Numa
manhã tranquila de junho de 1865 as tropas paraguaias de Solano López
desembarcaram perto de São Borja, às margens do Rio Uruguai, e foram recebidas
com tiros de carabina pelos gaúchos. O ditador alimentava o sonho de formar o
Grande Paraguai, que abrangeria as regiões argentinas de Corrientes e Entre
Rios, o Uruguai, o Mato Grosso, o próprio Paraguai e, claro, o Rio Grande do
Sul. Para ele, Porto Alegre era um ponto estratégico da batalha, porém jamais conseguiu
alcançar as cercanias da cidade. A rendição paraguaia veio três meses depois,
em Uruguaiana, e o conflito contra a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e
Uruguai) só terminou em 1870. Um século e meio depois, os paraguaios finalmente
chegaram à capital gaúcha. E travaram mais uma guerra de nervos.
O duelo entre Brasil e Paraguai pelas quartas de final da Copa América de 2019 foi tenso, como sempre. Postada numa linha defensiva de cinco jogadores, a Albirroja mostrou o que sabe fazer de melhor: se defender. Parece que, enquanto aqui as crianças sonham em ser um Pelé, lá em Assunção elas almejam ser um Gamarra. Os paraguaios são viciados em empates, adoram uma retranca e, pior do que isso, viraram nossos algozes — perdemos nos pênaltis para eles as Copas Américas de 2011 e 2015. Que currículo o da Seleção Brasileira: duas derrotas na marca da cal para um time que só tem uma vitória na década pela competição continental.
Foi
um massacre do primeiro minuto do 1° tempo até os 52 do 2° tempo. A Seleção
finalizou 25 vezes ao gol de Gatito e teve nove chances reais de gol. Não foi à
toa que o goleiro botafoguense saiu de campo eleito o melhor jogador da partida
pela quarta vez seguida no torneio. Isso porque o Brasil jogou praticamente a
segunda etapa inteira com um homem a mais, depois que o VAR dedurou ao árbitro
chileno Rodrigo Vargas que não tinha sido pênalti de Balbuena em Firmino — ele
expulsou o defensor paraguaio. Mas o que Gatito fez nos 90 minutos, não fez nos
pênaltis. Não pegou nenhuma cobrança brasileira e deixou a glória da pequena
área para o goleiro campeão europeu pelo Liverpool. Alisson, ídolo do
Internacional, foi herói na casa do antigo rival: pegou a cobrança do
palmeirense Gustavo Gómez e ajudou na classificação canarinho às semifinais.
Lá
se foram os fantasmas dos pênaltis de Elano e André Santos nas nuvens, de Thiago
Silva telegrafando nas mãos de Villar, de Fred errando à meia altura, de
Everton Ribeiro rolando para fora e de Douglas Costa botando por cima. A guerra
dos pênaltis contra o Paraguai, depois de longos oito anos, chegou ao fim.
Mas
qual Brasil chega às semifinais da Copa América após 12 anos? A Seleção inoperante
contra Venezuela e Paraguai ou a Seleção eficiente contra Bolívia e Peru? Boa
pergunta.