segunda-feira, 22 de junho de 2015

Venezuelofobia



A "venezuelofobia", também conhecida como "vinotintofobia", é um medo persistente e irracional da seleção venezuelana de futebol, que representa pouco ou nenhum perigo real, mas que, mesmo assim, provoca ansiedade extrema. Segundo os laudos, a fobia teve início na Copa América de 1989, quando o paciente "Seleção Brasileira" sofreu seu primeiro gol na história das partidas contra a Venezuela, em Salvador — vitória brasileira por 3 a 1. De acordo com o dr. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira (1954—2011), autor de um gol contra os venezuelanos, em 1981, o paciente reagiu bem durante os anos subsequentes, impondo-se sobre o adversário e derrotando-o sempre por pelo menos três gols de diferença em nove oportunidades. Até que, no dia 6 de junho de 2008, sofreu um ataque de pânico inesperado.

No amistoso realizado em Foxborough, Estados Unidos, o paciente teve uma apresentação apática e perdeu pela primeira e única vez na história para o time venezuelano (2 a 0), no último jogo antes do início das Eliminatórias para a Copa de 2010. O técnico era Carlos Caetano Bledorn Verri. Dunga, como é popularmente conhecido, passou a carregar este estigma, passando a sofrer de venezuelofobia desde então. Em 14 de outubro de 2009, em Campo Grande, o treinador vinotintofóbico obteve outro resultado vexatório: o primeiro empate entre Brasil e Venezuela na história (0 a 0).

Em 2010, Dunga e Seleção Brasileira foram isolados por medidas de segurança, e ficaram afastados até 2014, quando voltaram a ter convívio social. Aparentemente recuperada dos traumas, a dupla obteve 11 vitórias seguidas e um tropeço diante da Colômbia, que reacendeu um medo há muito tempo adormecido. Afinal, a decisão da vaga na segunda fase da Copa América de 2015 seria disputada contra a Venezuela.

Sem poder contar com Neymar, suspenso da competição, Dunga promoveu mudanças na equipe: Robinho ganhou uma chance entre os titulares e Miranda, a braçadeira de capitão. O Brasil começou melhor, marcando o primeiro gol logo a 8min, em cobrança de escanteio de Robinho, que Thiago Silva pegou de primeira para fazer um belo gol. Longe de ser brilhante, mas bem organizada e com vontade, a Seleção Brasileira aumentou a vantagem no segundo tempo. Aos 6min, Willian fez grande jogada pela esquerda e cruzou de três dedos para Firmino marcar. Com os 2 a 0 favoráveis no placar, a pressão pelo resultado positivo causou um frio na espinha de Dunga. Não, não eram as baixas temperaturas na noite de Santiago. Era medo mesmo.

A venezuelofobia, acostumada a ser de longa duração, desta vez durou pouco mais que 20min. Ainda assim, provocou intensas reações físicas e psicológicas no time brasileiro, depois que Dunga colocou todos os zagueiros do elenco para jogar. Marquinhos entrou na lateral direita, David Luiz, no meio, e a Seleção Brasileira, em pânico. A atitude naturalmente chamou a Venezuela para o campo de ataque, e o gol de Miku, aos 38min, por pouco não comprometeu o resultado final da partida.

Hoje, com a vitória e a classificação garantidas, o paciente passa bem. Aparentemente curada da venezuelofobia, a Seleção Brasileira segue em observação. No próximo sábado, teme-se que uma nova crise acometa a equipe: a "disputadepenaltifobia", também conhecida como "paraguayofobia".



domingo, 21 de junho de 2015

Bobos da Corte



Era uma vez um jogador de futebol chamado Edmundo. Condenado a quatro anos de prisão em regime semiaberto pela morte de três pessoas em um acidente de carro, em 1995, o "Animal" chegou a ser preso na época, mas depois foi liberado. Seis anos mais tarde, o Supremo Tribunal Federal extinguiu a pena do ex-jogador em decorrência da prescrição do crime. Hoje, ele é comentarista da TV aberta. Casos de atletas envolvidos em acidentes de trânsito são comuns e a lista é extensa e cheia de famosos, como Cristiano Ronaldo, Tévez e Benzema. Alguns escaparam apenas com ferimentos leves. Outros, como Edmundo, escaparam da justiça. Outros não escaparam da morte. Se álcool e direção não combinam, álcool, direção e jogador de futebol combinam menos ainda.

A bola da vez é Arturo Vidal. O chileno ganhou as manchetes do país e do mundo não só por suas belíssimas atuações com a camisa da "La Roja", que lhe renderam a artilharia provisória da Copa América, com três gols, como também pela autuação depois de se acidentar com sua Ferrari nas ruas de Santiago, sob o efeito de álcool. Uma noite na detenção policial curou a ressaca como que por milagre, e o jogador veio a público pedir desculpas. Amado por seu povo, o "Rei Arturo" foi perdoado.

O reencontro entre a realeza e seus súditos aconteceu na última sexta-feira, no duelo contra a Bolívia, pela rodada decisiva do Grupo A. Quando o Chile veio para o aquecimento no gramado, o camisa 8 fez questão de saudar a torcida. Batendo palmas, trotando — sem o cavalo branco — e ciente de que sua imagem estava no telão, o jogador se aproximou das arquibancadas e foi efusivamente aplaudido. Deu um sorriso como se pedisse perdão mais uma vez e voltou para o vestiário, mostrando que sabe a hora certa de entrar e sair de cena.

Contudo, em campo, Vidal fez figuração. Tímido, o chileno não se sobressaiu como nas duas primeiras partidas e foi apenas um espectador na jogada do centésimo gol da história da seleção chilena: Aránguiz, logo aos 3min. Seu melhor lance foi aos 30min, quando deu um drible com a bola por trás da perna e foi derrubado, em falta que Alexis Sánchez cobrou no travessão. E na noite em que Arturo travou, Alexis desencantou, finalmente, marcando seu primeiro gol na seleção desde novembro de 2014.

A noite intensa, porém, foi curta para Vidal. Pendurado com um cartão amarelo, ele acabou sendo substituído no intervalo. Voltou do vestiário aos 11min do 2° tempo para se juntar aos companheiros no banco de reservas e, novamente no telão do Estádio Nacional, recebeu aplausos. Ao lado de Alexis, também poupado, mas por causa de um desconforto muscular na perna, brincou, riu, torceu e assistiu a mais três gols de "La Roja", que fechou a goleada em 5 a 0 — a maior até agora no torneio.

E foram felizes até a próxima partida. 



quinta-feira, 18 de junho de 2015

Independência de Neymar ou Morte



Zito partiu num contra-ataque rápido e lançou Amarildo na esquerda. O "Possesso" cortou o zagueiro e cruzou fora do alcance do goleiro tcheco. Zito acompanhou o lance e, livre de marcação, só encostou a cabeça para virar o placar: Brasil 2 a 1. A Seleção ainda faria o terceiro, que sacramentaria o bicampeonato mundial em terras chilenas. O Brasil que jogou em Santiago em 17 de junho de 1962 mereceu a vitória. O que jogou em 17 de junho de 2015, não.

Normalmente, o estádio Monumental David Arellano costuma vestir-se de preto e branco, cores do Colo-Colo, time mais tradicional da capital. Porém, estava todo amarelo. Parecia replay da Copa do Mundo: um mar de torcedores fanáticos, enlouquecidos e incansáveis. Da Colômbia. De azul, o Brasil foi minoria absoluta nas arquibancadas barulhentas, que tiveram apenas um único momento de silêncio: em respeito a Zito, o eterno capitão do bi. Mas Neymar não estava em paz.

Na manhã da partida, a justiça espanhola anunciara que o atacante terá que responder a um processo, por supostas fraudes em sua transferência para o time catalão. Coincidência ou não, o camisa 10 entrou em campo mais nervoso do que de costume. A Seleção sentiu a ausência de seu craque. A Colômbia também, e foi para cima. Aos 35min, uma falta desnecessária na lateral do campo abriu o caminho da vitória cafetera. O ótimo Cuadrado, companheiro de Willian, no Chelsea, cruzou e, no bate-rebate, o zagueiro Murillo empurrou para as redes. O estádio veio abaixo.

A Seleção tentou reagir. Em jogada do Barcelona, Dani Alves cruzou para a cabeçada de Neymar, em cima de Ospina. Pior que não ter feito o gol foi tomar o cartão amarelo que tirou o atacante do jogo contra a Venezuela — no rebote, ele levou a mão à bola. Dunga mexeu no intervalo, a equipe melhorou, mas não o suficiente. Firmino perdeu gol sem goleiro, depois que Elias ganhou a dividida com Ospina, e selou a primeira derrota na nova era do treinador.

Nem bem Enrique Osses apitou o fim de jogo, começou a confusão. Irritado, Neymar acertou uma bolada em Armero. Depois, tentou dar uma cabeçada em Murillo, autor do gol colombiano, que tinha ido tirar satisfações com o brasileiro. Estava armado o circo. Bacca chegou empurrando Neymar com força e foi agarrado por Robinho, que rasgou-lhe a camisa. A turma do “deixa disso” conseguiu, enfim, separar os brigões. Mas já era tarde. O árbitro chileno, mesmo com a partida encerrada, expulsou Neymar e Bacca. Para fechar a noite com chave de ouro, o camisa 10 culpou a arbitragem por seus erros.

Durou bem menos do que o esperado o reinado do craque e capitão da Seleção Brasileira nesta Copa América. Craque e capitão? Não, correção. Craque sim. Capitão não.

Capitão era Zito.