A última — agora penúltima — classificação
argentina para uma semifinal de Copa do Mundo é tão antiga que o país derrotado,
a Iugoslávia, já não existe mais. Naquela tarde de 30 de junho de 1990, em
Florença, na Itália, Goycochea se consagrou como pegador de pênaltis e Maradona desperdiçou a sua cobrança. Nesses 24 anos, a
Argentina colecionou tudo, menos títulos: um vice-campeonato (1990), quebras de
favoritismo (1994 e 1998), vexame na primeira fase (2002), duas eliminações
para a Alemanha (2006 e 2010) e muitas polêmicas (cabelos compridos e suspensões
por doping, entre outras). Desta vez, superou tudo isso. É um time sem egos,
unido pelo silêncio dos treinamentos e com um futebol de encher os olhos,
apesar da escassez de gols. E, claro, tem Messi em grande fase.
Nas comparações entre
o 10 atual (Lionel) e o 10 divino (Diego), a partida contra a Bélgica, em Brasília, era encarada
como uma reedição da semifinal de 86, quando o mundo assistiu à melhor fase de
Maradona — o Pibe marcou os dois gols na vitória por 2 a 0. Tempos distintos em
que um único jogador poderia decidir uma partida, até mesmo uma Copa do Mundo.
Messi chegou a esboçar igual capacidade em levar sozinho a alviceleste neste
Mundial com lances geniais na primeira fase, mas aos poucos o time até então refém
do camisa 10 mostrou a força de seu elenco. Di María decidiu contra a Suíça e,
depois, foi a vez de Higuaín.
Gonzalo Higuaín não
marcava pela seleção argentina há 83 dias. Mas foram preciso só oito minutos
para o atacante do Napoli acabar com a seca de gols. O passe de Messi era para Zabaleta,
mas acabou desviado por Vertonghen e caiu no jeito para o arremate de
"Pipo", de primeira, na entrada da área. O gol logo no começo abateu a equipe belga, que
pouco ameaçou na primeira etapa.
O segundo tempo não
foi diferente. Bem postada na defesa, a Argentina não viu Hazard, De
Bruyne ou Mertens chegarem perto do gol de Romero. Messi teve a chance de
deixar a sua marca contra os belgas, mas mais uma vez parou em Courtois. Na
última temporada europeia, o goleiro do Atlético de Madrid enfrentou quatro
vezes o atacante do Barcelona, e além de não perder nenhum jogo, levou apenas
dois gols — nenhum deles de Messi. Por isso, quando defendeu o chute
do craque nos acréscimos, o goleiro comemorou muito. Pena que, pouco depois, a geração de ouro da
Bélgica disse adeus; mas prometendo voltar mais forte em 2018.
A classificação argentina
também encerrou outro jejum. Desde 1970 que dois sul-americanos não chegavam à
semifinal. Naquela ocasião, o Brasil eliminou o Uruguai. Agora, os vizinhos
estão em lados opostos da tabela, e só podem se encontrar na decisão — do título ou do terceiro lugar. Façam suas apostas.