quarta-feira, 17 de junho de 2015

A Revanche de Santa Fé



Argentina e Uruguai se enfrentaram pela primeira vez no longínquo 16 de maio de 1901, num amistoso em Montevidéu. Não existem muitos registros sobre esta partida, mas, diante das mudanças nas regras do futebol no decorrer dos anos, sabe-se que naquele jogo os goleiros Sardeson, do Uruguai, e Rudd, da Argentina, podiam pegar a bola com as mãos em qualquer parte do campo, até porque ainda não existia a grande área. Também dá para imaginar que tenha sido um jogo truncado. Isso porque os jogadores podiam ficar impedidos em seu próprio campo, além de não haver a lei da vantagem nas faltas — que não devem ter sido poucas. As diferenças entre a primeira e a última partida entre argentinos e uruguaios na história param por aí. A rivalidade já existia desde a Guerra do Prata (1851), e garra, disputa e confusão sempre foram elementos fiéis ao confronto. Certo mesmo só que a Argentina venceu em ambas as oportunidades: 3 a 2, em 1901, e 1 a 0, em 2015.

Jogando mais uma vez em La Serena, seu novo quartel general, a Argentina estava com o Uruguai entalado na garganta. Na última Copa América, disputada em solo argentino, os uruguaios eliminaram os anfitriões numa partida épica em Santa Fé, decidida apenas nos pênaltis. Aquela derrota acabou com o sonho dos hermanos de conquistar em casa um título depois de 18 anos. Para piorar, o Uruguai foi o campeão. Lá se vão 22 anos, e a Celeste não se atreveria a interferir novamente — pelo menos por enquanto.

O mais antigo e tradicional clássico das Américas teve entradas duras, cartões amarelos e muito bate-boca. Mas quem acabou expulso não estava dentro de campo: o técnico platino Tata Martino reclamou tanto do árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci que foi convidado a se retirar ainda no primeiro tempo. Sem técnico e com a garra de sempre, os argentinos pressionaram, mas não conseguiram furar o bloqueio charrua.

Porém, aos 11min do 2° tempo, Zabaleta encontrou uma brecha na defesa uruguaia e cruzou para o peixinho certeiro de Kun Agüero. O mergulho, além do gol, rendeu ao atacante uma contusão no ombro, a qual ele suportou até os 36min, quando foi substituído por Tévez.  A esta altura do jogo o Uruguai atacava com intensidade, obrigando Romero a mostrar a razão de sua titularidade. Aos 30min, porém, o goleiro falhou, dando rebote em chute de Maxi Pereira. Para sua sorte, Rolán, livre na área, chutou por cima.

O apito final — um alívio tanto para o árbitro brasileiro com para os hermanos — colocou a Argentina na liderança do Grupo B, ao lado do Paraguai, que venceu a Jamaica, por 1 a 0, com um gol de joelho de Benítez. O sorriso voltou ao rosto dos jogadores, Messi, a dar entrevistas, e o clima em La Serena, a se acalmar. Afinal de contas, vencer o Uruguai sempre dá moral. Ainda mais em se tratando do arquirrival.


Kun Agüero marcou 5 dos últimos 8 gols da Argentina na Copa América (2011 e 2015).