quinta-feira, 12 de junho de 2014

Grupo A | Brasil

Hexageros





Alemanha, Argentina, Espanha. Antes de a bola começar a rolar na Copa do Mundo de 2014, essas são as únicas três seleções iguais ou um pouco superiores ao time de Felipão, em uma ordem muito mais alfabética que futebolística. Motivo suficiente para acreditar que o Brasil deve chegar, no mínimo, até as semifinais do evento que voltará a sediar depois de 64 anos, certo? Errado.

É que até mesmo antes das semifinais (brasileiros e espanhóis, por exemplo, podem se encontrar já nas oitavas) adivinhar quem se classifica passa a ser uma tarefa mais para a recentemente falecida Mãe Dináh do que para analista esportivo. Afinal, quem pode garantir a sobrevivência de qualquer time, por melhor que ele seja, em uma competição na qual, em caso de empates nos jogos eliminatórios, toda a sorte passa a ser decidida nos pênaltis? Mas vamos considerar, aqui, apenas as condições normais, mesmo sabendo que no futebol elas nem sempre se confirmam.

Então, dentro dessas tais condições normais, o Brasil está entre os quatro maiores favoritos. Com a vantagem nada desprezível de jogar em casa, contando com o apoio da torcida (sempre proporcionalmente maior em relação à pressão que isso acarreta), além da boa vontade da arbitragem — dessa vez, se ela não ajudar, é certo que prejudicar também não vai.

ESSE CONHECE: Depois de enterrar a fama de cai-cai, Neymar está à altura de comandar a Seleção Brasileira ao título.




















Com a volta de Luiz Felipe Scolari, e a partir da conquista da Copa das Confederações em 2013, o time pelo menos ganhou uma cara, coisa que jamais conseguiu ter nos tempos de Mano Menezes. Pela segunda Copa seguida, Júlio César será o goleiro, goste-se disso ou não. Sua efetivação, aliás, pode até ser considerada um avanço, diante de tantas tentativas frustradas de substituí-lo à altura.

Fato raro na história do futebol brasileiro, a defesa é o ponto mais alto, formada por jogadores consagrados em grandes times da Europa (Thiago Silva no PSG, da França, David Luiz no Chelsea, da Inglaterra, agora também no PSG) e dois laterais que apoiam muito melhor do que marcam (Daniel Alves, do Barcelona, pela direita, Marcelo, do Real Madrid, pela esquerda).

No meio, um único cão de guarda (Luís Gustavo) e várias opções de “volantes que sabem sair para o jogo”, uma espécie de substitutivo moderno para a ausência de bons meias, entre os quais apenas um deverá jogar: Paulinho, Fernandinho, Ramíres, Hernanes... O que falta, mesmo, é gente para criar, tarefa que Oscar até agora não conseguiu executar a contento e que não se sabe se Willian, caso entre em seu lugar, conseguirá executar.

FARO DE GOL: Fred é o artilheiro da Nova Era Felipão e a grande esperança de gols nessa Copa. 


















Lá na frente, a partir dessa segunda Era Felipão, a equipe voltou a atuar com um centroavante fixo, o chamado “homem de referência”. Nesse caso, ele atende pelo nome de Fred, jogador que no âmbito interno, com a camisa do Fluminense, tem deixado a desejar, mas na Seleção até agora jamais traiu a confiança do chefe.

Por trás de Fred, vem Neymar, de longe o jogador mais capacitado dessa equipe e um dos maiores destaques da própria Copa do Mundo. O único receio em relação a ele, que começa o Mundial em excelente forma física é o de uma possível ausência ao longo da Copa, seja por contusão ou suspensão. Tem também Hulk, que de patinho feio por não representar o protótipo do atacante brasileiro acabou garantindo um merecido lugar no time, à base de eficiência tática e ótimas finalizações.


Assim, o Brasil estreará em sua Copa com a impressão de ser um time certinho, porém “justo” demais, muito “na conta do chá”. E se algum dos jogadores da frente não puder atuar? E se nem o futebol de Oscar nem o de Willian “encaixar”? E se não conseguirmos achar um buraco na defesa da Croácia, por exemplo, logo de cara? São perguntas que Felipão não quer nem ouvir. Nem a gente.

FIQUE DE OLHO: Habilidoso e rápido, o garoto do Chelsea pode jogar tanto no meio quanto como um terceiro atacante. 




















NO ESQUEMA: 4-2-3-1


Os dois laterais têm liberdade para avançar, desde que Luiz Gustavo e Paulinho fiquem na contenção. Oscar centraliza a criação, municiando Hulk pela direita e Neymar pela esquerda. E Fred é o responsável por botar a bola na rede.

4-2-3-1 (clique para ampliar)





















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Celso Unzelte,
jornalista dos canais ESPN



Grupo A | Croácia

Os Quadrados Mágicos





Tudo começou no longínquo ano 925, quando o então duque Tomislav foi coroado Rei dos croatas, criando-se o reino que compreendia as terras desde o rio Drava até o mar Adriático. Hoje, ele seria o Luka Modrić, o cara que organizou tudo e fez a Croácia forte. O meio-campo do Real Madrid é o cara do time, principalmente após ter levantado a Liga dos Campeões este ano.

Este reinado durou até o final do século XI quando faleceu o último dos reis croatas, que nesta Copa será o goleiro Stipe Pletikosa, que joga no Rostov, da Rússia. Sim, ele é um ótimo goleiro, digno de ser um rei debaixo das traves, mas nada como torcer contra e esperar uma entregada, que acabe com a Croácia na Copa.

ESSE CONHECE: Modrić pode ser tanto um volante como um meia, e realiza ambas as funções com qualidade.


















Continuando a história, após os húngaros e mais um monte de gente tentar manter-se no comando, nove séculos depois a Croácia voltou a ser Croácia de novo, separando-se de diversos países que formavam a Iugoslávia: Eslovênia, Croácia, Bósnia & Herzegovina, Macedônia, Montenegro, Sérvia, Kosovo e Vojvodina.

O primeiro presidente eleito, responsável pela independência croata, foi Franjo Tudjman, o cara que deu esperança a todos, e que hoje em dia seria o Mario Mandzukić. Centroavante do time, artilheiro do Bayern e a esperança de gols, Mandzukić ganhou tudo em 2013 e quase tudo em 2014 — esperamos que fique no quase em 2014 por aqui.

E como essa coisa de unificar e separar territórios sempre fez parte da história do país, para se sentir em casa nesta Copa a equipe conta com um infiltrado que virou a casaca: Eduardo da Silva (mas que nome esquisito para um croata, não?). Pois é, o brasileiro se naturalizou e, hoje, volta para casa e enfrenta a Seleção Brasileira logo na estreia. Ele disputará a vaga de Mandzukić, suspenso, com Jelavić.

FIQUE DE OLHO: Mario Mandzukić tem faro de gol e é ótimo nas jogadas aéreas. 



















Contando com ainda outros bons jogadores, como Perišić e Rakitić, o time espera superar o feito de 1998, quando a Croácia chegou às semifinais. E nada melhor do que começar a campanha da melhor campanha da história jogando contra o anfitrião, sem nada a perder.

NO ESQUEMA: 4-4-2


A equipe de Niko Kovac é experiente, por isso o técnico atribuiu diversas funções a um mesmo jogador. São os casos de Modrić, Kovacić e Pranjić, que podem transformar o 4-4-3 de Kovac num 4-2-3-1.

4-4-2 (clique para ampliar)













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André Arantes,
amigo do moderador e sócio da Agência Pipeline (facebook.com/AgenciaPipeline)



Grupo A | Camarões

Tudo Tem seu Preço




O multimilionário e polêmico Samuel Eto´o Fils, 33 anos, é, apesar de tudo, um herói nacional. Considerado o maior jogador camaronês — e africano — do século XXI, conquistou o bem mais valioso da história do time verde, amarelo e vermelho em todos os tempos: a cobiçada medalha de ouro dos Jogos Olímpicos do ano 2000, superando simplesmente Brasil e Argentina.

Ademais, Eto´o tem uma trajetória valiosa nos clubes onde passou, com destaque para os dois títulos da UEFA Champions League, conquistados tanto no Barcelona como na Internazionale de Milão.

Não obstante, a conquista mais impressionante ocorreria no ano de 2011, quando foi contratado pelo desconhecido e superfaturado time russo do Anzhi Makhachkala, com o maior salário anual da história do futebol: 20 milhões de euros.Tais valores representam simplesmente 0,11% do PIB de sua pátria.

Camarões tem uma população de 21,7 milhões de habitantes, e, como boa parte da África centro-ocidental, tem uma condição média de vida que beira o miserável. Sua população ganha aproximadamente US$ 1150 por ano, o que significa que cada cidadão vive com cerca de R$ 200 por mês.

Etoó recebe de salário o mesmo que 300 mil compatriotas, o que significa que um cidadão de Yaoundé teria que trabalhar 25 mil anos para ganhar o mesmo que Samuel conquista em 12 meses de futebol.


















Aberrações capitalistas como essas seriam motivo para revolta, especialmente em um país tão desprovido de recursos como Camarões. No entanto, a alegria provocada pelos gols e dribles do artilheiro parece não ter preço para a sofrida população de seu país, inebriada pelo fantasioso e contraditório mundo do futebol e seus semideuses imperfeitos. O lado divino do astro camaronês se expressa pela solidariedade prestada junto a milhares de crianças através da fundação que leva seu nome desde 2006 e assiste alguns países do oeste da África.

Um fato menos nobre, mas também simpático do camisa nove dos “Leões Indomáveis” tem a ver com a recente comemoração de seus gols. Ao girar o dedo levantado, Eto´o está sinalizando aos donos dos bares da periferia de Yaoundé que pode liberar uma rodada de bebidas a seus inúmeros fãs e torcedores que não desgrudam os olhos da TV. O craque faz, inclusive, pagamento adiantado para a celebração no local onde ainda estão boa parte de seus amigos e parentes.

Contudo, o pobre lado de cobiça e vaidade humanas estão também presentes em sua trajetória. Samuel não abriu mão de 60% de seus vencimentos no novo clube, o Chelsea, por altruísmo. Seu futebol foi eclipsado em uma liga secundária e a idade chegou. Desse modo, mesmo dando sua contribuição ao time de José Mourinho, é notório que seu auge já passou. Ainda assim, permanecem estratosféricos os 8 milhões de euros anuais que recebe.

ESSE CONHECE: Samuel Eto'o fez 117 partidas por Camarões e, com 56 gols, é o maior artilheiro da história da seleção.


















Além disso, suas brigas com dirigentes, técnicos e jogadores de Camarões são comuns, sendo o motivo principal as regalias que solicita e recebe. A mais recente é a exigência de uma suíte com decoração neoclássica, cromoterapia, hidromassagem e TV que se move da sala para o quarto, no hotel situado na concentração de Camarões, em Vitória (ES). Em contrapartida, seus mortais colegas de seleção estão se hospedando em apartamentos onde o maior luxo é o ar condicionado barulhento e um frigobar abastecido com castanhas de caju.

Há relatos que as confusões de 2010 se perpetuaram e se agravaram, pois os convocados parecem preocupados apenas com o dinheiro advindo da pretensa premiação pelas conquistas em solo tupiniquim. Tais ganhos, pelo jeito, não virão, mais pela postura mercenária e egoísta de seus jogadores, capitaneados por Eto´o, e menos pela ausência de talentos na equipe, já que Song, Assou-Ekotto, Matip e M´bia se destacam em importantes equipes da Europa.

Com tudo isso, os “Leões Indomáveis”, que poderiam ser um time competitivo e repetir dignas campanhas como as de 1982 e 1990, devem ver sua cotação na bolsa de apostas despencar. Afinal, seu líder e ídolo maior continua transitando entre a riqueza da solidariedade e a avareza de sua vaidade.

FIQUE DE OLHO: Jan-Eric Choupo-Moting tem um nome complicado, mas joga um futebol simples, com velocidade, passes e arremates ao gol.



















NO ESQUEMA: 4-5-1


No time do alemão Volker Finke, Eto'o joga também na armação. Os laterais Nyom e Assou-Ekoto assumem uma postura ofensiva com a posse de bola camaronesa, e voltam para marcar sem ela.  


4-5-1 (clique para ampliar)




















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Rafael Bauer,
professor de turismo e pai do Anakin