segunda-feira, 9 de julho de 2018

A Maldição de Kazan



A grandiosidade do Império Mongol chega a assustar. Em vida, o líder mongol Gengis Khan ergueu o maior império em extensão que um único homem já criou, ocupando cerca de 20% do planeta. Em dado momento da história, os mongóis foram referidos como tartars e, depois, tártaros, pela sonoridade — na mitologia romana, Tártaro era o lugar onde jaziam os pecadores. Ou seja, os mongóis eram considerados homens saídos do inferno, pelos povos que aterrorizavam.


O tempo passou e, embora o termo tártaro ainda esteja em uso, ele não possui mais um tom tão ameaçador. Hoje, "tártaro" refere-se a pessoas que vivem principalmente no Cazaquistão, na Sibéria e em uma das 22 repúblicas da Federação Russa, o Tartaristão, cuja capital é Kazan. Nesta cidade à margem do Rio Volga, com 1,5 milhão de habiltantes, uma maldição assombrou recentemente alguns campeões do mundo.


Primeiro, a atual campeã Alemanha caiu contra a Coreia do Sul (2 a 0) e disse adeus ainda na 1° fase. Depois, foi a vez de a Argentina ser eliminada pela França (4 a 3), no que provavelmente foi o melhor jogo da Copa. Por fim, a Arena Kazan despediu-se da Copa junto com o Brasil, na primeira derrota oficial de Tite no comando da Seleção Brasileira. Os 2 a 1 para a Bélgica também foi a primeira vez que o time do ex-corintiano sofreu mais de um gol numa partida. Também pudera: a badalada geração belga é a única das semifinalistas que venceu todas as partidas no Mundial.


A quinta vitória belga na Copa começou a ser construída com o gol contra de Fernandinho, após o desvio de Kompany; era o indício de uma noite desastrosa do volante, que substituiu Casemiro, suspenso. A força física do time vermelho também fez a diferença no 1° tempo. No segundo gol, o gigante Lukaku, imparável, partiu com a bola dominada do campo de defesa até servir De Bruyne, que chutou com primor: os 2 a 0 antes dos 30min de jogo não permitiu a reação do time brasileiro. Nem o bom 2° tempo da Seleção Canarinho Pistola, com a entrada e o gol de Renato Augusto, evitou a eliminação.



A Bélgica, de Hazard, volta a disputar uma semifinal de Copa depois de 32 anos. No Mundial de 86, no México, os belgas despacharam a poderosa União Soviética e a instável Espanha, parando apenas diante de um Maradona em estado de graça.






















Se a Bélgica teve três craques desequilibrando durante a Copa (Lukaku, Hazard e De Bruyne), o Brasil teve o seu grande craque se desequilibrando em campo — e caindo a todo momento. Foi esse o roteiro da Copa de Neymar, massacrado pela imprensa internacional por suas simulações ao receber uma falta. Mas foi Gabriel Jesus a maior decepção nesta Copa. Campeão inglês pelo Manchester City, o camisa 9 passou em branco nos cinco jogos que disputou.



Com o jejum, Gabriel Jesus se tornou o primeiro centroavante titular da Seleção Brasileira a não conseguir marcar gols em uma edição de Copa do Mundo.




















A Bélgica encara a França nas semifinais, no confronto entre seleções mais antigo do mundo — Bruxelas, 1° de maio de 1904, 3 a 3. O jovem e rápido time francês não teve dificuldades em passar pelo Uruguai que, sem Cavani, se tornou uma presa fácil. No mesmo dia, sete títulos mundiais ficaram pelo caminho. A Inglaterra também fez história e voltou às semifinais depois de 28 anos. Na eliminação da seleção sueca sapeca, que tirou Holanda e Itália da Copa, Harry Kane passou em branco, mas segue firme na artilharia do torneio.  


Se Brasil, Uruguai e Suécia deixaram o Mundial com um gosto amargo na boca, a Rússia, por sua vez, se despediu com um belo sorriso. A surpreendente campanha dos anfitriões foi aos trancos e barrancos, com duas decisões por pênaltis, mas com muitas emoções. E mais importante que cair de pé, foi a volta por cima do goleiro Akinfeev, apagando de vez as lambanças de 2014.



O brasileiro naturalizado russo, Mário Fernandes, foi de herói a vilão. Fez o gol de empate no final do 2° tempo da prorrogação e desperdiçou uma das cobranças na disputa de pênaltis. Após o jogo, ele pediu desculpas aos companheiros

















A Croácia volta às semifinais depois de 20 anos. O técnico do time semifinalista da Copa de 98, Miroslav Blazević, hoje com 83 anos, não tem dúvidas de que a seleção de seu país vai ganhar a Copa. Ele acredita que esta geração, de Modrić e Mandžukić, pode se tornar melhor que a de Šuker e Prosinečki. Entretanto, os verdadeiros favoritos já ficaram pelo caminho.