terça-feira, 11 de março de 2014

1938 | Sombra Negra


No dia 5 de outubro de 1937, a Áustria venceu a Letônia e conquistou uma vaga na Copa do Mundo de 1938. A equipe, quarta colocada no Mundial de 34 e vice-campeã olímpica em 36, era uma força promissora na Europa, conhecida como “Wunderteam” (“O Time Maravilha”).

Cinco meses depois de obter a classificação, a Áustria foi oficialmente anexada pela Alemanha Nazista, que a converteu em uma província do III Reich. O país deixou de ser independente, sua magnífica seleção deixou de existir e seus jogadores foram incorporados ao time alemão. Com a tabela do Mundial já definida, o confronto com a Suécia pela 1° fase se tornou o primeiro e único W.O. da história das Copas.

Outras ausências também foram sentidas: a Espanha (vivendo a Guerra Civil), a Argentina e o Uruguai, que boicotaram o Mundial em razão da não alternância de continentes para organizar o torneio. Por outro lado, França (país-sede) e Itália (detentora do título) se classificaram automaticamente. Com apenas três seleções de fora — Brasil, Cuba e Índias Holandesas (atual Indonésia) —, o campeonato foi, mais uma vez, dos europeus.


Em Le Havre, uma carroça chama para a partida entre Holanda e Tchecoslováquia.

Então campeã mundial e olímpica, a Itália era a seleção a ser batida. Com o regime fascista no auge, o bi era questão de honra para Mussolini. A presença de Alemanha e Itália geraram protestos contra o fascismo. E a Azzurra, em especial, contava com a antipatia dos franceses.

Na abertura da Copa, em Paris, Alemanha e Suíça empataram: 1 a 1. No jogo extra, cinco dias depois, os alemães abriram 2 a 0, e um telegrama foi enviado a Hitler, informando o resultado. O führer só não contava com a incrível virada adversária: vitória da Suíça, por 4 a 2. A seleção teuto-austríaca estava fora já na 1° fase.

Com dois gols de Abegglen em 3min, a Suíça eliminou os nazistas da Copa.














A Azzurra estreou contra a Noruega, em Marselha — um repeteco da semifinal olímpica. O técnico Vittorio Pozzo ordenou aos jogadores que fizessem a saudação fascista, e a torcida presente ao Vélodrome vaiou. A Itália saiu na frente, mas sofreu o empate a 7min do fim. Na prorrogação, Piola fez o gol da classificação.

Sob um clima tenso, Itália e França se enfrentaram no Estádio Olímpico de Colombes, na periferia de Paris, pelas quartas-de-final. Como a camisa azul pertencia à seleção da casa, a Azzurra foi obrigada a trocar de uniforme. Por ordem de Mussolini, os italianos jogaram de camisas, calções e meias negras — a cor do Partido Nacional Fascista.

Diante da pressão de 59 mil espectadores, os azuis franceses conseguiram endurecer o jogo — o 1° tempo terminou em 1 a 1 —, mas Piola assinalou dois gols no 2° tempo e calou o estádio. A escrita do anfitrião campeão (30 e 34) chegava ao fim.

Depois de passar pelo Brasil nas semifinais (vide “O Diamante Verde-Amarelo”), a Itália tinha pela frente a forte Hungria, que havia marcado 13 gols e tomado apenas um. E mesmo com a expectativa de um grande jogo, a final da Copa foi marcada pelos protestos contra o fascismo nas ruas de Paris.

Apesar da torcida contra e todo o clima adverso, a Azzurra venceu sem sustos. O placar de 4 a 2, com dois gols de Colaussi e dois de Piola, premiou uma grande campanha de quatro vitórias. A Itália conquistou o bicampeonato e Vittorio Pozzo se tornou o primeiro e único técnico a conquistar mais de uma Copa.

Vittorio Pozzo levanta a taça pela segunda vez consecutiva.

















De volta ao país, a Azzurra foi recebida com festa na sede do governo, em Roma, e os jogadores receberam um belo prêmio em dinheiro do ditador. Ainda em 38, Mussolini se aliou a Hitler, formando o eixo nazi-fascista.

Um ano depois, as tropas alemãs invadiram a Polônia.


A aliança que escreveu um dos capítulos mais terríveis da história da humanidade.