terça-feira, 10 de junho de 2014

Grupo C | Japão

Japoneses & 'Zico'neses




Há duas décadas, dizer que a seleção japonesa seria a mais bem sucedida do futebol asiático seria pretensão demais. Hoje, pode-se dizer isso com total confiança. O Japão participou das últimas quatro Copas das Confederações — por ser o campeão do continente —, e isso se deve muito à garra brasileira no Oriente.

O amor dos nipônicos pelo futebol tupiniquim nasceu em 1981, quando o Mundial Interclubes foi conquistado pelo Flamengo, e Zico, eleito o melhor em campo.  Dez anos depois, o Galinho foi convidado a voltar a jogar futebol pelo clube do Sumitomo, na temporada de 1991, ficando no Kashima Antlers até 1994. Uma estátua de Zico no Kashima Soccer Stadium demonstra o quanto ele é venerado — um herói nacional. Desde então, o futebol foi tomando gosto no país do beisebol e do golfe.

Jogo para videogame lançado em 94, após a saída de Zico.
A evolução do Japão no futebol começou no banco, com a chegada de técnicos estrangeiros e filosofias ocidentais, muito bem aceitas pelos orientais. Zico foi um deles, e comandou os "Samurais Azuis" na Copa de 2006, inclusive contra o Brasil. "Foi uma questão de retribuição pelo que o Kashima e todo o Japão fizeram por mim", explicou ao assumir o cargo.

Em 2010, o técnico italiano Alberto Zaccheroni chegou com uma nova filosofia, trazida da brilhante campanha da Udinese, terceira colocada na Série A de 1997/98, a qual treinara. Foi o casamento perfeito entre a inteligência estratégica italiana e a a disciplina tática japonesa. No ano seguinte, o Japão conquistou a Copa da Ásia, no Qatar.

O time que vai à Copa é composto de atletas não somente reconhecidos no Japão, mas principalmente por estrelas internacionais que jogam em importantes ligas de outros países: no belga Royal Standard de Liège (Eiji Kawashima); nos alemães VfB Stuttgart (Gotoko Sakai), Hannover (Hiroki Sakai) e Schalke-04 (Atsuto Uchida); nos italianos Milan (Keisuke Honda) e Internazionale (Yuto Nagatomo) e nos ingleses Southampton (Maya Yoshida) e  Manchester United (Shindi Kagawa). Isso sem contar outras equipes estrangeiras de menor expressão.

ESSES CONHECEM: Honda e Kagawa são os motorzinhos do time japonês. Armam, passam e finalizam.


















Independentemente dos resultados em campo, a seleção japonesa já considera uma honra atuar no país do futebol. Mais do que isso: no país de Zico — o sonho de qualquer atleta oriental que se autodenomina 'zico'nês de coração.

FIQUE DE OLHO: Yoichiro Kakitani foi um dos destaques da J-League e ganhou uma chance no ataque depois de marcar na vitória de 3 a 2 sobre a Bélgica, no amistoso no fim de 2013.



















NO ESQUEMA: 4-2-3-1

No esquema de Zaccheroni, Kagawa e Honda são os articuladores da equipe e também os principais responsáveis pelas finalizações. Os laterais têm liberdade, mas a obediência tática os impede de maiores arrojos.


4-2-3-1 (clique para ampliar)





















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Henrique Oti Shinomata,
médico e apaixonado por futebol



Grupo C | Grécia

Heróis e o 'Mito'





A torcida helênica é considerada uma das mais fanáticas do mundo. Clubes como Olympiakos, Panathinaikos e PAOK costumam levar multidões aos estádios e sua presença em competições europeias é constante. Nesta temporada, por muito pouco, o mais popular deles, o Olympiakos, não eliminou o Manchester United da UEFA Champions League. Entretanto, é importante ressaltar que clubes tradicionais de Atenas e Salônica, como AEK, Iraklis e Aris, encontram-se em crise, disputando o Campeonato Nacional em divisões inferiores.

Um torcedor maldoso diria que a proposta da Grécia no futebol é fazer deste um esporte chato. Isso porque a estratégia alvianil passa por se fundamentar em um sistema de defesa dos mais sólidos, com pouca criatividade ofensiva, propensa a impedir que o jogo do adversário se desenvolva a qualquer custo. Ciente de suas limitações, as esperanças da seleção grega passam, em primeiro lugar, por tomar a menor quantidade possível de gols, e, eventualmente, conseguir anotar um ou outro na frente.

Jogadores gregos comemoram a classificação para a Copa se jogando no gramado do Karaiskakis Stadium, em Piraeus, depois de vencerem a Romênia por 3 a 1 no mata-mata europeu.

















Historicamente, pode se dizer que a Grécia aproveitou a única oportunidade que teve para alcançar um título de expressão, a Euro 2004. Como azarão, se aproveitou de más atuações das favoritas e de oportunismo para superar os anfitriões portugueses. Um festival de 2 a 1 e 1 a 0. Resultados bem ao seu molde.

A estreia grega em Copas se deu somente em 1994, nos Estados Unidos. Contra Nigéria, Bulgária e Argentina tomou dez gols, incluindo o último de Diego Maradona em Mundiais, eternizado por sua comemoração em frente às câmeras. Por sua vez, não fez nenhum tento.

Voltou apenas em 2010. Em seu caminho, Argentina e Nigéria novamente. Dessa vez, porém, conseguiu seu primeiro êxito, batendo os africanos por 2 a 1. Uma esperada derrota para os platinos e outra para os sul-coreanos, ambas por 2 a 0, decretaram a despedida da Ethniki.

Sorte é outro aspecto que pode colocar na conta do time mediterrâneo. Nas Eliminatórias para 2014, conquistou a segunda colocação no certamente mais fácil dos grupos, com Bósnia e Herzegovina (primeira colocada), Eslováquia, Lituânia, Letônia e Liechtenstein. Na repescagem continental, encarou a hoje fraca Romênia, num dos melhores cruzamentos possíveis.

ESSE CONHECE: O atacante Konstantinos Mitroglou, o "Mito", para os íntimos, é a esperança de gols numa equipe recheada de jogadores defensivos. Marcou 3 gols nos confrontos com a Romênia. 



















No Brasil, uma vez mais, a Grécia entra num grupo palatável. Longe de ser favorita, é verdade. Colômbia, mesmo sem Falcao García, Costa do Marfim e até mesmo o Japão podem ser consideradas seleções melhores. Mas, paradoxalmente, a força de sua defesa pode fazer com que um ou outro 1 a 0 sejam possíveis. Além disso, o equilíbrio do grupo enseja a análise de que uma classificação ao mata-mata não deve necessariamente ser encarada como algo surpreendente.
         
À disposição do técnico português Fernando Santos, grande conhecedor do futebol local, alguns nomes de destaque. Um time experiente, com os intermináveis meias Katsouranis, do PAOK, e Karagounis, do Fulham, e uma atenção toda especial ao bom zagueiro Torosidis, da Roma. Pelo lado esquerdo, o greco-uruguaio nascido na Alemanha, Holebas, do Olympiakos, destaca-se como um grande adepto do futebol-pancada.

Ainda há o ataque traiçoeiro com o carequinha Salpingidis, do PAOK, e Mitroglou, do Fulham. Existe também a possibilidade da entrada do desajeitado Samaras, do Celtic. Mas aí é que os gregos não irão se desprender, nem por um momento sequer, de sua proposta de defesa total, proporcionando, ao mesmo tempo, alguns dos jogos mais enfadonhos do torneio.

Se depender da tradição, os heróis virarão mitos, e o Mito será o artilheiro de um lance só.


FIQUE DE OLHO: o zagueiro Vasilios Torosidis terá a dura missão de parar o marfinense Drogba, o japonês Kagawa e o colombiano Jaime Rodríguez. Um bom desafio para o bom zagueiro da Roma. 






















NO ESQUEMA: 4-5-1

Variando o 4-4-2 para um 4-5-1, o técnico Fernando Santos prioriza a proteção de sua defesa. Samaras e Salpingidis, abertos, cumprem também funções defensivas. No fim das contas, o atacante Mitroglou é um oásis em meio a tantos marcadores.


4-5-1 (clique para ampliar)


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Adriano 'Carica',
sofredor, torcedor do Vasco e da Lusa, se acha o mais paulista dos cariocas





Grupo C | Costa do Marfim

Yaya + 9... e Didier





A Costa do Marfim teve sua independência proclamada em 1958, um mês e meio depois de o Brasil se sagrar campeão do mundo na Suécia. Assim como a seleção de Vicente Feola, em que Pelé e Garrincha buscavam reconhecimento, a Costa do Marfim quer recuperar o seu prestígio — guardadas as devidas proporções —, depois de duas Copas do Mundo tida como sensação, mas que sequer passou da fase de grupos. Para isso, conta com o craque Yaya Touré, campeão inglês pelo Manchester City, em seu terceiro Mundial.

"Se formos a qualquer lugar na África as pessoas vão dizer que conhecem Messi, mas o mesmo não acontece na Europa quando alguém pergunta por Yaya Touré. As pessoas vão perguntar quem é esse“, questionou o meia em uma entrevista dada recentemente. Yayá Touré carregou o esquadrão celeste de Manchester para um título disputadíssimo na Inglaterra. Ele é certamente o principal jogador do time, repleto de estrelas como o espanhol David Silva e o argentino Kun Agüero. O meia clássico marfinense é provavelmente candidato à figurar na seleção da Copa em sua posição.


ESSE CONHECE: Yaya Touré foi nomeado embaixador do Pnuma, o Programa da ONU para o Meio Ambiente, que luta contra a caça ilegal de marfim no país. 


















Yayá Touré terá o apoio de seu irmão, Kolo Touré, o bom zagueiro do Liverpool, que teve excelente passagem pelo Arsenal de Arsene Wenger, quando Kolo chegou a ser mais famoso que o irmão Yayá. A equipe marfinense ainda conta com o rápido e habilidoso atacante Gervinho, da Roma, que no início de carreira foi levado como grande sensação do futebol africano ao Arsenal — de Wenger. Ao seu lado no ataque, ninguém menos que Didier Drogba.

Drogba, indubitavelmente, é o principal jogador da história da Costa do Marfim. No estilo Serginho Chulapa, Didier foi um dos principais centroavantes da história do Chelsea, e um dos melhores do futebol mundial na última década. Aos 36 anos, Didier Drogba atua no Galatasaray da Turquia. Com Gervinho, forma um ataque de muito respeito.



DESPEDIDA. Em seu, provavelmente, último Mundial,  Didier Drogba quer aproveitar a ausência de favoritos ao título no grupo para levar a Costa do Marfim pela primeira vez à segunda fase de uma Copa.


























A ausência é Emmanuel Eboué, jogador experiente de 30 anos — um bom lateral-direito, com atuação marcante pelo Arsenal. Com mais de 80 partidas pela seleção foi cortado pelo técnico Sabri Lamouchi por razões técnicas desconhecidas.

A Costa Do Marfim está se preparando em Águas de Lindóia, interior de São Paulo, e tem tudo para ser o time africano sensação da Copa, ao lado de Gana. Os marfinenses estão no grupo C, com Colombia, Grécia e Japão. É o time mais forte do grupo, principalmente depois do corte de Falcao Garcia na seleção colombiana.

Mas favoritismo é uma palavra riscada do vocabulário do técnico Lamouchi. Utilizada insistentemente nos últimos anos, só trouxeram maus resultados. Além de jamais ter passado da fase de grupos em uma Copa do Mundo, a Costa do Marfim não conquista o título continental há 22 anos.



FIQUE DE OLHO: com 17 gols em 34 partidas na última Premier League, Wilfried Bony, do Swansea, é considerado o sucessor de Drogba na seleção.




















NO ESQUEMA: 4-2-3-1

A Costa do Marfim é ousada só do meio para frente. Os zagueiros pouco se movimentam, os volantes são fixos e os laterais pouco sobem. Tudo isso para Yaya Touré ter toda a liberdade de criar as jogadas de ataque.



4-2-3-1 (clique para ampliar)























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João Luiz Ferreira,
empresário e adepto do futebol moleque, curte Copa desde 86



Grupo C | Colômbia

#naovaiterfalcao





Dezesseis anos após disputar sua última Copa do Mundo, a Colômbia classificou-se em segundo lugar nas Eliminatórias sul-americanas para o Mundial do Brasil, ficando apenas dois pontos atrás da líder Argentina. O consenso no país é que essa é a melhor geração de jogadores desde a badalada seleção de Valderrama, Rincón, Asprilla e Cia. Aquele time aplicou a maior goleada já sofrida pela Argentina jogando em casa, durante as Eliminatórias de 1993, mas fracassou logo na primeira fase da Copa dos EUA.

A equipe de 20 anos atrás gerou tanta expectativa que foi considerada por Pelé como a favorita para aquela Copa. A decepção foi tamanha que no ano passado houve uma divertida campanha contra as desastradas previsões do Rei do Futebol.




Em relação ao time atual, a principal dificuldade será substituir o craque Falcao García. Um dos melhores atacantes do mundo, a estrela do Monaco não se recuperou de uma lesão sofrida durante o Campeonato Francês e foi cortado da lista dos selecionados.

Mesmo assim, trata-se de um time rápido e ofensivo, que conta com um meio de campo talentoso com Guarín (Internazionale), James Rodríguez (Monaco) e o artilheiro Jackson Martínez (Porto). Outra arma do time são os laterais Armero (ex-Palmeiras) e Zuñiga, que têm boa chegada ao ataque e, assim como toda a equipe, ajudam na marcação quando o time perde a bola e na recomposição. Além disso, o técnico argentino José Pekerman tem uma defesa confiável, com zagueiros seguros como Cristian Zapata (Milan) e o veterano Yepes.

ESSE CONHECE: James Rodríguez foi vice-campeão francês pelo Monaco — time do compatriota Falcao — e eleito um dos melhores do torneio em sua posição. Deverá ser o protagonista da Colômbia nesta Copa.





























Os adversários no Grupo C, do qual a Colômbia é cabeça-de-chave, são Grécia, Costa do Marfim e Japão. Em teoria, Los Cafeteros, como é conhecido o selecionado colombiano — apesar de o Brasil produzir mais e melhores cafés que a Colômbia —, não devem ter dificuldades para avançar de fase.

A partir das oitavas, porém, será a hora de provar que a equipe é capaz de dar voos altos sem Falcao. O caminho colombiano no mata-mata começa com um provável confronto contra Itália, Inglaterra ou Uruguai. Passando, nas quartas pode aparecer Espanha ou Holanda ou... Brasil.

FIQUE DE OLHO: Se entrar em campo, o goleiro Faryd Mondragón, que completará 43 anos dia 21 de junho, será o jogador a mais velho a participar de uma Copa do Mundo. Ele superará o camaronês Roger Milla, que, aos 42 anos, jogou a Copa de 1994, nos Estados Unidos.  
























NO ESQUEMA: 4-4-2


O tradicional esquema com dois zagueiros e dois volantes clássicos faz do time de Pékerman uma equipe forte na marcação, e que tem em James Rodríguez a saída, com qualidade, para o ataque.


4-4-2 (clique para ampliar)




















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Renato Dias,
fazendeiro, mora em São Paulo e produz camisetas sobre futebol em www.sagradomanto.com