quarta-feira, 11 de junho de 2014

Grupo A | México


Foi sem Querer Querendo





Os mexicanos estão empolgadíssimos com a oportunidade de disputar um Mundial no país que eles tanto admiram. Aqui, em Mérida, sem nenhum medo de errar, posso afirmar que a camisa verde e amarela é a segunda pele de todos. A admiração pelo futebol brasileiro e pelo lateral-esquerdo Roberto Carlos é uma coisa impressionante. Sim, Roberto Carlos, que jamais defendeu um time mexicano, mas encantou a todos com seus chutes certeiros — mais um exemplo do poder da televisão.

Das últimas três Copas, esta talvez seja a pior das seleções mexicanas: a mais fraca, a de menos brio e a que menos transmite confiança. Isso tudo gerado pelas constantes mudanças na escalação do técnico Miguel “Piojo” Herrera. O resultado só poderia ser uma classificação na repescagem, sofrível a ponto de ser garantida pelos arquirrivais norte-americanos no último minuto de disputa.

Somado a isso, as frequentes contusões de jogadores fundamentais geraram uma onda de pessimismo na torcida, conhecida como "La fanática porra" — no bom sentido da palavra. O corte do bom volante Luís Montes e a possível ausência do experiente zagueiro Rafa Márquez podem desestabilizar ainda mais uma equipe desestabilizada por natureza.

FIQUE DE OLHO: Carlos Peña ganhou o apelido de "Gullit" Peña não só pelas madeixas, mas principalmente pela qualidade ofensiva.






















Os poucos pontos fortes da equipe se limitam às jogadas pelas laterais e o bom entrosamento entre Gio (Giovanni dos Santos) e Oribe, atacantes rápidos que podem surpreender. Oribe Peralta mostrou do que é capaz na final dos Jogos Olímpicos de Londres, ao marcar os dois gols da medalha de ouro mexicana. O atacante tem a confiança da maioria dos mexicanos, ainda mais com a má fase de Chicharito Hernández. 

O jogador do Manchester United vive um de seus piores momentos na carreira. Reserva no clube inglês, "Ervilha" (chicharo, em espanhol) não possui uma relação muito amistosa com a torcida, que já não o enxerga como uma estrela do naipe de Hugo Sánchez e Cuauhtémoc Blanco. Por isso, os mexicanos apostam todas as suas fichas em Peralta.


ESSE CONHECE: Oribe Peralta foi considerado o melhor jogador da Concacaf em 2013/14 e tem feito gols decisivos.




















Ainda não será desta vez que o México será campeão — longe disso, todos sabem. Mas uma semifinal de Copa do Mundo seria a glória para um povo que respira futebol.

Independente do que aconteça, a festa já começou por aqui.

NO ESQUEMA: 3-5-2


Variando o 3-5-2 com o 4-4-2, o técnico Miguel Herrera conta com laterais que apoiam bastante o ataque, como Guardado. Na frente, Giovanni dos Santos municia e acompanha Peralta, além de ser o homem da bola parada.


4-4-2 (clique para ampliar)




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Fabio Calvi Guidetti,
profissional de comércio exterior, mora desde 2008 no México, um território diferente culturalmente do Brasil, mas igualmente apaixonado por futebol como qualquer brasileiro 




Grupo B | Austrália


O Primo do Chico Bento





Nas histórias em quadrinhos, um personagem expressa diversos traços da autêntica cultura brasileira: Chico Bento. O menino caipira  é traquina, brinca de roubar goiabas e é um aluno meio preguiçoso. Contudo, Chico é puro, amoroso e religioso — tem até anjo da guarda —, mas com um lado espiritualista alternativo que adora ouvir lendas de lobisomens e mulas sem cabeça.

Chico é, de certo modo, um retrato do Brasil profundo. Um país jovem, quase infantil, que ainda se surpreende com os encantos do mundo dito civilizado e urbano, mas que não abre mão de uma vida simples e consideravelmente desregrada.

O contraponto a isso é o primo Zeca. O parente cosmopolita de Chico Bento é quase sua antítese, uma vez que reside em um moderno apartamento, estuda nas melhores escolas e tem o hábito de viajar para várias partes do mundo. Alegoricamente este personagem representaria a Austrália.

A torcida animada da Austrália promete fazer muito barulho nos jogos contra Espanha, Holanda e Chile.





















O maior país da Oceania, assim como nós, também é um país jovem e com histórico de colonização. Entretanto, possui uma trajetória de desenvolvimento muito diferente em relação ao Brasil. Sua densidade populacional é baixa, seu IDH é elevadíssimo e suas preferências esportivas são outras heranças britânicas, como rúgbi, tênis, críquete e golfe. Muitos diriam que a Austrália é o Brasil que deu certo, algo certamente exagerado e superficial. Afinal, quem é mais feliz: o simplório Chico Bento ou o modernoso Primo Zeca?

A discussão é complexa, mas o fato é que no futebol, o êxito dos países apresenta papel invertido, com ampla vantagem para o matuto. Se por um lado o Brasil é o maior campeão da história das Copas e detentor do título de país do futebol, os Socceroos apresentam no currículo um modesto vice-campeonato da Copa das Confederações, em 1997 — um vareio de 6 a 0 contra o Brasil —, um quarto lugar nos Jogos Olímpicos de 1992 e uma classificação as oitavas de final da Copa do Mundo de 2006.

ESSE CONHECE: Tim Cahill, 34, é a referência do time. O artilheiro australiano vai disputar a sua terceira Copa.





















Não é a toa que este jovenzinho rico, mimado e bronzeado resolveu fazer intercâmbio e experimentar a disputa das eliminatórias asiáticas, com o aval da titia FIFA. Afinal, nas brincadeiras de seu continente, a Austrália representa o garoto mais velho, alto, tatuado, forte e que faz o que quer com os colegas, rivalizando apenas com o guri da rua de baixo, a Nova Zelândia.

Já na Ásia, a Austrália encontra colegas do seu porte, o que, até o momento, não tem impedido sua ida à grande festa, a Copa do Mundo. Esteve presente nas duas últimas edições do Mundial, já concorrendo com rapazes narigudos, de olhos puxados e afins. O time também se classificou para a Copa da Alemanha Ocidental, em 1974, ano em que a FIFA iniciava sua cruzada pelos cinco continentes, em busca de um Mundial mais globalizado e de votos para a perpetuação no poder de certos dirigentes.

FIQUE DE OLHO em Tommy Oar. Jogador de Utrecht desde os 18 anos, hoje, com 22, é a grande aposta do técnico greco-australiano.

Hoje, o time vem à Copa como um adolescente ingênuo nas ardilosas esquinas do mundo da bola, as quais o Brasil conhece cada palmo. Para isso, trouxe na sua turma de garotos os mais experientes: Tim Cahill, Mark Bresciano e o capitão Mile Jedinák. No entanto, saber beber/jogar não é suficiente para se aproximar da desejada musa/taça. Ainda mais enfrentando o campeão e o vice do último baile, além do promissor e também descolado Chile.

Resta à Austrália aproveitar a viagem para conhecer mais macetes a fim de conquistar a mãe da linda garota Taça, a Dona Bola. Só ela permitiria um passeio de quatro anos ao lado da dourada menina dos olhos de todo o planeta. A concorrência está grande, é verdade, e os meninos do bumerangue ainda estão decorando o que dizer à redonda — provavelmente em vão. Na roça do futebol, até o Zé Lelé (Argentina) tem mais chances de conquista que o metódico e inexperiente primo Zeca da Oceania.

NO ESQUEMA:  4-2-1-3


Com um técnico grego à frente da equipe, Ange Postecoglou, não poderia ser diferente o sistema de jogo australiano: marcação cerrada. A ordem é pressionar a saída de bola do adversário. No resto, bola no Tim Cahill. 


4-2-3-1 (clique para ampliar)






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Rafael Bauer, professor de turismo e turista profissional




Grupo B | Holanda

O atual Vasco do Mundo





A Holanda, atual vice-campeã mundial, também é conhecida como Países Baixos — deve ser por isso que o Felipe Melo se empolgou em dar aquele golpe baixo na coxa do Robben, em 2010. Aliás, o Robben só aceitou vir para a Copa no Brasil depois que soube que o Felipe está morando na Turquia.

Foi a Holanda quem eliminou o Brasil na última Copa. Contra nós, foi a Laranja Mecânica. Já contra a Espanha, a Laranja azedou e se transformou na Amarelada Atômica. Mas para este ano, a Holanda vem com sangue nos olhos (ou suco de laranja, se preferir), depois de uma campanha invicta nas eliminatórias: nove vitórias e apenas um empate, diante das poderosas Andorra e Estônia, entre outros.

ESSE CONHECE: tô falando do Robben, o motor ofensivo do ataque laranja. Campeão alemão e semifinalista da Champions League, Robben é o astro de uma equipe pouco confiável.
























Os holandeses jogam num 4-3-3, com Robben pela direita, Lens pela esquerda e van Persie de centroavante. Vindo por trás (mas com todo o respeito) tem o Wesley Sneijder — não confundir com o Wesley Snipes, porque um negão vindo por trás seria muito mais perigoso. O Sneijder, aliás, joga no Galatasaray da Turquia, mesmo time do Felipe Melo. Será que isso é um sinal? Não sei, mas não é maior que o sinal que ficou na perna do Robben naquela quarta de final.

O atacante van Persie está numa boa fase, marcando gols importantes pelo Manchester United, que não é o do Oasis — aquele é o City. E aqui abrimos um parêntese para dizer como é curioso grandes jogadores que passam pela Holanda terem o sobrenome começando com o prefixo van: van Persie, van Basten, Vampeta. Fecha o parêntese.

ESSE CONHECE: van Persie foi o artilheiro das Eliminatórias europeias, com 11 gols.




















A Holanda estreia na sexta-feira 13, justo contra a Espanha. O que é um belo de um incômodo: se perder, pega de vez a fama de freguês. Se ganhar, é apenas a estreia e tem muito caminho pela frente. Depois, a Holanda pega o Chile (provavelmente o Valdívia vai se contundir) e termina com a Austrália.

Com boas chances de ser a segunda colocada no Grupo B, a Holanda deve jogar as oitavas de final contra o primeiro do Grupo A. Ou seja: o Brasil.  E aí que eu fico feliz que o Felipão não é o Dunga e não convocou o Felipe Melo.

FIQUE DE OLHO: Memphis Depay é formado na base do PSV e, aos 20 anos, tem a confiança do técnico van Gaal. Veloz e incisivo, o garoto começará a Copa no banco, o que pode mudar no decorrer do torneio.































NO ESQUEMA: 4-3-3

Van Gaal tinha 23 laranjas e colocou onze no campo. Quantas laranjas ficaram no banco? Mais fácil que responder essa pergunta é adivinhar como a Holanda joga: num já tradicional esquema com dois pontas abertas, que pode variar para um 4-2-3-1, com Robben cortando pro meio e batendo. 


4-3-3 (clique para ampliar)



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José Luiz Martins,
humorista, publicitário, roteirista e 
proprietário da empresa Pé da Letra Produções, de conteúdo e entretenimento