quarta-feira, 19 de junho de 2019

Olha O Que Eles Não Fizeram





Lá se vão 20 anos desde que Ronaldinho Gaúcho estreou na Seleção Brasileira dando um chapéu no zagueiro Rey, um toque sutil para se livrar da marcação de Rojas e um chute à queima-roupa diante do goleiro Vega. O "Olha o que ele fez!" foi o quinto dos sete gols do Brasil naquela noite em Ciudad del Este, no Paraguai, contra a Venezuela foram seis vitórias na conquista do título da Copa América de 1999. Naquela época, a Venezuela não metia medo em ninguém. Até que o seu Adenor virou técnico da Seleção Brasileira.







Salvador sempre foi considerada uma cidade "anti-vaia". A expectativa da CBF de ser bem recebida no Nordeste virou um clichê, assim como os paulistas são exigentes e os cariocas... bem, os cariocas não veem a seleção principal jogar no Maracanã há seis anos. Mas Salvador é isso: diferente. Os instrumentos foram do Pelourinho até o estádio e entraram. Foram 90 minutos de batucadas nas arquibancadas da Fonte Nova. Mas só axé não basta. Tem que jogar bola. E quando o Brasil se torna o primeiro anfitrião de Copa América a perder pontos para a Venezuela, o torcedor perde a paciência com razão.

Mas sejamos sinceros: o Brasil não teve uma atuação tão ruim quanto a do 1° tempo no Morumbi, diante da Bolívia. Apesar da timidez de Coutinho, os laterais Daniel Alves e Filipe Luís apoiaram bastante, o que ajudou a abrir espaços no ferrolho venezuelano. Porém, ainda no 1° tempo, a falta de criatividade começou a irritar a torcida, que chiava a cada passe errado. A Seleção até chegou a marcar, com Richarlison, aos 38min, mas a arbitragem de Julio Bascuñan flagrou uma falta do atacante no defensor venezuelano.

Tite apostou em Gabriel Jesus no 2° tempo. O Brasil ficou mais incisivo, com o menino do City pela esquerda, o menino do Ajax pela direita e o atacante do Liverpool no meio. Aos 15min, Firmino tocou para Jesus que completou para o gol. Mas a jogada esbarrou no VAR e o gol foi anulado o camisa 20 estava impedido. Com problemas na parte ofensiva, Tite tirou Casemiro e promoveu a entrada de Fernandinho. A Fonte Nova quase veio abaixo: o estádio vaiou em coro a entrada do volante.

Ansioso, o time exagerou em lançamentos. Aos 26min, de tanto a torcida pedir, Everton Cebolinha entrou. Já na primeira bola tentou de fora da área, mas pegou mal e errou por muito. Nos minutos finais, o atacante do Grêmio partiu para cima da zaga venezuelano e rolou para Coutinho, na área, empurrar para o gol. A Fonte Nova explodiu. Mas a bola tocou em Firmino, impedido, antes de entrar, e o VAR mais uma vez acabou com a festa baiana. Com o acréscimo de 9 minutos no relógio "até fazer o gol" , parte da torcida gritou "olé" para os venezuelanos. Nas 15 vezes em que o Brasil finalizou,  só cinco foram em direção ao alvo. Nada impediu um final de jogo sem gols e sem aplausos.




A Venezuela deixou de ser o patinho feio da América do Sul há muito tempo. Dos últimos oito confrontos entre as duas seleções, o Brasil venceu quatro, empatou três e perdeu um. Enquanto Tite fala em um novo ciclo na Seleção com Daniel Alves (36), Thiago Silva (34), Miranda (34), Fernandinho (34) e Filipe Luís (33) no elenco, o técnico vinotinto Rafael Dudamel, ex-goleiro da seleção, dá aula de renovação: há dois anos, foi vice-campeão mundial sub20. E onde está a seleção sub20 do Brasil, que nem para o Mundial deste ano se classificou? O futuro do futebol brasileiro é incerto.

O fato é que Tite aposta em um modelo de jogo sem flexibilidade, bem definido, que não tem funcionado pelo rigor exagerado dos jogadores em manter posição. O resultado disso é um futebol burocrático que não arranca aplausos. E faz o torcedor arrancar os cabelos.