o jogo inaugural. O time da estreia nunca havia jogado junto antes. Difícil imaginar outro resultado que não o 0 a 0 — o terceiro consecutivo em aberturas de Mundiais.

Zagueiro do Zaire faz até malabarismo, mas não evita mais um gol da Iugoslávia. Depois do terceiro, o técnico do Zaire, que era iugoslavo, substituiu o goleiro Kazadi Muamba pelo reserva Tubilandu Ndimbi. Não adiantou muito: Ndimbi tomou mais seis gols, e o Zaire sofreu uma das maiores goleadas da história dos Mundiais: 9 a 0. 

O Brasil voltou a decepcionar na segunda partida, diante da Escócia. Um novo empate por 0 a 0 acrescentou dramaticidade à rodada final do Grupo B. Com o placar de 1 a 1 entre escoceses e iugoslavos, a seleção canarinho precisava vencer o Zaire por, no mínimo, 3 a 0 para se classificar.

E o mínimo foi o máximo que a Seleção Brasileira conseguiu fazer. Jairzinho, Rivellino e Valdomiro, a doze minutos do fim, marcaram os gols. O Brasil se classificou superando a Escócia no saldo de gols — a novidade do torneio nos critérios de desempate. Por sua vez, os escoceses se tornaram a primeira seleção a ser eliminada na primeira fase sem perder um só jogo. Curiosamente, também foi a única invicta da competição.

Apesar do belo gol de Rivellino — um torpedo no ângulo —, o lance que marcou a partida Brasil x Zaire foi obra do zagueiro Ilunga Mwepu. Num ato totalmente incompreensível, o zairense deixou a barreira e chutou a bola para longe, antes que ela fosse posta em jogo na cobrança de falta. Os jogadores do Zaire, que haviam ganhado automóveis e casas por classificar o país para a sua primeira Copa, tiveram seus prêmios confiscados depois de uma pífia participação — três jogos, três derrotas, nenhum gol marcado e 14 sofridos.

César Maluco, reserva de Jairzinho (foto), honrou o apelido na partida contra o Zaire. O atacante apertou o botão que invertia o sentido da escada rolante na saída dos vestiários. Os jogadores do Zaire, que subiam, acabaram caindo uns em cima dos outros. Segundo ele, o fato inusitado fez com quem o Brasil vencesse a partida. 

Outro estreante saco de pancadas foi o Haiti. Além de perder todas as suas três partidas, a seleção caribenha protagonizou na Copa de 74 o primeiro caso de doping por uso de drogas. Na manhã seguinte do anúncio da suspensão de Ernest Jean-Joseph, seguranças da delegação haitiana acordaram o atleta, levaram-no para o jardim da concentração e aplicaram-lhe uma bela surra por ter envergonhado a sua pátria.

Não foi só o Haiti que decepcionou no Grupo D. A Azzurra venceu sua única partida contra o próprio Haiti, na estreia, por 3 a 1. Os centro-americanos chegaram a sair na frente — o gol de Sanon quebrou uma invencibilidade de dois anos e 1.142 minutos de Dino Zoff sem tomar gols —, mas tomaram a virada. Depois disso, só tropeços: empate contra a Argentina (1 a 1) e derrota para a Polônia (2 a 1). Em terceiro lugar no grupo, a Itália não se classificou para a fase seguinte.

Única seleção com 100% de aproveitamento na primeira fase, a Polônia já havia surpreendido nas eliminatórias ao eliminar a Inglaterra, em Londres. Liderados por Grzegorz Lato, os campeões olímpicos de 1972 venceram Argentina (3 a 2), Itália (2 a 1) e atropelaram o Haiti (7 a 0).

Porém, não foram os poloneses que encantaram o mundo, em 74.

A Copa do Mundo de 74 foi a primeira em que os jogadores usaram número nos calções. Mas isso não explica o futebol nas coxas da seleção italiana na fase de grupos.

domingo, 20 de abril de 2014

1970 | O 13° Jogador

Para ler o texto anterior, "Um Passo na Meia-Lua", clique aqui.


O número 13 sempre teve um significado especial nas mais diferentes culturas. Na maioria delas, o algarismo é associado ao azar. Em muitos países o 13 não aparece escrito nos andares de prédios, nos assentos de teatro e nas plataformas de trem. A fobia do 13 está presente em todos os segmentos: no tarô, o 13 é o número do arcano “A Morte”; na fórmula 1, não existia o carro n° 13 até o ano passado; e na política, 13 é o número eleitoral de um certo partido malfadado. No entanto, a superstição em torno do número atômico do alumínio é antiga, vinda dos tempos da Santa Ceia, quando Jesus e seus doze apóstolos (treze pessoas) sentaram-se à mesa pela última vez.

O mais emblemático símbolo do mau agouro trazido pelo dígito é a sexta-feira 13. A culpa seria do rei da França, Filipe IV, que, no século XIV, amaldiçoou a data ao torturar até a morte a Ordem dos Cavaleiros Templários, a qual julgava ilegal. Mas não é preciso voltar tanto na história para achar um mau presságio relacionado ao dia. Em 1968, o AI-5, o mais duro e cruel decreto da ditadura militar, foi baixado em uma sexta-feira 13. Existe, porém, quem venere o número. O caso mais conhecido é de Zagallo.

A crendice de Zagallo nasceu graças à esposa, devota de Santo Antônio, celebrado justamente no dia 13 (de junho).

Mario Jorge Lobo Zagallo casou-se no dia 13, mora no 13° andar e a vida toda dirigiu um carro com a placa 1313 — muito provavelmente o mesmo dígito de suas senhas bancárias. O ex-jogador e ex-técnico da Seleção Brasileira sempre cultivou uma relação toda especial com o algarismo, associando o 13 ao número de letras de determinadas palavras em seus sucessos no futebol (por exemplo, “Zagallo + título” somam treze letras). Em 1970, Zagallo se tornou o primeiro treinador a ser campeão mundial após conquistar o título como jogador. Um feito mais por competência do que por superstição.

Ao assumir o cargo, a três meses da Copa, Zagallo transformou as “feras de Saldanha” em um time de futebol. Félix se firmou como titular, Piazza passou à quarto-zagueiro, Clodoaldo virou volante e Everaldo ganhou a vaga de Marco Antônio na lateral-esquerda. Na última partida antes da viagem para o México, em abril, contra a Áustria, no Maracanã, Rivellino recebeu de Zagallo a camisa 11. E fez o gol da vitória, por 1 a 0. [Rivellino onze: 13 letras]

Nos vestiários, após a partida, o zagueiro Brito armou uma armadilha para cortar o bigode de Rivellino. Mas desistiu depois que Riva implorou para que não o cortasse. [bigode poupado: 13 letras]

A campanha de seis vitórias, com altos e baixos, mostrou o problema do treinador em escalar o mesmo time duas vezes seguidas. Devido a contusões no decorrer do torneio, apenas na final Zagallo conseguiu manter a escalação da partida anterior — no caso, a semifinal contra o Uruguai. [equipe mantida: 13 letras]

O duelo do dia 21 de junho, na Cidade do México, não era apenas a decisão de um título mundial. Os bicampeões Brasil e Itália lutavam pela posse definitiva da taça Jules Rimet. O Brasil esperava por esse momento desde 1962, no Chile. A Itália há mais tempo: desde 1938, na França. Somente o vencedor teria o direito de levar o troféu para casa. [Brasil campeão: 13 letras]

Se a final terminasse empatada no tempo normal e na prorrogação, a decisão do título iria para... sorteio! Isso mesmo. O jogo-desempate já não existia mais no regulamento das Copas do Mundo e a disputa de pênaltis ainda não havia sido adotada em Mundiais. [título na moeda: 13 letras]

A Itália estava invicta havia 18 partidas. Sua última derrota acontera em abril de 1968, contra a Bulgária (3 a 2), pelas eliminatórias da Eurocopa. Entretanto, a campanha na fase de grupos do Mundial tinha sido sofrível: dois empates sem gols, com Uruguai e Israel, e uma vitória magra sobre a Suécia (1 a 0). Só a partir das quartas, na goleada por 4 a 1 sobre o México, a Azzurra passou a jogar o futebol que a credenciou entre as favoritas. [Itália invicta: 13 letras]

Invicta, mas cansada. A seleção italiana vinha de uma desgastante semifinal contra os alemães, que exigiu muito dos jogadores. Antes da final, o capitão Facchetti chegou a declarar que enfrentar o Brasil depois da batalha contra a Alemanha Ocidental era um castigo. “Se vencermos poderemos realmente nos considerar os melhores do mundo, já que teremos derrotado Pelé e Beckenbauer”, completou o zagueiro. [Itália cansada: 13 letras]

Quando as equipes subiram ao gramado do estádio Azteca, a surpresa foi geral. O goleiro Félix, pela primeira vez na Copa, vestia luvas. Alguns jogadores mais superticiosos tentaram convencê-lo a tirar o acessório, mas o arqueiro foi enfático: “Não. Vou mostrar que eu também sei jogar com luvas”. Aparentemente, o técnico Zagallo havia aprovado a atitude do goleiro. [Félix com luvas: 13 letras]

Apesar de não gostar do acessório, Félix foi o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas em uma Copa do Mundo. A atitude era uma afronta à imprensa que o criticava. [crítica à Félix: 13 letras]

O predomínio do Brasil foi absoluto desde o pontapé inicial. O primeiro gol saiu aos 18min, numa cobrança de lateral de Tostão. Rivellino alçou a bola na área e Pelé, contrariando a lei da gravidade, voou mais alto que o zagueiro Burgnich para, de cabeça, fazer 1 a 0. A mágica capacidade do Rei em permanecer no ar o tempo que quisesse impressionou o capitão italiano Facchetti. [Pelé parou no ar: 13 letras]

Pelé marca o primeiro. Na tribuna do estádio Jalisco, em Guadalajara, uma placa homenageia o Rei, citando-o como um exemplo a ser seguido pela juventude. [Pelé no Jalisco: 13 letras]

A superioridade brasileira era tanta que o time acabou relaxando. Aos 37min, Brito passou a bola de cabeça até Clodoaldo, que tentou um toque de calcanhar e entregou de bandeja para Boninsegna. O atacante italiano ganhou a dividida com Brito e Félix, e, com o gol aberto, empatou a partida. Um erro impressionante que tirou Zagallo do sério. [Bobeada da zaga: 13 letras]

O ‘sacode’ no intervalo deu resultado. O Brasil voltou arrasador no segundo tempo. Aos 21min, Jairzinho tentou avançar pelo meio e foi desarmado. A bola sobrou para Gérson, que dominou e, de fora da área, mandou uma bomba de esquerda, sem a menor chance para Albertosi. [Canhota de Ouro: 13 letras]

Apesar das grandes atuações no Mundial, o Canhota só marcou seu primeiro — e único — gol na final da Copa. [bomba de Gérson: 13 letras] 

Quatro minutos depois, Gérson voltou a brilhar. O Canhota lançou do meio-campo na cabeça de Pelé, dentro da área. O Rei ajeitou para a chegada de Jairzinho, que dominou na coxa e, de leve, empurrou para o fundo das redes. Era o sétimo gol de Jair na competição. O placar de 3 a 1 praticamente definia o título a favor do Brasil. [Furacão da Copa: 13 letras]

A seis minutos do fim, o técnico italiano Ferruccio Valcareggi resolveu colocar Rivera, um dos destaques da Azzurra no torneio, no lugar de Boninsegna. O atacante havia sido o autor do gol da classificação na semifinal contra os alemães e, inexplicavelmente, não começou jogando. Um minuto depois da alteração, o Brasil liquidou a fatura. [Rivera no banco: 13 letras]

Jairzinho foi o único jogador a marcar gols em todos os jogos de um time campeão. [Jairzinho sete: 13 letras]

O quarto gol foi uma pintura. Apenas três jogadores não tocaram na bola nos instantes que culminaram no lance: Brito, Everaldo e o goleiro Félix. Da sequência de dribles de Clodoaldo — nenhum deles de calcanhar —, a bola caiu nos pés de Rivellino, que enfiou na ponta para Jairzinho. O ‘Furacão’ cortou para o meio e entregou à Pelé. O Rei dominou com a calma de sempre, ajeitou para a perna direita e, sem ver a posição do companheiro, rolou com açúcar para a chegada de Carlos Alberto. Um chute forte, rasante e indefensável no canto direito do pobre goleiro italiano. 4 a 1: a vitória tinha virado goleada. [Passe sem olhar: 13 letras]

O Brasil de 70 foi a primeira seleção a vencer seis partidas seguidas em uma Copa do Mundo. O próprio Brasil, em 2002, quebraria o recorde, com sete vitórias seguidas. [Chute do "Capita": 13 letras]

O árbitro alemão Rudolf Glöckner nem havia apitado o final da partida e os torcedores — o 12° jogador — já estavam dentro do campo. Brasileiros de sombreiros e sarape (capa grande) e mexicanos com a amarelinha por baixo do peito abraçaram seus ídolos e, não satisfeitos, levaram suas camisas, suas chuteiras e até seus calções. [Pelé só de cueca: 13 letras]

Pelé vestiu três camisas no dia da final. Uma no primeiro tempo, uma no segundo tempo e outra na cerimônia de entrega da taça. [Pelé carregado: 13 letras]

 E para não dizer que a superstição abandonou Zagallo durante a campanha do tri, ela estava presente na famosa marchinha “Pra frente Brasil”, de Miguel Gustavo. “Salve a Seleção” tem treze letras.

O técnico Zagallo é carregado pelos torcedores. [Zagallo e o povo: 13 letras]


Selo comemorativo do tricampeonato, em 1970. [Selo do Correio: 13 letras]