Depois da
arbitragem desastrosa do japonês Yuichi Nishimura na abertura da Copa, ninguém
poderia imaginar que os erros no apito continuariam a ser destaque no segundo
dia de competição. O México precisou marcar três vezes para fazer valer um
único gol. E na partida mais espetacular do dia — e possivelmente das últimas
Copas —, o gol de honra espanhol, feito antes dos cinco holandeses, nasceu de
mais um pênalti mal assinalado.
A chuva torrencial em Natal tinha tudo para transformar a Arena das Dunas em uma Arena dos Pântanos, mas a excelente drenagem do estádio manteve o gramado firme durante toda a partida. Os mexicanos foram melhores desde o início, e os dois gols de Giovanni dos Santos no primeiro tempo foram prova disso. Entretanto, o árbitro colombiano Wilmar Roldán anulou as duas jogadas, alegando impedimento — e errou. Contrariada, a seleção mariachi foi para o intervalo amargando mais um 0 a 0 no currículo.
Empurrado pelos
mais de 20 mil mexicanos nas arquibancadas, o México conseguiu um gol que
valesse aos 15 do 2° tempo. Giovanni dos Santos fez boa jogada e chutou forte.
O goleiro Itandje rebateu e a bola sobrou para o artilheiro Oribe Peralta: 1 a
0. Daí para frente o que se viu foi um time administrar a sua vantagem. O apito final decretou a primeira vitória mexicana em campos
brasileiros numa Copa do Mundo — em 1950, foram três derrotas.
Na Arena Pantanal, o Chile estava em casa. A fanática torcida chilena invadira Cuiabá. Cerca de 800 carros partiram de Santiago e atravessaram Argentina e Paraguai, numa viagem de quase dois dias até a capital mato-grossense. Era normal que estivessem alucinados dentro do estádio. A exemplo dos brasileiros, os chilenos cantaram a plenos pulmões o hino nacional. "Contra la opresión".
Na Arena Pantanal, o Chile estava em casa. A fanática torcida chilena invadira Cuiabá. Cerca de 800 carros partiram de Santiago e atravessaram Argentina e Paraguai, numa viagem de quase dois dias até a capital mato-grossense. Era normal que estivessem alucinados dentro do estádio. A exemplo dos brasileiros, os chilenos cantaram a plenos pulmões o hino nacional. "Contra la opresión".
O time correspondeu
logo de cara. Em dois minutos, o Chile foi às redes duas vezes. Alexis Sánchez aproveitou a confusão na área e abriu
o placar. Pouco depois, o mesmo Sánchez serviu Valdivia, que, da entrada da área, chutou
no canto alto do goleiro Ryan. O Chile jogava por música, mas a Austrália não se
acuou. O faz-tudo australiano Tim Cahill subiu entre os pequeninos zagueiros
chilenos e diminuiu ainda no 1° tempo.
Na etapa final, a equipe dos Andes perdeu fôlego, ao contrário de sua torcida, que cada vez mais dava à partida um clima de Libertadores — com direito a rojões dentro do estádio, o que é proibido pela FIFA. O jogo esfriou, mas ainda houve tempo para mais um gol, de Beausejour, nos acréscimos. O Chile fechou o placar e a torcida comemorou noite adentro.
A chuva que castigou Natal migrara para Salvador. Na Arena Fonte Nova, Espanha e Holanda reeditaram a final da Copa de 2010. A atual campeã era praticamente a mesma de quatro anos antes, mas com uma pitada de tempero brasileiro. Diego Costa — o melhor exemplo da frase "futebol é momento" — foi vaiado a cada toque na bola. Sua preferência pela Fúria em detrimento da Amarelinha definitivamente não havia agradado o torcedor baiano.
Aos 26, o atacante
do Atlético de Madrid ganhou ainda mais a antipatia da torcida. Em lance com o holandês
de Vrij, ele se desequilibrou ao pisar na perna do zagueiro e caiu no gramado. O
árbitro italiano Nicola Rizzoli caiu junto. Xabi Alonso bateu com a maestria de
sempre e abriu a contagem: 1 a 0. Pouco depois, Iniesta aproveitou uma brecha e
enfiou para David Silva. Na cara de Cillessen, o espanhol tentou tocar por
cobertura e perdeu o gol. Parecia questão de tempo para a Espanha alargar a
vantagem.
Quando o
"tiki-taka" espanhol controlava o meio-campo, um lampejo de van
Persie mudou a história do jogo. O lançamento de Blind encontrou o camisa 9 na
entrada da área espanhola. Ele voou de cabeça e encobriu Casillas, que nem se
mexeu. A fome de gol era tanta, que van Persie chegou a comer grama. No 2°
tempo, o Holandês Voador viraria o fantasma dos espanhóis.
Massacre, surra,
humilhação. Chame como quiser. O que se viu no 2° tempo foi um nó tático de van
Gaal no consagrado Del Bosque. Alternando entre o 5-2-3 e um suicida 3-4-3, o
técnico holandês deixou a Espanha com a posse de bola e apostou nos
contra-ataques. No primeiro deles, aos 8, Blind deu mais um passe brilhante,
desta vez para Robben, que se viu novamente de frente com Casillas. As memórias
do Soccer City vieram à tona, mas Robben não cometeu o mesmo erro do
passado: bateu firme, depois de driblar Piqué: 2 a 1.
Como quem já pressentisse
a tragédia, a Espanha parou em campo. De canela, o zagueiro de Vrij anotou o
terceiro, depois da disputa aérea entre van Persie e Casillas — com falta. E
quando o goleiro espanhol errou um domínio de bola — e foi de herói a vilão —,
van Persie estava lá para marcar o quarto da Laranja. Tinha mais: a 10 minutos
do fim, Robben arrancou para a glória, deixou Sergio Ramos na saudade e selou a
pior derrota de um campeão mundial numa estreia de Copa: inacreditáveis 5 a 1.
A torcida
holandesa, enlouquecida, entoou gritos de "Olé!", tão característicos
dos espanhóis. A revanche laranja teve sabor de chocolate.