No dia 5 de outubro de 1937, a Áustria venceu a
Letônia e conquistou uma vaga na Copa do Mundo de 1938. A equipe, quarta
colocada no Mundial de 34 e vice-campeã olímpica em 36, era uma força
promissora na Europa, conhecida como “Wunderteam” (“O Time Maravilha”).
Cinco meses depois de obter a classificação, a Áustria
foi oficialmente anexada pela Alemanha Nazista, que a converteu em uma
província do III Reich. O país deixou de ser independente, sua magnífica
seleção deixou de existir e seus jogadores foram incorporados ao time alemão.
Com a tabela do Mundial já definida, o confronto com a Suécia pela 1° fase se
tornou o primeiro e único W.O. da história das Copas.
Outras ausências também foram sentidas: a Espanha (vivendo
a Guerra Civil), a Argentina e o Uruguai, que boicotaram o Mundial em razão da
não alternância de continentes para organizar o torneio. Por outro lado, França
(país-sede) e Itália (detentora do título) se classificaram automaticamente.
Com apenas três seleções de fora — Brasil, Cuba e Índias
Holandesas (atual Indonésia) —, o campeonato foi, mais uma vez, dos europeus.
Em Le Havre, uma carroça chama para a partida entre Holanda e Tchecoslováquia. |
Então campeã mundial e olímpica, a Itália era a
seleção a ser batida. Com o regime fascista no auge, o bi era questão de honra
para Mussolini. A presença de Alemanha e Itália geraram protestos contra o
fascismo. E a Azzurra, em especial, contava com a antipatia dos franceses.
Na abertura da Copa, em Paris, Alemanha e Suíça empataram:
1 a 1. No jogo extra, cinco dias depois, os alemães abriram 2 a 0, e um
telegrama foi enviado a Hitler, informando o resultado. O führer só não
contava com a incrível virada adversária: vitória da Suíça, por 4 a
2. A seleção teuto-austríaca estava fora já na 1° fase.
Com dois gols de Abegglen em 3min, a Suíça eliminou os nazistas da Copa. |
A Azzurra estreou contra a
Noruega, em Marselha — um repeteco da semifinal olímpica. O técnico Vittorio
Pozzo ordenou aos jogadores que fizessem a saudação fascista, e a torcida
presente ao Vélodrome vaiou. A Itália saiu na frente, mas sofreu o empate a
7min do fim. Na prorrogação, Piola fez o gol da classificação.
Sob um clima tenso, Itália e França se enfrentaram no
Estádio Olímpico de Colombes, na periferia de Paris, pelas quartas-de-final.
Como a camisa azul pertencia à seleção da casa, a Azzurra foi obrigada a trocar
de uniforme. Por ordem de Mussolini, os italianos jogaram de camisas, calções e
meias negras — a cor do Partido Nacional Fascista.
Diante da pressão de 59 mil espectadores, os azuis
franceses conseguiram endurecer o jogo — o 1° tempo terminou em 1 a 1 —, mas
Piola assinalou dois gols no 2° tempo e calou o estádio. A escrita do anfitrião
campeão (30 e 34) chegava ao fim.
Depois de passar pelo Brasil nas semifinais (vide “O Diamante Verde-Amarelo”), a Itália tinha pela frente a forte Hungria, que havia
marcado 13 gols e tomado apenas um. E mesmo com a expectativa de um grande jogo, a final da Copa foi marcada pelos protestos contra o fascismo nas ruas de Paris.
Apesar da torcida contra e todo o clima adverso, a
Azzurra venceu sem sustos. O placar de 4 a 2, com dois gols de Colaussi e dois
de Piola, premiou uma grande campanha de quatro vitórias. A Itália conquistou o
bicampeonato e Vittorio Pozzo se tornou o primeiro e único técnico a
conquistar mais de uma Copa.
Vittorio Pozzo levanta a taça pela segunda vez consecutiva. |
De volta ao país, a Azzurra foi recebida com festa na sede do governo, em Roma, e os jogadores receberam um belo prêmio em dinheiro do ditador. Ainda em 38, Mussolini se aliou a Hitler, formando o eixo nazi-fascista.
Um ano depois, as tropas alemãs invadiram a Polônia.
A aliança que escreveu um dos capítulos mais terríveis da história da humanidade. |