sexta-feira, 28 de junho de 2019

As Guerras do Paraguai




Numa manhã tranquila de junho de 1865 as tropas paraguaias de Solano López desembarcaram perto de São Borja, às margens do Rio Uruguai, e foram recebidas com tiros de carabina pelos gaúchos. O ditador alimentava o sonho de formar o Grande Paraguai, que abrangeria as regiões argentinas de Corrientes e Entre Rios, o Uruguai, o Mato Grosso, o próprio Paraguai e, claro, o Rio Grande do Sul. Para ele, Porto Alegre era um ponto estratégico da batalha, porém jamais conseguiu alcançar as cercanias da cidade. A rendição paraguaia veio três meses depois, em Uruguaiana, e o conflito contra a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) só terminou em 1870. Um século e meio depois, os paraguaios finalmente chegaram à capital gaúcha. E travaram mais uma guerra de nervos.





O duelo entre Brasil e Paraguai pelas quartas de final da Copa América de 2019 foi tenso, como sempre. Postada numa linha defensiva de cinco jogadores, a Albirroja mostrou o que sabe fazer de melhor: se defender. Parece que, enquanto aqui as crianças sonham em ser um Pelé, lá em Assunção elas almejam ser um Gamarra. Os paraguaios são viciados em empates, adoram uma retranca e, pior do que isso, viraram nossos algozes — perdemos nos pênaltis para eles as Copas Américas de 2011 e 2015. Que currículo o da Seleção Brasileira: duas derrotas na marca da cal para um time que só tem uma vitória na década pela competição continental.

Foi um massacre do primeiro minuto do 1° tempo até os 52 do 2° tempo. A Seleção finalizou 25 vezes ao gol de Gatito e teve nove chances reais de gol. Não foi à toa que o goleiro botafoguense saiu de campo eleito o melhor jogador da partida pela quarta vez seguida no torneio. Isso porque o Brasil jogou praticamente a segunda etapa inteira com um homem a mais, depois que o VAR dedurou ao árbitro chileno Rodrigo Vargas que não tinha sido pênalti de Balbuena em Firmino — ele expulsou o defensor paraguaio. Mas o que Gatito fez nos 90 minutos, não fez nos pênaltis. Não pegou nenhuma cobrança brasileira e deixou a glória da pequena área para o goleiro campeão europeu pelo Liverpool. Alisson, ídolo do Internacional, foi herói na casa do antigo rival: pegou a cobrança do palmeirense Gustavo Gómez e ajudou na classificação canarinho às semifinais.

Lá se foram os fantasmas dos pênaltis de Elano e André Santos nas nuvens, de Thiago Silva telegrafando nas mãos de Villar, de Fred errando à meia altura, de Everton Ribeiro rolando para fora e de Douglas Costa botando por cima. A guerra dos pênaltis contra o Paraguai, depois de longos oito anos, chegou ao fim.


Mas qual Brasil chega às semifinais da Copa América após 12 anos? A Seleção inoperante contra Venezuela e Paraguai ou a Seleção eficiente contra Bolívia e Peru? Boa pergunta.



quarta-feira, 26 de junho de 2019

Meu Adversário Favorito




Pode-se até dizer que o Brasil é favorito para ganhar a Copa América, mas não dá para afirmar que vai passar fácil pelas quartas de final. Depois de destroçar o Peru por 5 a 0 no último sábado — disparada a melhor atuação brasileira na competição —, o time de Tite terá pela frente um indigesto adversário, responsável pela eliminação da Seleção nas últimas duas vezes em que esteve no mata-mata da Copa América, ambas na fase de quartas de final: em 2011, na Argentina, e em 2015, no Chile. Nas duas oportunidades, a derrota saiu nos pênaltis. E sabe para quem? Paraguai.




Pênalti que o santista Derlis González desperdiçou contra a Argentina no empate por 1 a 1 em Belo Horizonte, pela 2° rodada do Grupo B — cobrança defendida pelo bom goleiro Armani. Se tivesse convertido, a seleção paraguaia não teria entrado para a história como uma das duas seleções que conseguiram avançar ao mata-mata com apenas dois pontos somados na fase de grupos. O México, em 1993, chegou até a final, quando perdeu para a Argentina, no último título dos hermanos. Sim, é um recorde um tanto estranho para uma seleção de futebol. Mas ainda mais estranho é perder duas Copas Américas seguidas, nos pênaltis, para um rival sem peso — o Paraguai tem apenas uma vitória nos últimos 18 jogos do torneio.

Se o Brasil tem uma pedra no sapato pelo caminho, o atual bicampeão sul-americano, o Chile, tem uma rocha inteira. A Colômbia, adversária de sexta-feira, em São Paulo, não só é a única equipe com 100% de aproveitamento na Copa América, como também não sofreu nenhum gol. A campanha cafetera desperta a confiança de voltar a levantar a taça mais cobiçada do continente. Em 2001, no único título, o desempenho na 1° fase foi parecido, com três vitórias e nenhum gol sofrido. Mas o Chile, como já foi dito, é o atual detentor do caneco. Promessa de ser o melhor jogo das quartas.

E o que dizer da Celeste, reconhecidamente uma seleção de brio? Depois de superar o mar vermelho de chilenos no Maracanã, os uruguaios enfrentarão um Peru em frangalhos, depois de ser goleado pela Seleção Brasileira. Pior para o time do técnico Gareca, que vai ter pela frente os dois jogadores que mais finalizaram na 1° fase: os uruguaios Suárez (18) e Cavani (12). A Argentina, por sua vez, não vai ter moleza contra a Venezuela. Depois de passar 44 anos sem saber o que era ao menos um empate contra os platinos, a seleção vinotinto, desde 2011, obteve duas vitórias e dois empates em seis jogos no confronto. No último deles, em março deste ano, os venezuelanos venceram por 3 a 1, em amistoso disputado em Madrid, com o mesmo time-base da Copa América. Será que Messi vai conseguir furar o paredão venezuelano? Já se foi o tempo em que a Argentina era favorita. Ainda mais contra a Venezuela.




quarta-feira, 19 de junho de 2019

Olha O Que Eles Não Fizeram





Lá se vão 20 anos desde que Ronaldinho Gaúcho estreou na Seleção Brasileira dando um chapéu no zagueiro Rey, um toque sutil para se livrar da marcação de Rojas e um chute à queima-roupa diante do goleiro Vega. O "Olha o que ele fez!" foi o quinto dos sete gols do Brasil naquela noite em Ciudad del Este, no Paraguai, contra a Venezuela foram seis vitórias na conquista do título da Copa América de 1999. Naquela época, a Venezuela não metia medo em ninguém. Até que o seu Adenor virou técnico da Seleção Brasileira.







Salvador sempre foi considerada uma cidade "anti-vaia". A expectativa da CBF de ser bem recebida no Nordeste virou um clichê, assim como os paulistas são exigentes e os cariocas... bem, os cariocas não veem a seleção principal jogar no Maracanã há seis anos. Mas Salvador é isso: diferente. Os instrumentos foram do Pelourinho até o estádio e entraram. Foram 90 minutos de batucadas nas arquibancadas da Fonte Nova. Mas só axé não basta. Tem que jogar bola. E quando o Brasil se torna o primeiro anfitrião de Copa América a perder pontos para a Venezuela, o torcedor perde a paciência com razão.

Mas sejamos sinceros: o Brasil não teve uma atuação tão ruim quanto a do 1° tempo no Morumbi, diante da Bolívia. Apesar da timidez de Coutinho, os laterais Daniel Alves e Filipe Luís apoiaram bastante, o que ajudou a abrir espaços no ferrolho venezuelano. Porém, ainda no 1° tempo, a falta de criatividade começou a irritar a torcida, que chiava a cada passe errado. A Seleção até chegou a marcar, com Richarlison, aos 38min, mas a arbitragem de Julio Bascuñan flagrou uma falta do atacante no defensor venezuelano.

Tite apostou em Gabriel Jesus no 2° tempo. O Brasil ficou mais incisivo, com o menino do City pela esquerda, o menino do Ajax pela direita e o atacante do Liverpool no meio. Aos 15min, Firmino tocou para Jesus que completou para o gol. Mas a jogada esbarrou no VAR e o gol foi anulado o camisa 20 estava impedido. Com problemas na parte ofensiva, Tite tirou Casemiro e promoveu a entrada de Fernandinho. A Fonte Nova quase veio abaixo: o estádio vaiou em coro a entrada do volante.

Ansioso, o time exagerou em lançamentos. Aos 26min, de tanto a torcida pedir, Everton Cebolinha entrou. Já na primeira bola tentou de fora da área, mas pegou mal e errou por muito. Nos minutos finais, o atacante do Grêmio partiu para cima da zaga venezuelano e rolou para Coutinho, na área, empurrar para o gol. A Fonte Nova explodiu. Mas a bola tocou em Firmino, impedido, antes de entrar, e o VAR mais uma vez acabou com a festa baiana. Com o acréscimo de 9 minutos no relógio "até fazer o gol" , parte da torcida gritou "olé" para os venezuelanos. Nas 15 vezes em que o Brasil finalizou,  só cinco foram em direção ao alvo. Nada impediu um final de jogo sem gols e sem aplausos.




A Venezuela deixou de ser o patinho feio da América do Sul há muito tempo. Dos últimos oito confrontos entre as duas seleções, o Brasil venceu quatro, empatou três e perdeu um. Enquanto Tite fala em um novo ciclo na Seleção com Daniel Alves (36), Thiago Silva (34), Miranda (34), Fernandinho (34) e Filipe Luís (33) no elenco, o técnico vinotinto Rafael Dudamel, ex-goleiro da seleção, dá aula de renovação: há dois anos, foi vice-campeão mundial sub20. E onde está a seleção sub20 do Brasil, que nem para o Mundial deste ano se classificou? O futuro do futebol brasileiro é incerto.

O fato é que Tite aposta em um modelo de jogo sem flexibilidade, bem definido, que não tem funcionado pelo rigor exagerado dos jogadores em manter posição. O resultado disso é um futebol burocrático que não arranca aplausos. E faz o torcedor arrancar os cabelos.



terça-feira, 18 de junho de 2019

Com 'La Pulga' Atrás da Orelha



4 de julho de 1993. Com dois gols de Batistuta, a Argentina vence o México por 2 a 1, em Guayaquil, e conquista seu 14° título sul-americano. 5 de setembro de 1993. Dois meses depois, pelas Eliminatórias da Copa dos EUA, a seleção alviceleste leva uma acachapante goleada por 5 a 0 da Colômbia em pleno Estádio Monumental de Núñez, com dois gols de Rincón e Asprilla. Além da humilhação, a Argentina perde uma invencibilidade de 31 jogos — não perdia desde a final da Copa de 90, para a Alemanha — e sofre sua primeira derrota em casa na história das Eliminatórias. Depois desse dia, a seleção argentina nunca mais foi a mesma. Nem a Colômbia.


Rincón marca o primeiro: com dribles desconcertantes e lances estonteantes, a dupla Asprilla & Rincón infernizou a zaga argentina naquela que é considerada a maior vitória da história da Colômbia.
















Curiosamente, o jogo em Buenos Aires foi um divisor de águas para ambas as seleções. Após o vexame, Diego Maradona voltou ao time para ajudar a Argentina na repescagem contra a Austrália. Entretanto, no Mundial do ano seguinte, Dieguito caiu no antidoping, ofuscando o belo futebol da seleção no início do torneio. A Argentina acabou eliminada pela Romênia (3 a 2) nas oitavas de final, num dos melhores jogos da história das Copas. Lionel Messi tinha 7 anos.

Por outro lado, a goleada colocou a Colômbia no mapa do futebol. A seleção 'cafetera' virou favorita para ganhar a Copa, segundo o Rei Pelé — o que, acredite, era um palpite bastante respeitável à época. Mas o sucesso subiu à cabeça, e a Copa de 94 foi um absoluto desastre para o futebol colombiano, que acabou com o assassinato do zagueiro Andrés Escobar. Porém, ao longo prazo, aquele time entrou para história, inspirando as gerações que viriam depois.

Foram sete anos de espera até a seleção que encantou o mundo levantar uma taça — sua primeira e única. Sede da Copa América de 2001, a Colômbia já não tinha Valderrama e nem Asprilla, mas contava com o apoio de um país inteiro que se anestesiava com o futebol diante da mistura de tensão social, insegurança e medo. Não deu outra: o time 'cafetero' ganhou todas as sete partidas que fez, com 11 gols a favor e nenhum contra. A seleção mudou a cara do país. James Rodríguez tinha 10 anos.


Iván Córdoba marca contra o México o gol do título. Muitos alegaram que a Colômbia só ganhou a Copa América porque a Argentina havia desistido de participar, devido ao clima de guerra civil.



















Sábado, na Fonte Nova, James e Messi voltaram a se encontrar. Um confronto marcado pela supremacia do craque argentino, que somava quatro vitórias e dois gols no duelo com o colombiano, incluindo jogos entre seleções e Barça x Real. A expectativa era grande, mas a monotonia tomou conta do 1° tempo, praticamente sem lances de perigo dos dois lados — ainda que a Colômbia tenha tido mais posse de bola. James se escondeu na marcação adversária e Messi brincou de gato e rato com o próprio time: se voltava para buscar a bola o time não tinha poder ofensivo, se ia para perto da área a bola não chegava.

Depois do intervalo, a Argentina voltou mais acesa e dominou os primeiros 25 minutos. Até que James resolveu jogar e lançou para Roger Martínez; ele acertou um chute "alá Cebolinha", sem chances para Armani, e abriu o placar. 15 minutos depois, em mais uma jogada pela esquerda da defesa argentina, Tesillo cruzou rasteiro e Zapata, esperto entre os zagueiros, desviou para o gol. Era, enfim, a vitória de James no duelo de seleções.

Roger Martínez entrou ainda no 1° tempo após a lesão de Muriel. O jogador passou pelas
categorias de base de quatro times argentinos, entre eles Boca Juniors e Racing.




















A derrota na estreia trouxe de volta os fantasmas do passado: pressão sobre um técnico inexperiente, a falta de títulos e as cobranças em cima de Messi. Mas a verdade seja dita: a culpa é de Asprilla & Cia, que acabaram com a moral dos argentinos lá atrás.


A seleção argentina não tem jogo coletivo e depende
exclusivamente dos lampejos de Messi, o que não têm acontecido.




sábado, 15 de junho de 2019

Vaca Verde e Amarela





São Paulo nessa sexta-feira, 14, teve greve geral, mas a cidade não parou. Motoristas de ônibus, ferroviários e motoboys não aderiram ao protesto contra a reforma da Previdência, e ônibus e trens da CPTM funcionaram normalmente durante o dia. À noite, os motoristas, ferroviários e motoboys assistiram à estreia da Seleção Brasileira na Copa América. Pela televisão.

O Morumbi estava bonito, é verdade. Envelopado com a identidade visual da competição, a grande novidade do estádio vinha das arquibancadas: os novos telões. Dois gigantes de 20,16 metros de largura por 7,68 metros de altura, que pesam 24 toneladas cada. E mesmo com uma resolução de imagem de 2016 x 768 pixels — proporcionando uma espetacular qualidade de imagem —, nada irritou mais do que o locutor blasé repetindo em três línguas todos os eventos dentro de campo (out, sale, sai). Somado aos fogos de artifício e aos canhões de luz, parecia uma noite de rock no Morumbi: ambiente, preço e público de show.

A torcida, por sua vez, foi um caso à parte. Chamada de elitista, cantou o hino à capela e ensaiou uma "ola", mas logo caiu na apatia e se tornou indiferente. Em alguns momentos, o silêncio tomou conta do estádio. Manifestações esparsas de clubismo e homofobia deram novamente as caras e, como em anos anteriores, a Seleção não empolgou o torcedor paulistano. A última reação da torcida foi de espanto, no final do jogo, quando anunciaram os mais de 22 milhões de reais de renda (em três línguas) — superando em 2 milhões a renda do São Paulo FC, dono do estádio, nos 15 jogos como mandante na atual temporada.


A torcida de Instagram se esbaldou com a cerimônia de abertura.
Depois teve torcedor que dormiu durante o jogo.
























O Brasil entrou de camisas brancas em homenagem ao centenário da primeira edição da Copa América, jogada e vencida pelo Brasil. A Seleção não atuava de branco em partidas oficiais desde o fatídico dia do 'Maracanazo' (clique aqui para ler "1950 | O Dia em que o Brasil Parou"). Em campo, o time sofreu com a defesa boliviana, ainda que nenhuma chance tenha sido criada contra o gol de Lampe no 1° tempo. Tite mostrou uma cautela excessiva, com Fernandinho e Casemiro contra uma Bolívia inoperante. A equipe jogou bastante pelos lados, com Richarlison e Neres, mas a falta de criatividade não impediu os jogadores de serem vaiados na saída para o intervalo.  

A reação veio logo no início do 2° tempo, com uma ajudinha do VAR — a primeira intervenção do árbitro de vídeo na história da Copa América. Após o cruzamento de Richarlison, a bola tocou no braço de Jusino. O árbitro Nestor Pitana deu aquela corridinha até o monitor na beira do gramado e não teve dúvidas: pênalti. Coutinho bateu com extrema categoria e abriu a porteira boliviana. Não demorou muito e Coutinho voltou a marcar. Desta vez, aproveitando o cruzamento de Firmino com um toque sossegado de cabeça na pequena área. Tite mexeu no ataque, e entraram Gabriel Jesus, Willian e Everton Cebolinha. O plano do técnico se mostrou infalível: aos 39min, o endiabrado jogador do Grêmio recebeu pela esquerda, cortou para dentro e soltou um tijolo contra o gol de Lampe, que nem se mexeu: 3 a 0, goleada.

Com o triunfo sobre a Bolívia, a Seleção Brasileira chegou a sua 100° vitória em Copas Américas.























Há 40 anos, o Brasil jogou contra a Bolívia, pela Copa América, no estádio do São Paulo FC. Naquele dia, os torcedores viram um 1° tempo sem gols, vaiaram o time na ida para os vestiários, e o primeiro gol saiu no começo do 2° tempo. A única diferença foi que, em 1979, a torcida estava inquieta. Já em 2019, estava quieta.

Zico (foto) fez o segundo gol da vitória brasileira por 2 a 0 contra a Bolívia, no Morumbi, em 1979.
Após o gol, o Galinho partiu para cima do zagueiro boliviano e iniciou uma confusão generalizada.
























"Vaca verde e amarela
Matou de canela
Quem falar primeiro
Pega terça a Venezuela"




terça-feira, 11 de junho de 2019

O Último Samba em Paris





Certa vez, andando pelas ruas de Roma, o cineasta Bernardo Bertolucci viu uma mulher desconhecida e imaginou ter relações sexuais com ela sem nem saber quem era. Nascia a ideia de um dos filmes mais polêmicos do cinema, que chegou a ser proibido no Brasil por causa da censura militar. Em "O Último Tango em Paris", de 1972, Marlon Brando interpreta um viúvo americano que mantém uma tórrida paixão com uma jovem parisiense de 19 anos, vivida por Maria Schneider. O casal decide não saber nada um do outro, nem mesmo o nome. Os encontros inusitados têm seu ápice quando Brando abusa da garota usando um tablete de manteiga na falta de lubrificante. O filme destruiu a vida da atriz, que se sentiu humilhada com a forma como a cena do estupro foi filmada.


O diretor Bernardo Bertolucci conversa com Brando e Schneider durante as
filmagens do filme, que se tornou um símbolo da violência sexual no cinema.




















Semana passada, Paris voltou a ser palco de um escândalo sexual; desta vez, na vida real. O encontro amoroso entre Neymar Júnior e Najila Trindade sacudiu as redes sociais e virou caso de polícia. Chamado de "armadilha" pelo pai, o episódio repercutiu mundo afora e manchou a imagem do jogador. Dias depois, em amistoso pela Seleção, Neymar rompeu o ligamento do tornozelo direito e foi cortado da Copa América. Ontem, sem Neymar, no último amistoso antes da estreia, o Brasil obteve sua maior vitória sob o comando de Tite: 7 a 0, diante de Honduras.

Jogadores comemoram um dos sete gols da goleada. Brasil e Honduras se enfrentaram exatamente quatro anos atrás em um amistoso também no Beira-Rio. A diferença ficou apenas no placar: 1 a 0, gol de Firmino.
















Coincidência ou não, a verdade é que a Seleção Brasileira há muito tempo não precisa mais tanto assim de Neymar. Apesar disso, a CBF continua endeusando o jogador. Neymar tem mais poder que os próprios dirigentes da entidade, que o técnico Tite e todos os mais de 70 convocados por ele juntos. Uma postura bajuladora que transforma Neymar em algo maior que a própria Seleção. Sua saída da Copa América, mais que uma obviedade, foi uma necessidade.

O time possui outros nomes de expressão no cenário futebolístico mundial que precisam de espaço para crescer. Firmino é campeão europeu pelo Liverpool. Gabriel Jesus, da liga mais disputada do Velho Continente. Richarlison e David Neres deixaram de ser promessa e viraram realidade. Sem Neymar, o protagonismo desses atletas pode ganhar novos contornos. É mais ou menos como aconteceu na série da HBO, "Game of Thrones": matava-se o protagonista para que um coadjuvante assumisse o seu lugar. No caso da Seleção, Neymar perdeu, além da coroa, a faixa de capitão.



Enquanto isso, a gente segue com saudade do que ainda não viveu: um título na era Tite.



Neymar sai carregado do estádio em Brasília. 5 deputados protocolaram a criação de um projeto de lei que aumenta a detenção para quem denuncia falsamente ataques sexuais. Se for aprovado, será a 'Lei Neymar da Penha', pior que novela mexicana.