domingo, 20 de abril de 2014

1970 | O 13° Jogador

Para ler o texto anterior, "Um Passo na Meia-Lua", clique aqui.


O número 13 sempre teve um significado especial nas mais diferentes culturas. Na maioria delas, o algarismo é associado ao azar. Em muitos países o 13 não aparece escrito nos andares de prédios, nos assentos de teatro e nas plataformas de trem. A fobia do 13 está presente em todos os segmentos: no tarô, o 13 é o número do arcano “A Morte”; na fórmula 1, não existia o carro n° 13 até o ano passado; e na política, 13 é o número eleitoral de um certo partido malfadado. No entanto, a superstição em torno do número atômico do alumínio é antiga, vinda dos tempos da Santa Ceia, quando Jesus e seus doze apóstolos (treze pessoas) sentaram-se à mesa pela última vez.

O mais emblemático símbolo do mau agouro trazido pelo dígito é a sexta-feira 13. A culpa seria do rei da França, Filipe IV, que, no século XIV, amaldiçoou a data ao torturar até a morte a Ordem dos Cavaleiros Templários, a qual julgava ilegal. Mas não é preciso voltar tanto na história para achar um mau presságio relacionado ao dia. Em 1968, o AI-5, o mais duro e cruel decreto da ditadura militar, foi baixado em uma sexta-feira 13. Existe, porém, quem venere o número. O caso mais conhecido é de Zagallo.

A crendice de Zagallo nasceu graças à esposa, devota de Santo Antônio, celebrado justamente no dia 13 (de junho).

Mario Jorge Lobo Zagallo casou-se no dia 13, mora no 13° andar e a vida toda dirigiu um carro com a placa 1313 — muito provavelmente o mesmo dígito de suas senhas bancárias. O ex-jogador e ex-técnico da Seleção Brasileira sempre cultivou uma relação toda especial com o algarismo, associando o 13 ao número de letras de determinadas palavras em seus sucessos no futebol (por exemplo, “Zagallo + título” somam treze letras). Em 1970, Zagallo se tornou o primeiro treinador a ser campeão mundial após conquistar o título como jogador. Um feito mais por competência do que por superstição.

Ao assumir o cargo, a três meses da Copa, Zagallo transformou as “feras de Saldanha” em um time de futebol. Félix se firmou como titular, Piazza passou à quarto-zagueiro, Clodoaldo virou volante e Everaldo ganhou a vaga de Marco Antônio na lateral-esquerda. Na última partida antes da viagem para o México, em abril, contra a Áustria, no Maracanã, Rivellino recebeu de Zagallo a camisa 11. E fez o gol da vitória, por 1 a 0. [Rivellino onze: 13 letras]

Nos vestiários, após a partida, o zagueiro Brito armou uma armadilha para cortar o bigode de Rivellino. Mas desistiu depois que Riva implorou para que não o cortasse. [bigode poupado: 13 letras]

A campanha de seis vitórias, com altos e baixos, mostrou o problema do treinador em escalar o mesmo time duas vezes seguidas. Devido a contusões no decorrer do torneio, apenas na final Zagallo conseguiu manter a escalação da partida anterior — no caso, a semifinal contra o Uruguai. [equipe mantida: 13 letras]

O duelo do dia 21 de junho, na Cidade do México, não era apenas a decisão de um título mundial. Os bicampeões Brasil e Itália lutavam pela posse definitiva da taça Jules Rimet. O Brasil esperava por esse momento desde 1962, no Chile. A Itália há mais tempo: desde 1938, na França. Somente o vencedor teria o direito de levar o troféu para casa. [Brasil campeão: 13 letras]

Se a final terminasse empatada no tempo normal e na prorrogação, a decisão do título iria para... sorteio! Isso mesmo. O jogo-desempate já não existia mais no regulamento das Copas do Mundo e a disputa de pênaltis ainda não havia sido adotada em Mundiais. [título na moeda: 13 letras]

A Itália estava invicta havia 18 partidas. Sua última derrota acontera em abril de 1968, contra a Bulgária (3 a 2), pelas eliminatórias da Eurocopa. Entretanto, a campanha na fase de grupos do Mundial tinha sido sofrível: dois empates sem gols, com Uruguai e Israel, e uma vitória magra sobre a Suécia (1 a 0). Só a partir das quartas, na goleada por 4 a 1 sobre o México, a Azzurra passou a jogar o futebol que a credenciou entre as favoritas. [Itália invicta: 13 letras]

Invicta, mas cansada. A seleção italiana vinha de uma desgastante semifinal contra os alemães, que exigiu muito dos jogadores. Antes da final, o capitão Facchetti chegou a declarar que enfrentar o Brasil depois da batalha contra a Alemanha Ocidental era um castigo. “Se vencermos poderemos realmente nos considerar os melhores do mundo, já que teremos derrotado Pelé e Beckenbauer”, completou o zagueiro. [Itália cansada: 13 letras]

Quando as equipes subiram ao gramado do estádio Azteca, a surpresa foi geral. O goleiro Félix, pela primeira vez na Copa, vestia luvas. Alguns jogadores mais superticiosos tentaram convencê-lo a tirar o acessório, mas o arqueiro foi enfático: “Não. Vou mostrar que eu também sei jogar com luvas”. Aparentemente, o técnico Zagallo havia aprovado a atitude do goleiro. [Félix com luvas: 13 letras]

Apesar de não gostar do acessório, Félix foi o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas em uma Copa do Mundo. A atitude era uma afronta à imprensa que o criticava. [crítica à Félix: 13 letras]

O predomínio do Brasil foi absoluto desde o pontapé inicial. O primeiro gol saiu aos 18min, numa cobrança de lateral de Tostão. Rivellino alçou a bola na área e Pelé, contrariando a lei da gravidade, voou mais alto que o zagueiro Burgnich para, de cabeça, fazer 1 a 0. A mágica capacidade do Rei em permanecer no ar o tempo que quisesse impressionou o capitão italiano Facchetti. [Pelé parou no ar: 13 letras]

Pelé marca o primeiro. Na tribuna do estádio Jalisco, em Guadalajara, uma placa homenageia o Rei, citando-o como um exemplo a ser seguido pela juventude. [Pelé no Jalisco: 13 letras]

A superioridade brasileira era tanta que o time acabou relaxando. Aos 37min, Brito passou a bola de cabeça até Clodoaldo, que tentou um toque de calcanhar e entregou de bandeja para Boninsegna. O atacante italiano ganhou a dividida com Brito e Félix, e, com o gol aberto, empatou a partida. Um erro impressionante que tirou Zagallo do sério. [Bobeada da zaga: 13 letras]

O ‘sacode’ no intervalo deu resultado. O Brasil voltou arrasador no segundo tempo. Aos 21min, Jairzinho tentou avançar pelo meio e foi desarmado. A bola sobrou para Gérson, que dominou e, de fora da área, mandou uma bomba de esquerda, sem a menor chance para Albertosi. [Canhota de Ouro: 13 letras]

Apesar das grandes atuações no Mundial, o Canhota só marcou seu primeiro — e único — gol na final da Copa. [bomba de Gérson: 13 letras] 

Quatro minutos depois, Gérson voltou a brilhar. O Canhota lançou do meio-campo na cabeça de Pelé, dentro da área. O Rei ajeitou para a chegada de Jairzinho, que dominou na coxa e, de leve, empurrou para o fundo das redes. Era o sétimo gol de Jair na competição. O placar de 3 a 1 praticamente definia o título a favor do Brasil. [Furacão da Copa: 13 letras]

A seis minutos do fim, o técnico italiano Ferruccio Valcareggi resolveu colocar Rivera, um dos destaques da Azzurra no torneio, no lugar de Boninsegna. O atacante havia sido o autor do gol da classificação na semifinal contra os alemães e, inexplicavelmente, não começou jogando. Um minuto depois da alteração, o Brasil liquidou a fatura. [Rivera no banco: 13 letras]

Jairzinho foi o único jogador a marcar gols em todos os jogos de um time campeão. [Jairzinho sete: 13 letras]

O quarto gol foi uma pintura. Apenas três jogadores não tocaram na bola nos instantes que culminaram no lance: Brito, Everaldo e o goleiro Félix. Da sequência de dribles de Clodoaldo — nenhum deles de calcanhar —, a bola caiu nos pés de Rivellino, que enfiou na ponta para Jairzinho. O ‘Furacão’ cortou para o meio e entregou à Pelé. O Rei dominou com a calma de sempre, ajeitou para a perna direita e, sem ver a posição do companheiro, rolou com açúcar para a chegada de Carlos Alberto. Um chute forte, rasante e indefensável no canto direito do pobre goleiro italiano. 4 a 1: a vitória tinha virado goleada. [Passe sem olhar: 13 letras]

O Brasil de 70 foi a primeira seleção a vencer seis partidas seguidas em uma Copa do Mundo. O próprio Brasil, em 2002, quebraria o recorde, com sete vitórias seguidas. [Chute do "Capita": 13 letras]

O árbitro alemão Rudolf Glöckner nem havia apitado o final da partida e os torcedores — o 12° jogador — já estavam dentro do campo. Brasileiros de sombreiros e sarape (capa grande) e mexicanos com a amarelinha por baixo do peito abraçaram seus ídolos e, não satisfeitos, levaram suas camisas, suas chuteiras e até seus calções. [Pelé só de cueca: 13 letras]

Pelé vestiu três camisas no dia da final. Uma no primeiro tempo, uma no segundo tempo e outra na cerimônia de entrega da taça. [Pelé carregado: 13 letras]

 E para não dizer que a superstição abandonou Zagallo durante a campanha do tri, ela estava presente na famosa marchinha “Pra frente Brasil”, de Miguel Gustavo. “Salve a Seleção” tem treze letras.

O técnico Zagallo é carregado pelos torcedores. [Zagallo e o povo: 13 letras]


Selo comemorativo do tricampeonato, em 1970. [Selo do Correio: 13 letras]