sexta-feira, 14 de março de 2014

1950 | O Trio de Ouro


A fase final da Copa do Mundo de 1950 foi espetacular — ao menos no que se refere à bola na rede. No total, 31 gols foram marcados, em seis partidas, o que dá uma média de pouco mais de cinco gols por jogo. E o principal responsável por essa incrível média foi a Seleção Brasileira.

O Brasil estreou no quadrangular decisivo contra a Suécia, dia 9 de julho, no Maracanã. Os suecos, todos amadores, haviam eliminado a Inglaterra na fase anterior e eram tidos como a grande surpresa do torneio. Naquela tarde, 138 mil pessoas presenciaram uma das mais inspiradas atuações da Seleção.

Retrancados, os escandinavos não davam espaço para o “trio de ouro” brasileiro, formado por Ademir, Zizinho e Jair. Jogando rigorosamente nos contra-ataques, a Suécia teve duas boas oportunidades nos primeiros minutos de partida. E só. Ademir, com um chute rasteiro, aos 17min, abriu a porteira. O próprio Ademir aumentou, aos 36min, e Chico, aos 39min, fechou a primeira etapa em 3 a 0.

O segundo tempo foi ainda mais arrasador. Em 13min, Ademir assinalou duas vezes e ampliou para 5 a 0. Os suecos diminuíram na cobrança de pênalti de Sune Andersson, mas Maneca e Chico, no fim do jogo, fecharam o placar em humilhantes 7 a 1. Foi a maior goleada do Brasil na história das Copas do Mundo.


Ademir contra o goleiro sueco Svensson: 4 a 0 para o brasileiro.


















Enquanto isso, no Pacaembu, o Uruguai penava diante da Espanha. A Celeste saiu na frente com Ghiggia, mas a Fúria virou em 7min, com dois gols de Basora. Há 10min do apito final, o gol de Obdulio Varela livrou os uruguaios da derrota: empate de 2 a 2.

Na 2° rodada, em 13 de julho, o Brasil enfrentou a Espanha, no Maracanã. O público foi ainda maior que na estreia contra a Suécia. Os 152 mil espectadores daquela partida viram mais um massacre dentro de campo. Porém, infelizmente, um também fora dele. A multidão, na fúria de entrar no estádio — empolgada com a goleada sobre os suecos —, se comprimiu sobre um muro externo, que cedeu e levou ao chão cerca de 100 torcedores. O tumulto resultou em uma pessoa morta e mais de 200 feridas.

O incidente não afetou o desempenho brasileiro. Com mais uma atuação de gala, a Seleção Brasileira não tomou conhecimento da forte Espanha. Apresentando um futebol de toques rápidos e envolventes, o Brasil abriu o placar aos 15min, num chute de Ademir, desviado por Parra. Com um gol de Jair, aos 21min, e outro de Chico, aos 31min, o Brasil virou o primeiro tempo da mesma forma que quatro dias antes: vencendo por 3 a 0.

Na volta do intervalo, a Seleção manteve o ritmo e deslanchou. Chico, aos 10min, Ademir, aos 12min, e Zizinho, aos 22min, estabeleceram a maior surra que a Fúria levou em Copas do Mundo: 6 a 1 — Igoa fez o gol de honra, aos 26min.


O goleiro espanhol Ramallets observa, pela última vez na partida, a bola entrar em seu gol.




















Uma partida impecável, que fez o drama do início do jogo desaparecer da mente das pessoas. Com a certeza do título, a torcida brasileira, no final, entoou a marchinha de carnaval “Touradas em Madri”, sucesso da época. Nas arquibancadas, um espetáculo de lenços brancos; no campo, um time espetacular.

Nem mesmo a vitória do Uruguai, na outra partida, contra a Suécia, tirou a confiança dos brasileiros. A vitória por 3 a 2 aconteceu de virada, com um gol de Míguez, a 5min do fim. Ao final da segunda rodada, o Brasil liderava o quadrangular final, com 4 pontos. O Uruguai, com 3 pontos, era o único capaz de atrapalhar a conquista brasileira. Espanha, com 1, e Suécia, com zero, já não tinham mais chances.


Uruguai 3 x 2 Suécia, no Pacaembu: o Brasil esteve mais perto do título no dia 13 do que no dia 16.

















O confronto direto aconteceria em 16 de julho, pela terceira e última rodada, e o Brasil jogaria pelo empate para ser campeão. Mas convenhamos, era impossível derrotar aquela máquina de gols, ainda mais em sua própria casa e apoiada por uma massa enlouquecida.

Naquele dia, o Brasil foi dormir em festa.

Eu fui às touradas em Madri / Para tim bum / Para tim bum /
E quase não volto mais aqui / Para ver Peri beijar Ceci


Jogadores brasileiros saúdam os torcedores depois da goleada sobre a Espanha: para eles, o Brasil já era campeão. 





















[continua]



Domingo, no De Letra na Copa:
16 de julho de 1950: o dia em que o Brasil parou.