Lá se vão 20 anos desde que Ronaldinho Gaúcho estreou na Seleção Brasileira dando um chapéu no zagueiro Rey, um toque sutil
para se livrar da marcação de Rojas e um chute à queima-roupa diante do goleiro Vega. O "Olha o que ele fez!"
foi o quinto dos sete gols do Brasil naquela noite em Ciudad del Este, no
Paraguai, contra a Venezuela — foram seis vitórias na conquista do título da Copa América de 1999. Naquela época, a Venezuela não metia medo em ninguém. Até que o seu
Adenor virou técnico da Seleção Brasileira.
Salvador
sempre foi considerada uma cidade "anti-vaia". A expectativa da CBF
de ser bem recebida no Nordeste virou um clichê, assim como os paulistas são exigentes e os cariocas... bem,
os cariocas não veem a seleção principal jogar no Maracanã há seis anos. Mas Salvador é isso: diferente. Os instrumentos
foram do Pelourinho até o estádio — e entraram. Foram 90 minutos de
batucadas nas arquibancadas da Fonte Nova. Mas só axé não basta. Tem que jogar bola. E
quando o Brasil se torna o primeiro anfitrião de Copa América a perder pontos para a
Venezuela, o torcedor perde a paciência — com razão.
Mas
sejamos sinceros: o Brasil não teve uma atuação tão ruim quanto
a do 1° tempo no
Morumbi, diante da Bolívia. Apesar da timidez de Coutinho, os laterais Daniel Alves e Filipe Luís apoiaram bastante, o que ajudou
a abrir espaços no
ferrolho venezuelano. Porém, ainda no 1° tempo, a
falta de criatividade começou a irritar a torcida, que chiava a cada passe errado. A Seleção até chegou a marcar, com Richarlison,
aos 38min, mas a arbitragem de Julio Bascuñan flagrou uma falta do atacante
no defensor venezuelano.
Tite
apostou em Gabriel Jesus no 2° tempo. O Brasil ficou mais incisivo, com o menino do City pela
esquerda, o menino do Ajax pela direita e o atacante do Liverpool no meio. Aos
15min, Firmino tocou para Jesus que completou para o gol. Mas a jogada esbarrou
no VAR e o gol foi anulado — o camisa 20 estava impedido. Com problemas na parte ofensiva, Tite
tirou Casemiro e promoveu a entrada de Fernandinho. A Fonte Nova quase veio
abaixo: o estádio vaiou em
coro a entrada do volante.
Ansioso,
o time exagerou em lançamentos. Aos 26min, de tanto a torcida pedir, Everton Cebolinha entrou.
Já na primeira
bola tentou de fora da área, mas pegou mal e errou por muito. Nos minutos finais, o atacante do
Grêmio partiu
para cima da zaga venezuelano e rolou para Coutinho, na área, empurrar para o gol. A Fonte
Nova explodiu. Mas a bola tocou em Firmino, impedido, antes de entrar, e o VAR
mais uma vez acabou com a festa baiana. Com o acréscimo de 9 minutos no relógio — "até fazer o gol" —, parte da torcida gritou "olé" para os venezuelanos. Nas
15 vezes em que o Brasil finalizou, só cinco foram em direção ao alvo. Nada impediu um final de jogo sem gols e sem aplausos.
A
Venezuela deixou de ser o patinho feio da América do Sul há muito tempo. Dos últimos oito confrontos entre as
duas seleções, o Brasil
venceu quatro, empatou três e perdeu um. Enquanto Tite fala em um novo ciclo na Seleção com Daniel Alves (36), Thiago
Silva (34), Miranda (34), Fernandinho (34) e Filipe Luís (33) no elenco, o técnico vinotinto Rafael Dudamel,
ex-goleiro da seleção, dá aula de renovação: há dois anos, foi vice-campeão mundial sub20. E onde está a seleção sub20 do Brasil, que nem para o
Mundial deste ano se classificou? O futuro do futebol brasileiro é incerto.
O
fato é que Tite
aposta em um modelo de jogo sem flexibilidade, bem definido, que não tem funcionado pelo rigor
exagerado dos jogadores em manter posição. O resultado disso é um futebol burocrático que não arranca aplausos. E faz o torcedor arrancar os cabelos.