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Um novo dia
amanhecera. Mas, na alvorada de 13 de agosto de 1961, o que menos chamou a
atenção foi o brilho do sol. Pelo contrário: a madrugada fria se perpetuara em
66,5 km de grades de metal, 302 torres de observação, 127 redes metálicas
eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda.
Do dia para noite, uma fronteira que existia apenas na mente se tornou real.
Berlim estava dividida. E não havia como ficar em cima do muro.
O muro foi erguido em pouco mais de 6 horas. Centenas de pessoas morreram tentando atravessar a barreira que separava muito mais que o lado ocidental do lado oriental da cidade. |
A principal divisão
entre o mundo capitalista e o socialista fez de Alemanha Ocidental e Alemanha
Oriental países estrategicamente importantes no período da Guerra Fria, onde os
conflitos ficaram apenas em termos políticos e econômicos. Contudo, em termos
esportivos, as duas Alemanhas chegaram a ficar frente a frente.
Na Copa do
Mundo de 1974, quis o destino que os alemães orientais, em sua primeira e única
participação, caíssem no mesmo grupo dos vizinhos de muro e anfitriões do
torneio. Depois de vencerem Austrália e Chile, as Alemanhas chegaram à rodada
final disputando o primeiro lugar do Grupo A. Mas só uma Alemanha queria
realmente a vitória.
No duelo de Hamburgo,
a Alemanha Ocidental mostrou toda a sua frieza ao abrir mão do resultado — ao que tudo parece — para sair
do caminho de adversários teoricamente mais fortes na segunda fase. O gol de
Jürgen Sparwasser, aos 32min da etapa final, agradou a “gregos e troianos”,
mas não livrou os donos da casa das vaias de sua torcida.
A Copa do Mundo também viu, mais uma vez, o futebol perder para a política. Nas eliminatórias, a forte União Soviética se recusou a disputar o jogo de volta da repescagem no Chile, devido ao recente golpe militar que levou o general Augusto Pinochet ao poder e, consequentemente, à execução de prisioneiros esquerdistas.
No entanto, o
golpe que realmente nocauteou o Mundial foi a ausência de Pelé. O Rei abandonou
a Seleção em 1971, um ano depois de conquistar o tri. Sem Pelé, a Copa de 74
não teve o mesmo brilho. A Seleção Brasileira muito menos.
O Brasil de
74 não foi nem sombra do timaço de 70. Zagallo, ainda técnico da equipe, mesclou
heróis do tri, como Rivellino e Jairzinho, com uma nova geração, comandada pelo
goleiro Leão e o zagueiro Luís Pereira. Mas a falta de entrosamento e o futebol
burocrático fizeram a equipe perder o encanto de quatro anos antes.
O Brasil
abriu a Copa contra a Iugoslávia, em Frankfurt, no dia 13 de junho — a partir de
74, o detentor do título passou a fazer o jogo inaugural. O time da estreia nunca
havia jogado junto antes. Difícil imaginar outro resultado que não o 0 a 0 — o
terceiro consecutivo em aberturas de Mundiais.
O Brasil
voltou a decepcionar na segunda partida, diante da Escócia. Um novo empate por
0 a 0 acrescentou dramaticidade à rodada final do Grupo B. Com o placar de 1 a
1 entre escoceses e iugoslavos, a seleção canarinho precisava vencer o Zaire
por, no mínimo, 3 a 0 para se classificar.
E o mínimo
foi o máximo que a Seleção Brasileira conseguiu fazer. Jairzinho, Rivellino e
Valdomiro, a doze minutos do fim, marcaram os gols. O Brasil se classificou
superando a Escócia no saldo de gols — a novidade do torneio nos critérios de
desempate. Por sua vez, os escoceses se tornaram a primeira seleção a ser
eliminada na primeira fase sem perder um só jogo. Curiosamente, também foi a
única invicta da competição.
Apesar do
belo gol de Rivellino — um torpedo no ângulo —, o lance que marcou a partida Brasil
x Zaire foi obra do zagueiro Ilunga Mwepu. Num ato totalmente incompreensível,
o zairense deixou a barreira e chutou a bola para longe, antes que ela fosse
posta em jogo na cobrança de falta. Os jogadores do Zaire, que haviam ganhado
automóveis e casas por classificar o país para a sua primeira Copa, tiveram
seus prêmios confiscados depois de uma pífia participação — três jogos, três
derrotas, nenhum gol marcado e 14 sofridos.
Outro
estreante saco de pancadas foi o Haiti. Além de perder todas as suas três
partidas, a seleção caribenha protagonizou na Copa de 74 o primeiro caso de
doping por uso de drogas. Na manhã seguinte do anúncio da suspensão de Ernest
Jean-Joseph, seguranças da delegação haitiana acordaram o atleta, levaram-no
para o jardim da concentração e aplicaram-lhe uma bela surra por ter
envergonhado a sua pátria.
Não foi
só o Haiti que decepcionou no Grupo D. A Azzurra venceu sua única partida
contra o próprio Haiti, na estreia, por 3 a 1. Os centro-americanos chegaram a
sair na frente — o gol de Sanon quebrou uma invencibilidade de dois anos e
1.142 minutos de Dino Zoff sem tomar gols —, mas tomaram a virada. Depois
disso, só tropeços: empate contra a Argentina (1 a 1) e derrota para a Polônia
(2 a 1). Em terceiro lugar no grupo, a Itália não se classificou para a fase
seguinte.
Única seleção
com 100% de aproveitamento na primeira fase, a Polônia já havia surpreendido
nas eliminatórias ao eliminar a Inglaterra, em Londres. Liderados por Grzegorz
Lato, os campeões olímpicos de 1972 venceram Argentina (3 a 2), Itália (2 a 1)
e atropelaram o Haiti (7 a 0).
Porém, não foram os poloneses que encantaram o mundo, em 74.
A Copa do Mundo de 74 foi a primeira em que os jogadores usaram número nos calções. Mas isso não explica o futebol nas coxas da seleção italiana na fase de grupos. |
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