Com a queda da monarquia, no fim do século 19, o Rio
de Janeiro, sede da corte, começou a perder espaço para uma pequena cidade, até
então sem nenhuma expressão política, econômica e cultural no Brasil, chamada
São Paulo. A imigração, o café e a industrialização fizeram a cidade crescer e,
em pouco tempo, tornar-se o xodó da recém-nascida república. O tempo passou; do
ressentimento e do orgulho nasceu a rixa. E como toda rivalidade que se preze, ela
chegou ao futebol.
A primeira Copa do Mundo estava para começar, mas CBD
(atual CBF) e Apea (a Federação Paulista da época) não se entendiam de jeito
nenhum. O motivo era simples: a entidade que regia o futebol não colocara entre
os membros da comissão técnica que iria a Montevidéu sequer um integrante
paulista. Em represália, a Associação Paulista de Esportes Atléticos se recusou
a liberar à CBD os jogadores que atuavam em clubes paulistas. Entre eles, os
craques Friedenreich e Feitiço.
Resultado: em 29 de junho de 1930, a Seleção
Brasileira embarcou no navio ‘Conte Verde’ com um grupo de atletas quase que
exclusivamente formado por jogadores do Rio de Janeiro – à exceção era o
paulista Araken Patuska, que estava sem clube. No barco também estavam Jules
Rimet e a taça, e a Seleção mal sabia que demoraria muito tempo para chegar
perto dela outra vez.
Enfraquecido, o Brasil estreou na Copa no dia 14 de
julho, contra a Iugoslávia. Não deu outra: derrota por 2 a 1. No entanto, a
notícia foi comemorada nas ruas de São Paulo. A torcida paulista chegou a fazer
o enterro simbólico da CBD, atirando um caixão de papelão no Viaduto do Chá.
O Brasil voltou a campo no dia 20, contra a Bolívia,
já eliminado. Três dias antes, a Iugoslávia havia vencido a mesma Bolívia, por
4 a 0, e só o campeão do grupo se classificava. O Brasil repetiu o placar e
venceu com dois gols de Moderato e dois de Preguinho, mas pouco aliviou o
vexame da eliminação precoce.
Um mês depois da Copa, a Seleção enfrentou na capital
fluminense três equipes que voltavam de navio de Montevidéu: França, Estados
Unidos e a algoz Iugoslávia. Contando com força máxima (cariocas e paulistas),
o Brasil superou a França por 3 a 2; os EUA, por 4 a 0; e a Iugoslávia, por 4 a
1. No ano seguinte, em mais um amistoso no Rio, o Brasil venceu o Uruguai,
campeão do mundo, por 2 a 0.
Depois de aprenderem a lição, cariocas e paulistas
transferiram a rivalidade da Seleção para os clubes. Em 1933, criaram o Torneio
Rio-São Paulo, um interestadual apenas para times dos dois Estados. Em 1950, a
disputa passou a ser anual. Em 1967, foi ampliado e deu origem ao Campeonato
Brasileiro.
Hoje, o ídolo mais recente da maior torcida paulista é carioca, sugerindo que a política da boa vizinhança ganhou do próprio umbigo. E que umbigo.
Hoje, o ídolo mais recente da maior torcida paulista é carioca, sugerindo que a política da boa vizinhança ganhou do próprio umbigo. E que umbigo.