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No dia 20 de
julho de 1969, milhões de pessoas se aglomeraram em frente a rádios e
televisores de imagem pouco nítida para ver o astronauta americano Neil
Armstrong descer a escada do módulo e por os pés sobre a superfície lunar. “
Este é um pequeno passo para o homem e um grande salto para a humanidade”, declarou
Armstrong com a voz ligeiramente distorcida pela distância da comunicação. Um ano depois, outro homem foi ainda mais ousado. Com “um pequeno
passo para a esquerda e um grande lance para a história”, Pelé eternizou seu
nome na Copa do Mundo.
A pegada de Neil Armstrong na Lua. O homem superou os limites da Terra, e Pelé, da criatividade. |
Brasil x
Uruguai era mais que uma semifinal. Era uma revanche. Havia 20
anos que o ‘Maracanazo’ estava entalado na garganta de todos os brasileiros — mesmo
os que não o assistiram. Quando a Celeste fez 1 a 0, aos 19min, num chute
despretensioso de Luis Cubilla, parecia que a tragédia iria se repetir.
Nas quartas de final, o Uruguai eliminou a União Soviética com um gol polêmico na prorrogação. A bola teria ultrapassado a linha de fundo no cruzamento de Cubilla para a cabeçada de Espárrago. |
O jogo foi
duro. Diante da forte marcação uruguaia, Zagallo recuou Gérson e avançou
Clodoaldo. A mudança surtiu efeito. No último minuto da etapa inicial, o
cabeça-de-área tabelou com Tostão, recebeu na frente e, na corrida, venceu
Mazurkiewicz. O clássico sul-americano estava empatado. A primeira etapa ainda
viu o goleiro uruguaio cobrar mal um tiro de meta, que Pelé rebateu com um chute
forte, de primeira. Mazurkiewicz se recuperou e segurou a bola.
Clodoaldo comemora o empate. O terceiro, último e mais importante gol do “Corró” vestindo a amarelinha. |
A partida
continuou difícil no segundo tempo. Os uruguaios só conseguiam parar os
brasileiros na base da falta. Numa delas, aos 20min, Pelé pediu pênalti depois
de driblar três adversários. Mas a virada só viria aos 31min. Tostão lançou
Jairzinho, que, mais rápido que Matosas, chutou cruzado para fazer 2 a 1. Na
comemoração, o atacante repetiu o gesto do tcheco Petráš e, ajoelhado, fez o
sinal da cruz.
Jogadores comemoram o sexto gol de Jairzinho na Copa. |
A Celeste foi para cima. Melhor para o Brasil, que aproveitou os contra-ataques.
Num deles, aos 45min, Pelé rolou macio para o petardo de Rivellino. 3 a 1, o
Uruguai estava entregue. Mas ainda havia tempo para um último lance. E não foi um lance qualquer.
A jogada
começou com o lançamento de Tostão para Pelé, que entrou livre pelo meio. O goleiro Mazurkiewicz saiu desesperadamente da meta e não imaginou — assim
como o resto do mundo — que o Rei esqueceria a bola em prol da genialidade.
Com um passo
para a esquerda, o camisa 10 deixou propositalmente a bola cruzar à frente do
goleiro Mazurkiewicz, que passou reto. Pelé, dando a volta, pegou a bola do
outro lado, girou e bateu. O capricho foi milimétrico: a bola passou rente à
trave direita, enquanto o zagueiro Ancheta beijava o gramado junto à trave
esquerda. O gol não saiu, e mais um “não-gol” entrou para a história — coisas
que só um gênio é capaz de fazer.
Um lance de poucos segundos, muitos aplausos... |
e com um toque de ironia: uma meia-lua na meia-lua da grande área. |
Mazurkiewicz consola Pelé. O goleiro uruguaio venceu o duelo particular e não tomou gols do Rei. |
Enquanto Brasil
x Uruguai foi uma grande partida, a outra semifinal, entre Itália e Alemanha
Ocidental, foi o “jogo do século” — eleito pelo jornal francês “L’Équipe”, em
1997, junto a grandes jogadores. A disputa épica na Cidade do México culminou em uma prorrogação inacreditável com cinco gols.
Italianos e
alemães vinham de campanhas totalmente opostas. A Azzurra, que sofrera na
primeira fase, despachou o anfitrião México nas quartas, por 4 a 1. Já a
Alemanha Ocidental, a melhor campanha na fase de grupos, passou apertada pela
Inglaterra (3 a 2, na prorrogação).
O jogo em si não foi dos mais emocionantes. Boninsegna fez 1 a 0 logo aos 8min de partida e, a partir daí, a Itália
se aplicou defensivamente para segurar o placar. A Azzurra já comemorava a
vitória, quando, nos segundos finais, a Alemanha Ocidental deu um último
suspiro e Schnellinger empatou. A meia hora que se seguiu foi algo jamais visto
em uma Copa do Mundo.
Beckenbauer jogou o tempo extra com o braço direito imobilizado junto ao peito. Ele havia deslocado o ombro e, provavelmente, também parte do cérebro que comanda a dor. |
A fria equipe alemã virou o marcador aos 4min do primeiro tempo da prorrogação. Poletti
dominou mal e Müller, astuto, roubou-lhe a bola, que acabou entrando no gol
direto, como um pesadelo em câmera lenta. Os alemães devolveram o favor e, quatro minutos
depois, Held ajeitou a bola de presente para o italiano Burgnich
igualar outra vez: 2 a 2.
À medida que
o calor aumentava, os gols saíam — as duas equipes estavam exauridas pelo sol castigador. A Itália voltou a ficar na frente com um
chute de Gigi Riva, no lance derradeiro do primeiro tempo. Aos
5min da etapa decisiva, Müller escorou de cabeça em meio à zaga italiana e novamente empatou a partida: 3 a 3.
Italianos comemoram o quarto e último gol da incrível semifinal entre Itália e Alemanha Ocidental. |
Quando todos já
estavam de olho no apito final do peruano Yamasaki, Boninsegna fez grande
jogada pela esquerda e cruzou na marca do pênalti para Rivera marcar um
impensável quarto gol italiano. Os extenuantes 120 minutos terminaram com Boninsegna,
exausto, estirado no chão. A Itália chegava a mais uma final; a primeira contra
o Brasil. Do duelo entre os bicampeões mundiais sairia o detentor definitivo da taça Jules Rimet. Nem o mais lunático poderia perder essa.
Placa no estádio Azteca, na Cidade do México. |