segunda-feira, 15 de junho de 2015

O Dono da Bola



 Quando Neymar estreou pela Seleção Brasileira, em 10 de agosto de 2010, contra os Estados Unidos, em Nova Jersey, Alexandre Pato era o camisa 9, Paulo Henrique Ganso, o 10, e Mano Meneses, o técnico. A Espanha, então campeão do mundo, era imbatível, Portugal dependia dos lampejos de Cristiano Ronaldo e a Argentina, de Messi. Naquela noite, o jovem camisa 11 do Santos e da Seleção marcou seu primeiro gol com a amarelinha, logo em sua estreia. De lá pra cá muita coisa mudou. Mano caiu, Pato e Ganso perderam espaço na Granja (Comary) e a Espanha já não mete mais tanto medo. Neymar, cinco anos depois, marcou mais 43 gols com a camisa canarinho e, agora, é o quinto maior artilheiro da Seleção, atrás apenas das lendas Pelé, Ronaldo, Zico e Romário. Se Portugal ainda depende de Cristiano Ronaldo e a Argentina de Messi, nada mais natural o Brasil ficar a mercê de Neymar.

A partida entre Brasil e Peru, em Temuco, era o retorno oficial de Neymar à Seleção — machucado, desfalcou o time nas semifinais e na disputa de terceiro lugar da Copa, o que fez toda a diferença. E mais que esquecer o vexame do ano passado, Neymar queria apagar outro fiasco: o da última Copa América, em 2011, na Argentina.

Naquele ano, Neymar já era “o cara” da Seleção, mas o desempenho abaixo das expectativas levantou dúvidas quanto ao seu futuro. Depois de não conseguir marcar contra a Venezuela (0 a 0), Neymar foi substituído contra o Paraguai, no empate por 2 a 2, sob vaias. Marcou duas vezes diante do Equador, na vitória por 4 a 2, e ajudou o Brasil a se classificar para as quartas de final. Porém, no mata-mata voltou a ser substituído e assistiu do banco quatro cobranças de pênalti serem desperdiçadas por seus companheiros — um papelão que marcou aquela geração.

Agora era diferente. Um Brasil bem diferente. Mais organizado e rápido, principalmente em relação àquele que se viu na Copa do Mundo. Mas que também erra — e como erra. Foi assim no gol do Peru, logo a 2min, após o vacilo de David Luiz e a "assistência" de Jéfferson para Cueva. A mesma facilidade que o atacante peruano teve para abrir o placar, Neymar teve para cabecear, sem marcação, e empatar a partida. O relógio marcava 4min. Era apenas o começo.

Dois chapéus em sequência no peruano Advíncula, uma chute colocado no travessão e um cartão amarelo por reclamação: Neymar esteve por toda parte e em todo lance durante os 90min, na mais ampla evidência. E quando tudo parecia indicar um empate, ele mostrou toda a sua genialidade: um passe preciso, no meio da defesa peruana, que encontrou Douglas Costa, sozinho, para marcar o gol da virada nos acréscimos. Um lance que lembrou o amigo Messi — a convivência certamente ajudou.

De positivo, a 11ª vitória consecutiva de Dunga em seu retorno à Seleção. E Neymar. Resta saber até quando o camisa 10 vai conseguir carregar o time brasileiro nas costas. Porque não é só o favoritismo da Argentina que pesa.