Agonia, tensão,
nervos a flor da pele. Sentimentos comuns numa partida decisiva, ainda mais em
se tratando de Copa do Mundo. No entanto, foi assim que Ángel Di María se sentiu em 22 de
abril de 2013, muito antes do confronto contra os suíços. Mía, sua
filha, nasceu prematura com apenas seis meses, sofreu complicações e, ao
contrário do que a natureza manda, seguiu diretamente para a UTI, e não para os
braços da mãe. Foram dois meses angustiantes, até que a menina teve alta.
Pouco mais de um
ano depois, lá estava Mía, com a mãe Jorgelina, nas cadeiras brancas da Arena
Corinthians. Mas, dessa vez, não era ela a razão da aflição no semblante de Di
María. A Suíça havia restabelecido o "ferrolho" e estava levando a
partida para a prorrogação.
Jogando mal, a
Argentina viu uma Suíça beirando a perfeição na defesa e traiçoeira nos contra-ataques.
Contudo, as melhores oportunidades caíram nos pés sem competência de Drmić. Depois
de Romero, no primeiro tempo, foi a vez de Benaglio fazer nome na etapa
complementar. As subidas de Rojo deram uma opção a mais para os hermanos, mas as finalizações quase sempre paravam nas mãos do arqueiro suíço. O
goleiro continuou mostrando serviço no tempo extra, nos chutes de Messi,
Di María e quem mais quisesse testá-lo.
O relógio já
apontava 13 do segundo tempo da prorrogação quando a bola caiu no pé de Messi.
Apagado, ele partiu com ela, saiu do carrinho de Shaqiri e deu um tapa de lado para
Di María, que ainda teve de esperar Higuaín, perdido no lance, sair da frente.
O chute de canhota saiu colocado, rasteiro, num lance muito parecido com o gol
de Rivaldo em 2002 contra a Inglaterra. Era o gol salvador.
Di María correu para
a torcida e procurou nas
cadeiras aquelas que com as mãos ele mostrava todo o seu amor. Achou, e foi
logo submerso num mar de jogadores que pularam sobre ele. Naquele momento, a
Argentina viu o quanto é refém de seu(s) craque(s).
O suíço
Dzemaili ainda tentou estragar a festa com uma cabeceada na trave no minuto seguinte, mas a sorte estava com os platinos: a bola voltou na perna do jogador e
saiu. Ainda houve tempo para uma cobrança de falta de Shaqiri na meia-lua da grande área. O susto virou festa com a bola parando na barreira. Era o adeus heroico dos helvéticos.
Se em 2013 Di María
voltou para casa com o colo vazio pela ausência de sua filha, em 2014 a torcida
argentina passou a carregá-lo nos braços, ao lado de seu filho predileto:
Messi. A Argentina está nas quartas. Para a alegria da pequena Mía.