Miércoles, 24/6 : El Dedo de Díos
A
capital chilena amanheceu com dezenas de milhares de pessoas marchando pelas
amplas avenidas do centro da cidade. Na principal delas, a Avenida Libertador
Bernardo O'Higgins, professores e alunos, juntos, cantaram contra o governo de
esquerda da presidente Michelle Bachelet, cuja promessa de reforma
universitária ficou aquém de suas expectativas. Com cartazes, faixas e até um
dragão chinês, os manifestantes desfilaram toda a sua indignação, com
criatividade e organização. Indignação que não foi exclusividade dos chilenos
neste dia.
À
noite, Chile e Uruguai abriram a fase de mata-mata da Copa América, num gélido
Estádio Nacional, abarrotado de hinchas e de esperança. O frio inebriante se
limitou às arquibancadas, onde cachorros agasalhados se misturavam aos
torcedores. Em campo, chilenos e uruguaios se embrenharam em acaloradas
discussões. A principal delas, logo após a ‘dedada’ de Gonzalo Jara em Edinson Cavani
— que culminou na expulsão do uruguaio —, decidiu a partida. Revoltada com o
árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci, a Celeste foi presa fácil para La Roja,
que pressionou até alcançar o gol, a cinco minutos do apito final, com Mauricio
Isla. O atual campeão, maior da história do torneio, estava fora.
Viernes, 26/6 : Nostalgia à Beira-Mar
Capital
turística do Chile, Viña del Mar possui algumas das melhores praias do país. Mas
quem roubou a cena no fim de tarde foi a belíssima lagoa que permeia o Estádio
Sausalito. No fundo de suas águas, dizem, repousa uma bola chutada por
Garrincha, na Copa de 62. A esmagadora torcida colombiana também tinha suas
memórias: cantou a plenos pulmões “5 a 0 de nuevo”, em alusão ao histórico
placar obtido em 1993, em Buenos Aires, pelas Eliminatórias da Copa de 94.
Em
campo, Messi e seus companheiros não deram ouvidos. A intensa pressão argentina
durante toda a partida não resultou em nada além da consagração do goleiro Ospina,
que quando não fez milagre foi salvo pela zaga ou pela trave. A decisão por
pênaltis foi inevitável, assim como as más lembranças para os hermanos.
Quatro
anos antes, como anfitriã da competição, a Argentina perdeu a vaga nas
semifinais para o Uruguai na marca da cal. Confiantes em um desfecho diferente
desta vez, os argentinos acertaram suas quatro primeiras cobranças. Tiveram a
chance da classificação nas mãos, porém os pés de Biglia e Rojo desperdiçaram dois “match
points”. Quando o colombiano Murillo,
impecável na zaga durante os 90 minutos, cobrou a penalidade na lua — por pouco
a bola do zagueiro não foi ao encontro da de Garrincha —, coube a Carlitos
Tévez a responsabilidade de definir. E foi justamente o homem que desperdiçou a
cobrança decisiva em 2011 que bateu com extrema categoria e se redimiu, classificando
a Argentina.
Sábado, 27/6 : O Fantasma Paraguaio
Cobertura,
um novíssimo sistema de iluminação e tantas outras reformas transformaram o
Estádio Ester Roa, em Concepción, no mais moderno da competição. Entretanto, os
alicerces do reinaugurado estádio guardam um passado de prisões e torturas políticas
dos tempos da ditadura chilena, além da fama de assombrações, segundo relatos
de funcionários. Mas mal-assombrado mesmo estava o time brasileiro.
Brasil,
Paraguai, Copa América, quartas de final, pênaltis. Uma combinação que
definitivamente não dá certo. A Seleção até que começou bem, com confiança e
bom toque de bola. Assim nasceu o gol de Robinho, aos 14min do 1º tempo, depois
de uma rápida troca de passes e o cruzamento de Dani Alves. Porém, na etapa
final, o Brasil não suportou a pressão paraguaia. Numa das muitas bolas aéreas,
aos 25min, Thiago Silva fez a besteira de por a mão na bola e ofereceu de
bandeja o empate: Derlis González cobrou e empatou. Assustada, a Seleção
Brasileira viu novamente o fantasma paraguaio dos pênaltis pela frente.
Fernandinho,
Miranda e Philippe Coutinho converteram suas cobranças, mas a falta de pontaria
voltou a assombrar os cobradores brasileiros. Éverton Ribeiro chutou para fora
e Douglas Costa cobrou na lua, lembrando muito os pênaltis de Elano e André
Santos, em 2011. Se vale de conforto, o aproveitamento brasileiro nas
penalidades foi melhor que na edição passada. E a seleção do discurso pronto se
calou novamente.
Lunes, 29/6 : O Clássico do Pacífico
132
anos depois de anexar a província peruana de Tarapacá na chamada "Guerra
do Pacífico", o Chile voltou a enfrentar o Peru; desta vez, no âmbito
esportivo. A primeira semifinal da Copa América teve sabor de clássico para os
rivais declarados — tão ferrenhos como Brasil e Argentina, segundo os hinchas
chilenos. Mais do que vencer o oponente, para o Chile era o penúltimo passo
antes da glória inédita.
O
Peru foi aguerrido. Perdeu o zagueiro Zambrano, expulso, ainda no 1° tempo, mas
jogou de igual para igual com os donos da casa. A tensão nas arquibancadas
refletiu o respeito e o temor diante do rival. Mas o Chile tinha Vargas, o
artilheiro da Copa América. O ex-gremista abriu o placar aos 41 do 1° tempo e
garantiu a classificação chilena à final num golaço de fora da área, aos 18 do 2°
tempo, logo após o gol contra de Medel, que quase complicou os anfitriões. Aos
gritos de "Sale Chile!", a vitória deixou a seleção sem títulos mais
perto de seu primeiro troféu. Mas o vizinho de Andes promete atrapalhar a
festa.
Martes, 30/6 : O Massacre da Argentina Elétrica
A
pretensão paraguaia de assombrar a Argentina teve efeito contrário: virou filme
de terror. O reencontro entre as duas seleções, desta vez, foi desigual —
empataram por 2 a 2 na primeira fase. A goleada passou pelos pés de Messi,
Pastore e Di María e terminou com seis gols de um futebol empolgante e,
finalmente, eficiente. De quebra, a equipe de Tata Martino alcançou mais gols
do que já tinha feito em toda a competição.
A
decisão contra o Chile, amanhã, no Estádio Nacional, confrontará um duelo de
jejuns de título: o de 22 anos, da seleção argentina, e o de 120 anos da
seleção chilena. O papel de favorito, comprovado e aprovado, é da Argentina.
Mas o Chile tem o estádio, a torcida e um time habilidoso. Como os chilenos têm
dito a semana toda, “si, se puede”.
Protestos na Avenida Libertador Bernardo O'Higgins |
Hinchas chilenos lotando o Estádio Nacional de Santiago, em Chile x Uruguai |