quarta-feira, 4 de junho de 2014

Grupo H | Argélia


A Coadjuvância dos Fenecos



O escrete argelino é conhecido como Raposas do Deserto, ou simplesmente Fenecos. Pequenos, esquisitos e frágeis, esses simpáticos animaizinhos possuem apenas 1,5 kg — as maiores raposas chegam a ter mais de 6 kg —, sobrevivendo em locais áridos, algo muito semelhante ao estéril futebol africano. Alimentam-se de qualquer criatura de pequenas dimensões, assim como os argelinos fazem em seu continente. Todavia, caso encontre um adversário grande, se acovardam e fogem, sendo, não raro, capturados e transformados em presa. Esta tem sido a sina da seleção da Argélia, candidata mais uma vez à figuração no grande habitat do Futebol: a Copa do Mundo.

Fenecos são as menores raposas do mundo. Apesar de espertas, são frágeis, tal qual a seleção da Argélia.

A Argélia, de fato, nunca foi protagonista. Do ponto de vista histórico, serviu como região de trânsito entre os grandes impérios antigos da Europa e do Oriente. O povo berbere, conhecido como “Povo da Areia” em um famoso filme de ficção científica, sofreu dominações cartaginesas, romanas, bizantinas, árabes, otomanas e francesas. Como herança, destacam-se a predominância da religião muçulmana oriunda dos árabes, a pujança e beleza de cidades como Constantine (Cartaginesa) e Djemila (Romana). Já a lembrança francesa é de dominação política (guerra civil), econômica (disputa pelo gás natural) e futebolística.

Craques como Zidane, Benzema e Nasri são descendentes de argelinos e, teoricamente, não teriam dificuldades em disputar partidas pelo selecionado do norte da África. Mas preferiram abdicar de seu passado e atender aos apelos da Metrópole, deixando o segundo maior país da África literalmente na condição de um deserto de craques — em tempo: 87% do território do país é coberto pelo Saara.

ESSE CONHECE: Sofiane Feghouli é o que se pode chamar de meia moderno. No ataque, é veloz habilidoso e finaliza bem. Na defesa, é aplicado e preciso nos desarmes.

Assim, apesar de brilharecos ludopédios como o título da Copa Africana de Nações de 90 e as vitórias contra a poderosa Alemanha Ocidental e sobre o Chile na Copa de 82, a equipe jamais passou da primeira fase em Mundiais. Na edição de 2014 fará sua quarta participação — a segunda consecutiva—, sem maiores aspirações. A equipe se classificou de forma sofrida em um playoff tenso contra a desconhecida seleção de Burkina Faso, decidida no critério de gols marcados fora de casa. A descarga emocional foi tanta que 12 pessoas acabaram perdendo suas vidas na intensa comemoração.

Apesar de 16 jogadores franceses em sua lista de convocados, fica a impressão da velha relação Metrópole-Colônia, em que a nação dominante se apropria da mais rica matéria-prima e exporta produtos excedentes de baixo valor em seu mercado interno. Uma exceção é o meia Sofiane Feghouli, do Valencia (Espanha), que dá bom equilíbrio tático e respaldo técnico á zona central do campo. Porém, este alento não será suficiente para o alviverde saariano.

FIQUE DE OLHO: Nabil Bentaleb, companheiro de Paulinho no Tottenham, é um maestro no meio-campo argelino. Canhoto, tem bom passe e joga de cabeça erguida, como os antigos meias esquerdas.

Em um grupo com duas potências médias e ascendentes da Europa — Bélgica e Rússia — resta aos argelinos perpetuarem sua sina de eternos coadjuvantes e brigarem para não serem lanternas do grupo na partida contra os sul-coreanos, a ser disputada na também secundária sede de Porto Alegre. Tais quais os simpáticos fenecos, os Raposas do Deserto do futebol norte-africano devem continuar se alimentando apenas dos pequenos, mas fugindo e/ou sendo devorados, invariavelmente, por quem tem um pouquinho de tamanho e força.

ESQUEMA TÁTICO

O esquema do técnico bósnio Vahid Halilhodzic gira em torno de um 4-2-3-1, onde os meias, mesmo os mais criativos como Feghouli e Bentaleb, cumprem funções defensivas.





Histórico em Copas (clique para ampliar)



Rafael Bauer,

professor de turismo e turista profissional







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Para ler sobre a Rússia, de Andreas Toscano, clique aqui.
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Grupo H | Bélgica


Duvel ou Brazuca?



A Bélgica é bastante conhecida dos brasileiros não pelo futebol, mas por sua enorme variedade de cervejas e chocolates. Da mesma forma que brotam jogadores aqui, brotam cervejas lá. Arrisco a dizer que nove em cada dez brasileiros sabem o nome de pelo menos uma cerveja belga, ao mesmo tempo em que desconhecem os nomes dos jogadores da seleção.

Alheios ao Terceiro Mundo, os Diabos Vermelhos estão de volta. Ausentes nas duas últimas Copas do Mundo e nas últimas três Eurocopas, eles vêm com tudo. Décima seleção classificada para a Copa de 2014 e cabeça de chave de acordo com o esdrúxulo ranking da FIFA, a Bélgica mostrou que não virá ao Brasil por sorte e sim por anos de planejamento. Em 2007, foi semifinalista das Euros Sub-17 e Sub-21 e, no ano seguinte, já com jogadores como Kompany e Fellaini — rivais de Manchester —, alcançou as semifinais nos Jogos Olímpicos. A geração que perdeu o bronze para o Brasil, em 2008, hoje é  chamada de "geração de ouro".

ESSE CONHECE: Eden Hazard é veloz, driblador e bom finalizador. Liderou o modesto Lille no título francês de 2010/11 e, hoje, pelo Chelsea, é um dos melhores meias da Europa. 
























Com metade do elenco figurando em grandes times da Premier League inglesa, a seleção vermelha obteve uma campanha irrepreensível no Grupo A das eliminatórias europeias, somando 25 pontos em 27 possíveis (oito vitórias e um empate). Além de jovem, a equipe do técnico Marc Wilmots joga para frente num 4-3-3 tradicional, com destaques para o goleiro Courtois, do Atlético de Madrid, o meia Hazard, do Chelsea, o atacante Lukaku, do Everton.

TÔ DE OLHO 1: Thibaut Courtois é um gigante no tamanho (1m99) e debaixo das traves. Atual campeão espanhol e vice europeu pelo Atlético de Madrid, é uma das grandes apostas do técnico Marc Wilmots.

Os belgas encabeçam o Grupo H, que conta com Argélia, Rússia e Coreia do Sul, e não deverão ter dificuldades para conquistar o primeiro lugar da chave. Entretanto, podem já nas oitavas de final enfrentar um adversário de peso, como Alemanha ou Portugal, e, indo mais longe, a Argentina nas quartas. O que virá a partir daí é lucro para uma seleção que promete empolgar, e é favorita para ganhar a Copa. De 2018.

TÔ DE OLHO 2: o jovem Adrian Januzaj, 19, do Manchester United, teve a possibilidade de vestir a camisa do English Team, mas acabou optando por manter o vermelho também na seleção. 

ESQUEMA TÁTICO

4-3-3, com variação para o 4-3-2-1. Witsel é um volante técnico que sobe bem ao ataque e Hazard pode jogar tanto como um meia-atacante, mais recuado, quanto como ponta. 



Histórico em Copas (clique para ampliar)



Cacá Zulino, 
músico e apreciador de cerveja bem gelada e de futebol bem jogado






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