As tropas de Napoleão chegaram em Moscou em um dia ensolarado como o de hoje na capital russa, no ano de 1812. Porém, o exército francês encontrou uma cidade abandonada e uma emboscada armada pelos russos. Os franceses foram massacrados. 206 anos depois, os russos foram novamente ameaçados em seus domínios; desta vez, pelos espanhóis. E se na guerra a estratégia vale ouro, no futebol, vale vaga na próxima fase.
"Qualquer um pode ser Deus se
trabalhar duro." Foi esse o mantra entoado pelo técnico russo Stanislav
Cherchesov para enfrentar a Espanha no Luzhniki. Cherchesov foi goleiro do
Spartak que, em 1991, conseguiu a proeza de eliminar o Real Madrid, de Fernando
Hierro, nas quartas de final da Champions League, em pleno Santiago Bernabéu. Com
os pés no chão, trabalho duro e inspiração no passado, Cherchesov contrariou a
lógica, mais uma vez, e venceu o duelo com Hierro, agora técnico da 'Fúria'.
Em um jogo chato, a Espanha teve 75%
de posse de bola, mas sem objetividade. E se não fosse pelo vacilo dos
zagueiros, teríamos tido poucas emoções. Ignashevich marcou contra e abriu o placar,
mas Piqué retribuiu a gentileza e levantou demais o braço na área; pênalti, que
Dzyuba converteu. Empurrados pela esmagadora torcida presente ao Luzhniki, a Rússia
se segurou na defesa e levou a decisão para os pênaltis. E o outrora vilão,
Akinfeev, virou herói.
Com a eliminação, a Espanha reforçou
a maldição contra os anfitriões. Ao todo, foram três diante dos donos da casa:
em 34, para a Itália nas quartas; em 50, para o Brasil no quadrangular final; e
em 2002, para a Coreia do Sul nas quartas. Os espanhóis se juntaram ao grupo de
campeões mundiais que já deram adeus ao título na Rússia: Alemanha e Argentina.
No sábado, os hermanos chegaram a
engrossar o jogo contra os franceses, mas não conseguiram segurar o ímpeto do
jovem time de Didier Deschamps. A partida disputada em Kazan foi tensa do
início ao fim, teve duas viradas no marcador e vários golaços, como o de Di
María, do lado argentino, e o de Pavard, do lado francês. Quem esperava pela
redenção de Messi acabou vendo o show de Kylian Mbappé. O jogador de 19 anos
assombrou o mundo com uma arrancada de 64 metros a quase 32 km/h, que só foi
parada dentro da área, num pênalti de Marco Rojo. O adolescente ainda marcou
dois gols no 2° tempo.
Com os dois gols, Mbappé se tornou o segundo jogador na história com menos de 20 anos a marcar mais de um gol em fase de mata-mata de Copa do Mundo. O primeiro foi Pelé, com 17 anos, em 1958. |
Companheiro de Mbappé no ataque do Paris Saint-Germain, Edinson Cavani roubou a cena no duelo entre Uruguai e Portugal. Com uma exibição cirúrgica, a Celeste despachou os atuais campeões europeus com dois golaços de Cavani. Bem marcado e apagado, Cristiano Ronaldo disse que jogará até pelo menos 40 anos — mas, ainda assim, o seu futuro na seleção portuguesa é incerto.
E Lionel Messi? Em sua quarta Copa do
Mundo, o dono de cinco Bolas de Ouro se despediu mais uma vez sem marcar gols
em um mata-mata de Mundial.
Enquanto argentinos, espanhóis e
portugueses choram, os russos são só alegria noite adentro — mesmo numa cidade onde o sol se põe às 21h e
nasce às 4h.