quinta-feira, 3 de julho de 2014

8° de Final | A Revanche de Gijón













Os alemães disseram que nem se lembravam. Mas para os argelinos era impossível esquecer a data de 16 de junho de 1982. Afinal, como deixar para lá a primeira partida — e vitória — do país na história das Copas? O esquecimento germânico tinha um porquê: a equipe derrotada por 2 a 1 naquela tarde de quarta-feira fora a própria Alemanha (Ocidental).

Claro que, 32 anos depois, a situação era bem diferente. Em vez de uma estreia em Copa, tratava-se de uma partida valendo vaga nas quartas de final. Ainda assim, a Alemanha — agora unificada — continuava favorita. Porém, os norte africanos mostraram mais uma vez a força que emana do deserto.



















Acostumado aos gols tanto quanto a Fonte Nova, o Beira-Rio assistiu a um jogo imprevisível. Sem Hummels, gripado, coube ao goleiro Neuer fazer as vezes de líbero, com saídas do gol mais do que providenciais. Müller tropeçava em suas próprias pernas e até mesmo o sempre sóbrio Schweinsteiger parecia um pouco perdido em campo. O cenário beirava o inacreditável: a Alemanha estava sendo dominada pela Argélia.  

Quando a toda-poderosa finalmente acordou, já estava na prorrogação. A Argélia havia conseguido o impensável, com grande atuação do goleiro M'Bolhi. Entretanto, no tempo extra, os 10°C no Beira-Rio começaram a jogar a favor dos alemães, e aos poucos as coisas foram voltando ao normal.



















Mas nem tanto. O primeiro gol alemão surgiu de um cruzamento de Müller, um pouco atrás do planejado, que Schürrle completou com uma letra de caligrafia rude, mas totalmente legível. O ímpeto argelino ruiu. Bom para os germânicos, que fizeram mais um, com Özil, no rebote do goleiro M'Bolhi.

Com a partida liquidada, a Argélia ainda buscou forças sabe-se onde para diminuir com Djabou, nos acréscimos. O choro de Feghouli, ao final do jogo, contrastava com os aplausos que vinham das cadeiras vermelhas. A Argélia ficou sem a vaga, mas ganhou o respeito da Copa do Mundo. Até porque na história do confronto, agora estava tudo literalmente empatado. Sem contar que, nos 90 minutos, a Argélia jamais perdera para a Alemanha.



















8° de Final | O Cemitério dos Africanos













O sol da uma da tarde em Brasília era um adversário mais difícil que a própria Nigéria. Por isso, os franceses — estreantes na hora do almoço — se prepararam com cautela, treinando duas vezes na capital federal em horários bem próximos ao da partida. Para a sorte dos Bleus, os 30°C baixaram para 27°C, e quem esquentou o jogo mesmo foi o calor da torcida.

A Nigéria sabia dos riscos. A França não só tinha uma campanha impecável, como também contava com Karim Benzema, o "artilheiro dos gols roubados" — seus quatro gols poderiam ser seis, não fossem as arbitragens. Mas havia algo ainda mais preocupante para as Super Águias: o retrospecto africano no Mané Garrincha.





















Se a Fonte Nova, em Salvador, ficou conhecida como a "arena dos gols" — foram 24 em cinco partidas, média de quase cinco gols por jogo —, o Mané Garrincha virou o "cemitério dos africanos". O estádio havia assistido a três derrotas de seleções africanas — Colômbia 2 x 1 Costa do Marfim, Camarões 1 x 4 Brasil e Portugal 2 x 1 Gana —, e a Nigéria não queria ser o próximo 'defunto'.

Não teve jeito. Mesmo com o apoio maciço dos brasileiros, a França confirmou o favoritismo e fez da Nigéria o quarto africano derrotado em Brasília. O bom goleiro Enyeama até que conseguiu parar o ataque francês, com Benzema e Giroud, mas foi um meio-campista (Pogba) e um de seus próprios zagueiros (Yobo, contra) que definiram o placar, aos 34 e 46 minutos da etapa final, respectivamente.

Com o Uruguai fora, sobrou para a França o papel de fantasma nessa Copa.




















8° de Final | O Exército de Um Homem Só













Uma nação sem exército pode ser encarada como um povo que não tem como se defender. Ledo engano. Apesar de a Costa Rica ter abolido as forças armadas há mais de 60 anos — o presidente à época acreditou que os militares mais atrapalhariam do que ajudariam —, o país não se encontra totalmente desprotegido. As defesas de Keylor Navas têm salvado à pátria dos bombardeios inimigos.

Na Arena Pernambuco, as tropas gregas estavam no lucro. Em duas oportunidades (1994 e 2010), os helênicos sequer passaram da fase de grupos — agora, queriam mais. Los ticos, por sua vez, já haviam chegado ao mata-mata, em 1990. Mas vencer Itália e Uruguai e abocanhar a primeira colocação num grupo com três campeões mundiais era mesmo uma façanha.




















Navas foi o personagem principal do confronto desde o primeiro tempo, quando defendeu um chute à queima-roupa de Salpingidis. Na segunda etapa, ele assistiu a Bryan Ruiz abrir o placar com um chute mascado, colocado, que imobilizou toda a defensiva grega, do goleiro aos laterais, passando pelos zagueiros. Nos acréscimos, porém, Navas foi traído pela bola. Papasthatopoulos — ou simplesmente Sokratis — aproveitou o rebote do goleiro e empatou.

Na prorrogação, os deuses pareciam estar do lado costarriquenho, tamanho o número de chances desperdiçadas pelos gregos. Navas salvou o chute de Mitroglou no último minuto do tempo extra, e o jogo continuou empatado. Nos pênaltis, os deuses nem precisaram se intrometer.



















Depois de uma sequência perfeita de cobranças de ambos os lados, Navas voou e defendeu a batida de Gekas, a quarta dos gregos. O zagueiro Umaña converteu o quinto e selou a vitória costarriquenha por 5 a 3. Entre as oito melhores equipes do torneio, a Costa Rica já se considera vencedora. Mas Navas e seus companheiros acreditam que ainda podem mais: azedar o caldo laranja.