terça-feira, 25 de março de 2014

1958 | Acelera, Brasil!

A história de Pelé está no texto anterior, "1958 | Prazer, Pelé". Acesse aqui.


A Simca — abreviatura de Société Industrielle Mécanique et Carrosserie Automobile — foi uma montadora francesa, que chegou ao Brasil em maio de 1958. Por motivos operacionais e logísticos, mudou sua sede de Belo Horizonte para São Paulo. A empresa foi pioneira na fabricação de carros de luxo — o famoso rabo de peixe, muito cobiçado — e a primeira a fabricar motores V8 no País. Teve seu auge em 1964. Comprada pela Chrysler, três anos depois, a empresa deixou de existir.

Em quase dez anos de permanência no Brasil, a Simca nunca foi tão comentada como em 24 de junho de 1958. Naquele dia, a Seleção Brasileira, pela primeira vez na Copa, pisou no estádio Råsunda, em Estocolmo, para enfrentar a França, pelas semifinais da competição. Havia uma grande expectativa em torno do confronto, uma vez que de um lado estava o artilheiro do torneio, Just Fontaine (8 gols) e do outro estava Pelé, o menino que começava a ganhar os holofotes.

A França chegou pela primeira vez entre as quatro melhores seleções,
feito que não havia conseguido nem quando organizou o torneio, em 1938. 

 A exemplo do que havia acontecido contra a União Soviética, na fase de grupos, o Brasil começou arrasador. Logo a 2min, Garrincha ganhou a bola de presente do capitão francês Jonquet e deixou Vavá na cara do gol: 1 a 0. Mas ao contrário dos soviéticos, os franceses se reergueram pouco depois. Aos 8min, Kopa enfiou a bola para Fontaine, que driblou Gilmar com maestria e marcou seu nono tento na Copa do Mundo — era o primeiro gol que o Brasil sofria na competição.

Fontaine dribla Gilmar e empata: o artilheiro ainda faria mais quatro na decisão de terceiro lugar.

Meia hora depois do empate azul, Didi acertou um chute espetacular no ângulo do goleiro Abbes, que só não pôde aplaudir o “pombo sem asa” porque estava voando — em vão — até a bola. Brasil 2 a 1.

Ainda no primeiro tempo, Garrincha teve um gol anulado e o capitão Jonquet, a perna fraturada em uma dividida com Vavá. Como na época ainda não existiam substituições durante a partida, os franceses tiveram que jogar com um a menos o resto do tempo.

Se a primeira etapa foi equilibrada, a segunda foi de Pelé. As esperanças francesas acabaram de vez aos 7min, quando o goleiro da seleção azul soltou a bola nos pés do camisa 10, após cruzamento de Didi: 3 a 1.

Pelé aproveita o rebote no terceiro gol: oportunismo que o consagrou dentro da área.

Depois, aos 19min, Garrincha fez sua tradicional ultrapassagem pelo flanco direito e cruzou na área. No bate-rebate, a bola sobrou para Pelé emendar para o fundo das redes: 4 a 1. Aos 30min, Pelé recebeu passe de Zagallo e bateu forte: era o terceiro gol dele e o quinto da Seleção Brasileira.

O time francês ainda descontou nos instantes finais em uma bela jogada individual de Piantoni, mas o jogo já estava perdido há muito tempo. O resultado final mostrava a superioridade verde-amarela.

Com 3 gols no jogo, Pelé fazia seu primeiro "hat-trick" na Seleção Brasileira.





















Enquanto a Seleção Brasileira comemorava a vitória de 5 a 2 e a passagem para a final da Copa, nas ruas de São Paulo o povo festejava de forma inusitada. Em frente ao Consulado Geral da França, centenas de torcedores gritavam “Simca dois!” em tom provocativo, referindo-se ao placar e à montadora recém-chegada.

Não demorou muito, a montadora “Simca Dois” voltou a ser apenas Simca, ganhou status e desenvolveu um modelo de muito sucesso na época: o Simca Chambord. Mas enquanto durou a gozação, os franceses nunca desejaram tanto que o Brasil tivesse ganhado aquela partida por mais de cinco gols — porque eles sabiam que era impossível aquele time vencer por menos.


24/6/1958 – Estocolmo – Semifinal – Brasil 5 x 2 França