terça-feira, 8 de julho de 2014

4° de Final | O Retorno dos Hermanos













A última — agora penúltima — classificação argentina para uma semifinal de Copa do Mundo é tão antiga que o país derrotado, a Iugoslávia, já não existe mais. Naquela tarde de 30 de junho de 1990, em Florença, na Itália, Goycochea se consagrou como pegador de pênaltis e Maradona desperdiçou a sua cobrança. Nesses 24 anos, a Argentina colecionou tudo, menos títulos: um vice-campeonato (1990), quebras de favoritismo (1994 e 1998), vexame na primeira fase (2002), duas eliminações para a Alemanha (2006 e 2010) e muitas polêmicas (cabelos compridos e suspensões por doping, entre outras). Desta vez, superou tudo isso. É um time sem egos, unido pelo silêncio dos treinamentos e com um futebol de encher os olhos, apesar da escassez de gols. E, claro, tem Messi em grande fase.





















Nas comparações entre o 10 atual (Lionel) e o 10 divino (Diego), a partida contra a Bélgica, em Brasília, era encarada como uma reedição da semifinal de 86, quando o mundo assistiu à melhor fase de Maradona — o Pibe marcou os dois gols na vitória por 2 a 0. Tempos distintos em que um único jogador poderia decidir uma partida, até mesmo uma Copa do Mundo. Messi chegou a esboçar igual capacidade em levar sozinho a alviceleste neste Mundial com lances geniais na primeira fase, mas aos poucos o time até então refém do camisa 10 mostrou a força de seu elenco. Di María decidiu contra a Suíça e, depois, foi a vez de Higuaín.

Gonzalo Higuaín não marcava pela seleção argentina há 83 dias. Mas foram preciso só oito minutos para o atacante do Napoli acabar com a seca de gols. O passe de Messi era para Zabaleta, mas acabou desviado por Vertonghen e caiu no jeito para o arremate de "Pipo", de primeira, na entrada da área. O gol logo no começo abateu a equipe belga, que pouco ameaçou na primeira etapa.




















O segundo tempo não foi diferente. Bem postada na defesa, a Argentina não viu Hazard, De Bruyne ou Mertens chegarem perto do gol de Romero. Messi teve a chance de deixar a sua marca contra os belgas, mas mais uma vez parou em Courtois. Na última temporada europeia, o goleiro do Atlético de Madrid enfrentou quatro vezes o atacante do Barcelona, e além de não perder nenhum jogo, levou apenas dois gols — nenhum deles de Messi. Por isso, quando defendeu o chute do craque nos acréscimos, o goleiro comemorou muito. Pena que, pouco depois, a geração de ouro da Bélgica disse adeus; mas prometendo voltar mais forte em 2018.

A classificação argentina também encerrou outro jejum. Desde 1970 que dois sul-americanos não chegavam à semifinal. Naquela ocasião, o Brasil eliminou o Uruguai. Agora, os vizinhos estão em lados opostos da tabela, e só podem se encontrar na decisão — do título ou do terceiro lugar. Façam suas apostas.





















4° de Final | Quem Não Chora Não Mama













Tal qual uma criança no colo da mãe, o Castelão embalou a Seleção. As cadeiras brancas foram tomadas pela febre amarela — a brasileira —, e o público se empenhou em empurrar os filhos da pátria dentro de campo. Sob uma nova canção de ninar, os mais de 60 mil torcedores entoaram "o Brasil vai ser campeão", e viram a seleção canarinho resumir o primeiro tempo em uma única palavra: massacre.

O Brasil começou a partida com a mesma intensidade que marcou a campanha vitoriosa na Copa das Confederações de 2013. A equipe sufocou a Colômbia em seu próprio campo e nem mesmo a boa fase dos sul-americanos foi capaz de equilibrar as ações. Aos 7, Neymar cobrou escanteio e a bola passou por todo mundo na pequena área; menos por Thiago Silva, que com o joelho botou para dentro. De jogador abalado e sentado sobre a bola para capitão aguerrido, Thiago apontou para o próprio peito e gritou "aqui é Brasil". E como era.






















Porém, no segundo tempo, o capitão bobeou. Ao atrapalhar a reposição de bola de Ospina, tomou o seu segundo cartão amarelo no torneio, que o tirou da semifinal e tirou Felipão do sério. Mas logo o técnico brasileiro voltou a sorrir. E que sorriso. David Luiz correu para a cobrança de falta com seus pés "dez para as duas" e bateu com extrema categoria. Ospina e a bola voaram ao mesmo tempo, mas a Brazuca, com efeito, foi mais rápida que o goleiro colombiano. Na comemoração, o zagueiro deixou claro que não há quem assimile mais o calor da torcida do que ele.





















Foi aí que a Colômbia acordou. O até então melhor futebol da Copa ainda tinha o que mostrar. Depois do gol anulado de Yepes, impedido, o jogo virou um drama. A dez do fim, Maicon cometeu seu único erro na partida e, com um passe errado, armou o contragolpe colombiano. Bacca foi derrubado na área por Julio Cesar, James bateu e fez seu sexto gol no Mundial. Com a bola debaixo do braço e um gafanhoto no ombro, o craque cafetero correu para o centro do campo literalmente carregando a esperança.

Esperança que desapareceu do rosto dos brasileiros aos 41 do segundo tempo. O joelho que trouxera alegria no gol de Thiago Silva causou tristeza quando Zúñiga acertou as costas de Neymar. O camisa 10 caiu aos prantos e saiu de maca direto para o hospital: fratura na terceira vértebra lombar e uma quase parada cardíaca em milhões de brasileiros. Por um lado, a perda de Neymar, por outro, a classificação para as semifinais depois de 12 anos.





















Se os críticos queriam um bom motivo para os jogadores chorarem, agora têm: a ausência do craque brasileiro no restante da Copa. Contra a poderosa Alemanha, nas semifinais, a Seleção terá pela frente o seu maior desafio nesta Copa do Mundo. Sem o seu capitão e o camisa 10, terá de se reinventar. Só resta chorar.

Chora, Brasil, porque o choro é livre, e só não chora quem não sabe o que significa disputar uma Copa do Mundo em casa.