quarta-feira, 17 de julho de 2019

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Capitão América




O nosso Capitão América é, na verdade, baiano. Tem 36 anos, bem menos idade que o personagem das HQs, criado por Joe Simon e Jack Kirby. E ainda que o herói da Marvel tenha derrotado seus inimigos e salvado o planeta inúmeras vezes, ninguém no mundo conquistou mais troféus que Daniel Alves — com o de domingo são 40, três a mais que ninguém menos que Pelé. Na média, o baiano de Juazeiro é campeão mais de duas vezes por ano.

Em 2007 ele estava lá: só que no banco de reservas. Na decisão da Copa América contra a Argentina, em Maracaibo, Daniel entrou ainda no 1° tempo no lugar de Elano e foi decisivo. Foi dele o cruzamento em que o zagueiro Ayala desviou para as próprias redes; foi dele o terceiro gol da goleada de 3 a 0, depois de receber um belo passe de Vágner Love. Naquela tarde de domingo, Daniel conquistava seu primeiro título com a camisa amarela, enquanto a Seleção Brasileira vencia a terceira final consecutiva contra os argentinos e sua última Copa América, até então.





















12 anos se passaram, e o Brasil estava de volta à decisão. Entretanto, o adversário não era nenhum dos bichos-papões do continente: muito pelo contrário, já havia sido goleado pela própria seleção canarinho na fase de grupos. Só que o começo do jogo fez o torcedor esquecer aquela goleada na Arena Corinthians. Num Maracanã lotado, ávido por um título, quem tomou a iniciativa foi o Peru. O time de Gareca não se acovardou, adiantou a marcação e deixou a Seleção sem saída. Mas o fraco lado esquerdo peruano logo sucumbiu ao talentoso lado direito brasileiro: o primeiro gol saiu de um lançamento de Daniel Alves, um drible desconcertante de Gabriel Jesus em Trauco e a chegada oportunista de Everton por trás de Advíncula.

O Peru conseguiu o empate ainda no 1° tempo graças ao VAR, que enxergou um pênalti no braço de apoio de Thiago Silva. A fraca arbitragem do chileno Roberto Tobar foi na onda do árbitro de vídeo, o que fez cair por terra as suspeitas de Messi sobre uma armação para o Brasil ganhar a Copa América. Melhor para Guerrero, que converteu seu terceiro gol na competição, empatou na artilharia com Cebolinha e,     pela terceira vez, se consagrou como maior marcador de uma edição de Copa América — antes dele, só o uruguaio Pedro Petrone, na década de 20.




A Seleção Brasileira não se abateu em nenhum momento. Pelo contrário: foi mais time do que nunca. A defesa manteve-se sólida, o meio-campo produtivo e o ataque decisivo. Dos pés de Firmino saiu o carrinho para roubar a bola de Yotún, que Arthur conduziu até dar o passe para Gabriel Jesus. O camisa 9 contou com o escorregão de Zambrano para ajeitar, olhar e tocar no cantinho de Gallese. Depois de ser execrado na Copa do Mundo, Gabriel Jesus voltava a sorrir como destaque ofensivo, com gols e assistências.

O Brasil do 2° tempo pareceu mais ajustado. Coutinho teve duas boas oportunidades, mas no primeiro lance foi bloqueado e no segundo adiantou demais a bola. Aí veio a injusta expulsão de Gabriel Jesus, e o atacante trocou o sorriso pela violência e as lágrimas. Com um a mais, o Peru se fortaleceu. Militão entrou — estreou — e o time não passou sufoco. Com espaço, criou chances. No último grande lance da partida, Everton trombou com Zambrano e um novo pênalti foi mal marcado. A cobrança de Richarlison sacramentou a vitória brasileira e a ressurreição do jogador que há 10 dias estava isolado num quarto, com caxumba.

Foi a vitória do time solidário, onde todos tiveram espaço para brilhar: Everton foi eleito o melhor em campo, Alison, o melhor goleiro do torneio e Daniel Alves, o melhor jogador da Copa América — ele diz ter fôlego para chegar ao Qatar.

E ninguém sentiu a falta de Neymar.



quarta-feira, 3 de julho de 2019

O Retorno do Messias




O povo de Israel esperava ansiosamente pelo Messias. Os judeus acreditavam que ele seria uma figura política e religiosa, que iria restaurar a independência e a glória do país. Nesse meio tempo, houve quem alegasse ser o salvador ungido por Deus, o que gerou discórdia com os opressores romanos. Mas nenhum desses falsos Messias conseguiu fazer alguma coisa. Até que apareceu Jesus.


Ontem, no duelo do Mineirão, os candidatos a Messias eram alguns. A começar por Lionel Messi, que precisava provar não ao mundo, mas ao povo argentino, que é capaz de trazer o futebol platino de volta à luz. Descontraído, ele abraçou Daniel Alves na saída do túnel para o gramado, sem saber que o antigo parceiro de Barça seria outro forte candidato. Agüero, Coutinho, Everton e Lautaro também concorreram, mas ninguém conseguiu fazer alguma coisa. Até que apareceu Jesus.




O gol brasileiro aos 19min de partida foi uma pintura. Nos fez rapidamente esquecer que, há 5 anos, no minuto 19 de outra semifinal no Mineirão, o Brasil já perdia por 1 a 0 e estava na eminência de levar mais quatro gols ainda no 1° tempo. Teve rolinho de Coutinho, chapéu de Daniel e cruzamento de Firmino. Até que apareceu Jesus e empurrou a bola para dentro. 725 minutos depois de marcar seu último gol pela Seleção — em outubro de 2017, contra o Chile pelas Eliminatórias da Copa da Rússia —, Gabriel voltou a balançar as redes. O menino Jesus ainda deu uma linda arrancada no 2° tempo, levou uma trombada atrás da outra e, sem cair, serviu Firmino, que fez o segundo. A vitória por 2 a 0, enfim, convenceu.

A camisa 9 da Seleção é tão pesada quanto a 10. Já estamos há duas Copas do Mundo sem um centroavante de peso — Ronaldo Fenômeno literalmente foi o último. As pazes de Gabriel Jesus com o gol elevam a esperança de o Brasil voltar a ganhar títulos — o último foi há 6 anos, contra a Espanha pela final da Copa das Confederações, também a última vez que a Seleção jogou no Maracanã.

E Messi? Teve sua melhor atuação na Copa América, mas não foi o suficiente. Deu uma canseira no rival de Espanha, Casemiro, finalizou mais que qualquer um na albiceleste e chutou uma bola na trave de Alison — teve outra, numa cabeçada de Agüero. Mas vai embora com apenas um gol marcado, na seca de não conquistar títulos pela seleção principal da Argentina.

Se de um lado retorna o Messias, do outro temos o retorno de Messi... para casa.



segunda-feira, 1 de julho de 2019

Rivais Pacíficos




A França é a atual campeã do mundo. Portugal, da Europa. E o Chile levantou o caneco nas duas últimas Copas Américas. Mas o que conta para uma seleção de futebol ser considerada grande é a história; e isso o Brasil tem de sobra. E como todo gigante que se preza, tem sempre aquele dia de Davi. Em 1950, nasceu o Maracanazo. Em 2014, aconteceu o 7 a 1. Com essas duas desgraças da bola, a Seleção Brasileira conseguiu acabar com todas as estatísticas favoráveis dentro de casa. Entretanto, ainda restou uma: jamais perdeu para a Argentina no Mineirão — na última apresentação, em 2016, válida pelas Eliminatórias da Copa da Rússia, goleada brasileira por 3 a 0.



Calma, o Brasil ainda é favorito por jogar em casa contra uma Argentina capenga. Mas a Seleção, salvo os 5 a 0 sobre os peruanos, não fez muito mais que os hermanos no torneio. As duas equipes chegam para o embate em pé de igualdade: um nível abaixo do que se esperava. Talvez seja o pior Brasil x Argentina da história em nível técnico, mas, com certeza, será um dos melhores em emoção, ainda mais que a decisão por pênaltis tem sido uma tendência nesta edição. O fato é que a Argentina, desorganizada, sem defesa e com Messi em má fase, foi a única seleção capaz de marcar gols em 360 minutos de quartas de final — Brasil, Chile e Peru obtiveram suas classificações nos pênaltis após 90 sofríveis minutos sem gols.

Mas se você acha que a rivalidade entre Brasil e Argentina é a maior das semifinais da Copa América, você precisa conhecer melhor a relação entre peruanos e chilenos. O duelo entre os dois nunca se limitou ao futebol, graças a uma área rica em recursos minerais, como salitre e cobre, que despertou a chamada 'Guerra do Pacífico', travada entre 1879 e 1883. O Chile se saiu vencedor, anexou ao seu território a província de Taracapá, do Peru, e Antofagasta, da Bolívia, deixando os bolivianos sem saída para o mar. Até hoje os países disputam a soberania sobre esses territórios na justiça — uma disputa tal qual o oceano, pacífica.

Na primeira Copa América conquistada pelo Chile, em julho de 2015, as seleções se enfrentaram também nas semifinais. Melhor para os chilenos, donos da casa, que venceram o grande rival por 2 a 1 e foram à decisão. No último encontro entre os dois, em outubro de 2015, o Chile voltou a vencer o Peru, por 4 a 3, em jogo das Eliminatórias realizado em Lima. O então campeão da América deixou um recado na parede do vestiário do Estádio Nacional de Lima. "Respeito! Por aqui passou o campeão da América", em resposta às provocações peruanas antes e durante a partida.

Não tem jeito. O orgulho ferido dos peruanos sempre entra em campo quando do outro lado estão os chilenos.



sexta-feira, 28 de junho de 2019

As Guerras do Paraguai




Numa manhã tranquila de junho de 1865 as tropas paraguaias de Solano López desembarcaram perto de São Borja, às margens do Rio Uruguai, e foram recebidas com tiros de carabina pelos gaúchos. O ditador alimentava o sonho de formar o Grande Paraguai, que abrangeria as regiões argentinas de Corrientes e Entre Rios, o Uruguai, o Mato Grosso, o próprio Paraguai e, claro, o Rio Grande do Sul. Para ele, Porto Alegre era um ponto estratégico da batalha, porém jamais conseguiu alcançar as cercanias da cidade. A rendição paraguaia veio três meses depois, em Uruguaiana, e o conflito contra a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) só terminou em 1870. Um século e meio depois, os paraguaios finalmente chegaram à capital gaúcha. E travaram mais uma guerra de nervos.





O duelo entre Brasil e Paraguai pelas quartas de final da Copa América de 2019 foi tenso, como sempre. Postada numa linha defensiva de cinco jogadores, a Albirroja mostrou o que sabe fazer de melhor: se defender. Parece que, enquanto aqui as crianças sonham em ser um Pelé, lá em Assunção elas almejam ser um Gamarra. Os paraguaios são viciados em empates, adoram uma retranca e, pior do que isso, viraram nossos algozes — perdemos nos pênaltis para eles as Copas Américas de 2011 e 2015. Que currículo o da Seleção Brasileira: duas derrotas na marca da cal para um time que só tem uma vitória na década pela competição continental.

Foi um massacre do primeiro minuto do 1° tempo até os 52 do 2° tempo. A Seleção finalizou 25 vezes ao gol de Gatito e teve nove chances reais de gol. Não foi à toa que o goleiro botafoguense saiu de campo eleito o melhor jogador da partida pela quarta vez seguida no torneio. Isso porque o Brasil jogou praticamente a segunda etapa inteira com um homem a mais, depois que o VAR dedurou ao árbitro chileno Rodrigo Vargas que não tinha sido pênalti de Balbuena em Firmino — ele expulsou o defensor paraguaio. Mas o que Gatito fez nos 90 minutos, não fez nos pênaltis. Não pegou nenhuma cobrança brasileira e deixou a glória da pequena área para o goleiro campeão europeu pelo Liverpool. Alisson, ídolo do Internacional, foi herói na casa do antigo rival: pegou a cobrança do palmeirense Gustavo Gómez e ajudou na classificação canarinho às semifinais.

Lá se foram os fantasmas dos pênaltis de Elano e André Santos nas nuvens, de Thiago Silva telegrafando nas mãos de Villar, de Fred errando à meia altura, de Everton Ribeiro rolando para fora e de Douglas Costa botando por cima. A guerra dos pênaltis contra o Paraguai, depois de longos oito anos, chegou ao fim.


Mas qual Brasil chega às semifinais da Copa América após 12 anos? A Seleção inoperante contra Venezuela e Paraguai ou a Seleção eficiente contra Bolívia e Peru? Boa pergunta.



quarta-feira, 26 de junho de 2019

Meu Adversário Favorito




Pode-se até dizer que o Brasil é favorito para ganhar a Copa América, mas não dá para afirmar que vai passar fácil pelas quartas de final. Depois de destroçar o Peru por 5 a 0 no último sábado — disparada a melhor atuação brasileira na competição —, o time de Tite terá pela frente um indigesto adversário, responsável pela eliminação da Seleção nas últimas duas vezes em que esteve no mata-mata da Copa América, ambas na fase de quartas de final: em 2011, na Argentina, e em 2015, no Chile. Nas duas oportunidades, a derrota saiu nos pênaltis. E sabe para quem? Paraguai.




Pênalti que o santista Derlis González desperdiçou contra a Argentina no empate por 1 a 1 em Belo Horizonte, pela 2° rodada do Grupo B — cobrança defendida pelo bom goleiro Armani. Se tivesse convertido, a seleção paraguaia não teria entrado para a história como uma das duas seleções que conseguiram avançar ao mata-mata com apenas dois pontos somados na fase de grupos. O México, em 1993, chegou até a final, quando perdeu para a Argentina, no último título dos hermanos. Sim, é um recorde um tanto estranho para uma seleção de futebol. Mas ainda mais estranho é perder duas Copas Américas seguidas, nos pênaltis, para um rival sem peso — o Paraguai tem apenas uma vitória nos últimos 18 jogos do torneio.

Se o Brasil tem uma pedra no sapato pelo caminho, o atual bicampeão sul-americano, o Chile, tem uma rocha inteira. A Colômbia, adversária de sexta-feira, em São Paulo, não só é a única equipe com 100% de aproveitamento na Copa América, como também não sofreu nenhum gol. A campanha cafetera desperta a confiança de voltar a levantar a taça mais cobiçada do continente. Em 2001, no único título, o desempenho na 1° fase foi parecido, com três vitórias e nenhum gol sofrido. Mas o Chile, como já foi dito, é o atual detentor do caneco. Promessa de ser o melhor jogo das quartas.

E o que dizer da Celeste, reconhecidamente uma seleção de brio? Depois de superar o mar vermelho de chilenos no Maracanã, os uruguaios enfrentarão um Peru em frangalhos, depois de ser goleado pela Seleção Brasileira. Pior para o time do técnico Gareca, que vai ter pela frente os dois jogadores que mais finalizaram na 1° fase: os uruguaios Suárez (18) e Cavani (12). A Argentina, por sua vez, não vai ter moleza contra a Venezuela. Depois de passar 44 anos sem saber o que era ao menos um empate contra os platinos, a seleção vinotinto, desde 2011, obteve duas vitórias e dois empates em seis jogos no confronto. No último deles, em março deste ano, os venezuelanos venceram por 3 a 1, em amistoso disputado em Madrid, com o mesmo time-base da Copa América. Será que Messi vai conseguir furar o paredão venezuelano? Já se foi o tempo em que a Argentina era favorita. Ainda mais contra a Venezuela.




quarta-feira, 19 de junho de 2019

Olha O Que Eles Não Fizeram





Lá se vão 20 anos desde que Ronaldinho Gaúcho estreou na Seleção Brasileira dando um chapéu no zagueiro Rey, um toque sutil para se livrar da marcação de Rojas e um chute à queima-roupa diante do goleiro Vega. O "Olha o que ele fez!" foi o quinto dos sete gols do Brasil naquela noite em Ciudad del Este, no Paraguai, contra a Venezuela foram seis vitórias na conquista do título da Copa América de 1999. Naquela época, a Venezuela não metia medo em ninguém. Até que o seu Adenor virou técnico da Seleção Brasileira.







Salvador sempre foi considerada uma cidade "anti-vaia". A expectativa da CBF de ser bem recebida no Nordeste virou um clichê, assim como os paulistas são exigentes e os cariocas... bem, os cariocas não veem a seleção principal jogar no Maracanã há seis anos. Mas Salvador é isso: diferente. Os instrumentos foram do Pelourinho até o estádio e entraram. Foram 90 minutos de batucadas nas arquibancadas da Fonte Nova. Mas só axé não basta. Tem que jogar bola. E quando o Brasil se torna o primeiro anfitrião de Copa América a perder pontos para a Venezuela, o torcedor perde a paciência com razão.

Mas sejamos sinceros: o Brasil não teve uma atuação tão ruim quanto a do 1° tempo no Morumbi, diante da Bolívia. Apesar da timidez de Coutinho, os laterais Daniel Alves e Filipe Luís apoiaram bastante, o que ajudou a abrir espaços no ferrolho venezuelano. Porém, ainda no 1° tempo, a falta de criatividade começou a irritar a torcida, que chiava a cada passe errado. A Seleção até chegou a marcar, com Richarlison, aos 38min, mas a arbitragem de Julio Bascuñan flagrou uma falta do atacante no defensor venezuelano.

Tite apostou em Gabriel Jesus no 2° tempo. O Brasil ficou mais incisivo, com o menino do City pela esquerda, o menino do Ajax pela direita e o atacante do Liverpool no meio. Aos 15min, Firmino tocou para Jesus que completou para o gol. Mas a jogada esbarrou no VAR e o gol foi anulado o camisa 20 estava impedido. Com problemas na parte ofensiva, Tite tirou Casemiro e promoveu a entrada de Fernandinho. A Fonte Nova quase veio abaixo: o estádio vaiou em coro a entrada do volante.

Ansioso, o time exagerou em lançamentos. Aos 26min, de tanto a torcida pedir, Everton Cebolinha entrou. Já na primeira bola tentou de fora da área, mas pegou mal e errou por muito. Nos minutos finais, o atacante do Grêmio partiu para cima da zaga venezuelano e rolou para Coutinho, na área, empurrar para o gol. A Fonte Nova explodiu. Mas a bola tocou em Firmino, impedido, antes de entrar, e o VAR mais uma vez acabou com a festa baiana. Com o acréscimo de 9 minutos no relógio "até fazer o gol" , parte da torcida gritou "olé" para os venezuelanos. Nas 15 vezes em que o Brasil finalizou,  só cinco foram em direção ao alvo. Nada impediu um final de jogo sem gols e sem aplausos.




A Venezuela deixou de ser o patinho feio da América do Sul há muito tempo. Dos últimos oito confrontos entre as duas seleções, o Brasil venceu quatro, empatou três e perdeu um. Enquanto Tite fala em um novo ciclo na Seleção com Daniel Alves (36), Thiago Silva (34), Miranda (34), Fernandinho (34) e Filipe Luís (33) no elenco, o técnico vinotinto Rafael Dudamel, ex-goleiro da seleção, dá aula de renovação: há dois anos, foi vice-campeão mundial sub20. E onde está a seleção sub20 do Brasil, que nem para o Mundial deste ano se classificou? O futuro do futebol brasileiro é incerto.

O fato é que Tite aposta em um modelo de jogo sem flexibilidade, bem definido, que não tem funcionado pelo rigor exagerado dos jogadores em manter posição. O resultado disso é um futebol burocrático que não arranca aplausos. E faz o torcedor arrancar os cabelos.



terça-feira, 18 de junho de 2019

Com 'La Pulga' Atrás da Orelha



4 de julho de 1993. Com dois gols de Batistuta, a Argentina vence o México por 2 a 1, em Guayaquil, e conquista seu 14° título sul-americano. 5 de setembro de 1993. Dois meses depois, pelas Eliminatórias da Copa dos EUA, a seleção alviceleste leva uma acachapante goleada por 5 a 0 da Colômbia em pleno Estádio Monumental de Núñez, com dois gols de Rincón e Asprilla. Além da humilhação, a Argentina perde uma invencibilidade de 31 jogos — não perdia desde a final da Copa de 90, para a Alemanha — e sofre sua primeira derrota em casa na história das Eliminatórias. Depois desse dia, a seleção argentina nunca mais foi a mesma. Nem a Colômbia.


Rincón marca o primeiro: com dribles desconcertantes e lances estonteantes, a dupla Asprilla & Rincón infernizou a zaga argentina naquela que é considerada a maior vitória da história da Colômbia.
















Curiosamente, o jogo em Buenos Aires foi um divisor de águas para ambas as seleções. Após o vexame, Diego Maradona voltou ao time para ajudar a Argentina na repescagem contra a Austrália. Entretanto, no Mundial do ano seguinte, Dieguito caiu no antidoping, ofuscando o belo futebol da seleção no início do torneio. A Argentina acabou eliminada pela Romênia (3 a 2) nas oitavas de final, num dos melhores jogos da história das Copas. Lionel Messi tinha 7 anos.

Por outro lado, a goleada colocou a Colômbia no mapa do futebol. A seleção 'cafetera' virou favorita para ganhar a Copa, segundo o Rei Pelé — o que, acredite, era um palpite bastante respeitável à época. Mas o sucesso subiu à cabeça, e a Copa de 94 foi um absoluto desastre para o futebol colombiano, que acabou com o assassinato do zagueiro Andrés Escobar. Porém, ao longo prazo, aquele time entrou para história, inspirando as gerações que viriam depois.

Foram sete anos de espera até a seleção que encantou o mundo levantar uma taça — sua primeira e única. Sede da Copa América de 2001, a Colômbia já não tinha Valderrama e nem Asprilla, mas contava com o apoio de um país inteiro que se anestesiava com o futebol diante da mistura de tensão social, insegurança e medo. Não deu outra: o time 'cafetero' ganhou todas as sete partidas que fez, com 11 gols a favor e nenhum contra. A seleção mudou a cara do país. James Rodríguez tinha 10 anos.


Iván Córdoba marca contra o México o gol do título. Muitos alegaram que a Colômbia só ganhou a Copa América porque a Argentina havia desistido de participar, devido ao clima de guerra civil.



















Sábado, na Fonte Nova, James e Messi voltaram a se encontrar. Um confronto marcado pela supremacia do craque argentino, que somava quatro vitórias e dois gols no duelo com o colombiano, incluindo jogos entre seleções e Barça x Real. A expectativa era grande, mas a monotonia tomou conta do 1° tempo, praticamente sem lances de perigo dos dois lados — ainda que a Colômbia tenha tido mais posse de bola. James se escondeu na marcação adversária e Messi brincou de gato e rato com o próprio time: se voltava para buscar a bola o time não tinha poder ofensivo, se ia para perto da área a bola não chegava.

Depois do intervalo, a Argentina voltou mais acesa e dominou os primeiros 25 minutos. Até que James resolveu jogar e lançou para Roger Martínez; ele acertou um chute "alá Cebolinha", sem chances para Armani, e abriu o placar. 15 minutos depois, em mais uma jogada pela esquerda da defesa argentina, Tesillo cruzou rasteiro e Zapata, esperto entre os zagueiros, desviou para o gol. Era, enfim, a vitória de James no duelo de seleções.

Roger Martínez entrou ainda no 1° tempo após a lesão de Muriel. O jogador passou pelas
categorias de base de quatro times argentinos, entre eles Boca Juniors e Racing.




















A derrota na estreia trouxe de volta os fantasmas do passado: pressão sobre um técnico inexperiente, a falta de títulos e as cobranças em cima de Messi. Mas a verdade seja dita: a culpa é de Asprilla & Cia, que acabaram com a moral dos argentinos lá atrás.


A seleção argentina não tem jogo coletivo e depende
exclusivamente dos lampejos de Messi, o que não têm acontecido.




sábado, 15 de junho de 2019

Vaca Verde e Amarela





São Paulo nessa sexta-feira, 14, teve greve geral, mas a cidade não parou. Motoristas de ônibus, ferroviários e motoboys não aderiram ao protesto contra a reforma da Previdência, e ônibus e trens da CPTM funcionaram normalmente durante o dia. À noite, os motoristas, ferroviários e motoboys assistiram à estreia da Seleção Brasileira na Copa América. Pela televisão.

O Morumbi estava bonito, é verdade. Envelopado com a identidade visual da competição, a grande novidade do estádio vinha das arquibancadas: os novos telões. Dois gigantes de 20,16 metros de largura por 7,68 metros de altura, que pesam 24 toneladas cada. E mesmo com uma resolução de imagem de 2016 x 768 pixels — proporcionando uma espetacular qualidade de imagem —, nada irritou mais do que o locutor blasé repetindo em três línguas todos os eventos dentro de campo (out, sale, sai). Somado aos fogos de artifício e aos canhões de luz, parecia uma noite de rock no Morumbi: ambiente, preço e público de show.

A torcida, por sua vez, foi um caso à parte. Chamada de elitista, cantou o hino à capela e ensaiou uma "ola", mas logo caiu na apatia e se tornou indiferente. Em alguns momentos, o silêncio tomou conta do estádio. Manifestações esparsas de clubismo e homofobia deram novamente as caras e, como em anos anteriores, a Seleção não empolgou o torcedor paulistano. A última reação da torcida foi de espanto, no final do jogo, quando anunciaram os mais de 22 milhões de reais de renda (em três línguas) — superando em 2 milhões a renda do São Paulo FC, dono do estádio, nos 15 jogos como mandante na atual temporada.


A torcida de Instagram se esbaldou com a cerimônia de abertura.
Depois teve torcedor que dormiu durante o jogo.
























O Brasil entrou de camisas brancas em homenagem ao centenário da primeira edição da Copa América, jogada e vencida pelo Brasil. A Seleção não atuava de branco em partidas oficiais desde o fatídico dia do 'Maracanazo' (clique aqui para ler "1950 | O Dia em que o Brasil Parou"). Em campo, o time sofreu com a defesa boliviana, ainda que nenhuma chance tenha sido criada contra o gol de Lampe no 1° tempo. Tite mostrou uma cautela excessiva, com Fernandinho e Casemiro contra uma Bolívia inoperante. A equipe jogou bastante pelos lados, com Richarlison e Neres, mas a falta de criatividade não impediu os jogadores de serem vaiados na saída para o intervalo.  

A reação veio logo no início do 2° tempo, com uma ajudinha do VAR — a primeira intervenção do árbitro de vídeo na história da Copa América. Após o cruzamento de Richarlison, a bola tocou no braço de Jusino. O árbitro Nestor Pitana deu aquela corridinha até o monitor na beira do gramado e não teve dúvidas: pênalti. Coutinho bateu com extrema categoria e abriu a porteira boliviana. Não demorou muito e Coutinho voltou a marcar. Desta vez, aproveitando o cruzamento de Firmino com um toque sossegado de cabeça na pequena área. Tite mexeu no ataque, e entraram Gabriel Jesus, Willian e Everton Cebolinha. O plano do técnico se mostrou infalível: aos 39min, o endiabrado jogador do Grêmio recebeu pela esquerda, cortou para dentro e soltou um tijolo contra o gol de Lampe, que nem se mexeu: 3 a 0, goleada.

Com o triunfo sobre a Bolívia, a Seleção Brasileira chegou a sua 100° vitória em Copas Américas.























Há 40 anos, o Brasil jogou contra a Bolívia, pela Copa América, no estádio do São Paulo FC. Naquele dia, os torcedores viram um 1° tempo sem gols, vaiaram o time na ida para os vestiários, e o primeiro gol saiu no começo do 2° tempo. A única diferença foi que, em 1979, a torcida estava inquieta. Já em 2019, estava quieta.

Zico (foto) fez o segundo gol da vitória brasileira por 2 a 0 contra a Bolívia, no Morumbi, em 1979.
Após o gol, o Galinho partiu para cima do zagueiro boliviano e iniciou uma confusão generalizada.
























"Vaca verde e amarela
Matou de canela
Quem falar primeiro
Pega terça a Venezuela"