quarta-feira, 26 de março de 2014

1958 | A Taça do Mundo É Nossa


Quer ver como o Brasil acelerou pra cima da França na semifinal? Clique aqui.


Em 12 de outubro de 1717, às margens do Rio Itaguaçu, três pescadores da vila de Guaratinguetá tratavam do almoço do Conde de Assumar, governador da província de São Paulo. Sem muito sucesso em boa parte do tempo, as redes lançadas nas águas trouxeram uma grata surpresa no fim da tarde: uma peça, em barro cozido, com 36 cm de altura. Os pescadores ainda acharam uma cabeça, separada do resto, e logo perceberam que se tratava da imagem de uma santa. Daquele dia em diante, os peixes, sempre escassos na região, começaram a aparecer em abundância.

Do rio, a santa foi para uma casa. Da casa, para um oratório. Do oratório, para uma capela, que cresceu e virou basílica. Aparecida passou de povoado a município. E, em 16 de junho de 1930, o papa Pio XI proclamou a santa como padroeira do Brasil.

Portando um manto azul, bordado em ouro e pedrarias, símbolos da realeza da Princesa Isabel, de quem herdou a coroa, Nossa Senhora Aparecida foi, para muitos supersticiosos, fator decisivo na conquista do Brasil na Copa do Mundo de 1958.

Lance da final entre Brasil e Suécia: parece até montagem.

Na véspera da decisão contra os donos da casa, o impasse das camisas acabou forçando um sorteio para apontar quem jogaria de amarelo: e deu Suécia. Na delegação brasileira ninguém havia previsto a necessidade de um segundo uniforme, então foi preciso comprar às pressas um jogo de camisas. A dúvida estava na cor —qualquer uma, menos branca.

Supersticioso, o chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, escolheu azul, alegando que a “cor do manto de Nossa Senhora Aparecida” traria sorte ao time. Os escudos foram arrancados das camisas amarelas e bordados nas novas. No dia seguinte, o Brasil entrou em campo vestindo o manto da padroeira, sob a proteção de sua coroa e com um menino prestes a ser coroado rei.

Todos os seis gols de Pelé na competição foram marcados no segundo tempo.

Com mais de 50 mil torcedores nas arquibancadas, a Suécia começou o jogo da mesma forma que o Brasil contra a União Soviética e a França: avassaladora. Logo aos 4min de jogo, Liedholm foi lançado, cortou Bellini e Orlando e bateu no canto de Gilmar. O estádio Råsunda veio abaixo: Suécia 1 a 0.

Mas o Brasil tinha Didi. O maestro carregou a bola nos braços até o meio de campo, gritando pelo caminho ‘Vamos lá, acabou a moleza, vamos encher esse gringos de gols’. 5min depois, o Brasil empatou. Garrincha cruzou da direita, Pelé não alcançou e Vavá, antecipando a zaga, empurrou para as redes: 1 a 1.

Aos 32min, novamente com Garrincha escapulindo pela direita, o Brasil chegou à virada. O ponta, endiabrado, cruzou forte e o goleiro Svensson passou lotado, deixando o gol livre para Vavá fazer seu segundo na partida. O placar parcial da decisão apontava 2 a 1 para o Brasil, e a torcida sueca, que apoiou o time desde o pontapé inicial, começava a ficar dividida.

Se o estádio estava na dúvida, aos 10min do segundo tempo ela acabou. Nilton Santos jogou a bola na área, Pelé estufou o peito, matou a redonda, deu um chapéu no zagueiro Gustavsson e, sem deixá-la cair, arrematou para o gol: 3 a 1. Não havia um torcedor no Råsunda que não estivesse aplaudindo a façanha — um dos gols mais bonitos da história das Copas.

O primeiro gol de Pelé foi literalmente de se tirar o chapéu.

13 minutos depois da pintura, foi a vez da raça assinar o gol brasileiro. Zagallo dividiu com dois suecos, ganhou e chutou, caindo, por baixo do goleiro: 4 a 1. Simonsson diminuiu a 10 minutos do fim, mas Pelé voltou a marcar, no último lance. Zagallo cruzou e o artilheiro brasileiro completou de cabeça, meio sem jeito, o suficiente para encobrir o arqueiro Svensson. A Seleção Brasileira repetia o placar das semifinais, 5 a 2, e conquistava a Taça do Mundo — como era chamada à época, no Brasil.

Pelé marca o quinto e desaba no gramado: merecido descanso.

A torcida sueca se rendeu ao talento da Seleção Brasileira e aplaudiu de pé os novos campeões mundiais. Em retribuição, os jogadores deram a volta olímpica com a bandeira da Suécia. Pelé, o jogador mais jovem a conquistar a Copa do Mundo, chorava copiosamente.

A volta olímpica de agradecimento.


Pelé nos braços de Gilmar e do povo.

Buscando um melhor ângulo, a legião de repórteres pediu para o capitão Bellini
levantar o troféu para o alto: o gesto passou a ser repetido por todos os campeões.

O Rei Gustavo desceu da tribuna de honra para cumprimentar pessoalmente os campeões. Porém, diante do garoto que acabara de encantar o mundo, demorou-se um pouco mais. Sorridente, estendeu a mão ao jogador, sem imaginar que, muito em breve, aquele seria lembrado como um encontro de reis.


O rei da Suécia e o futuro rei do futebol.

O final feliz daquela história de amor — entre o Brasil e a Copa do Mundo — estava apenas começando.


A taça do mundo é nossa / Com brasileiro não há quem possa /
Êh eta esquadrão de ouro / é bom no samba, é bom no couro 


Em pé: Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar;
sentados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo.

Pelé: o filho do Brasil com a Copa do Mundo.


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