Ter milhões de
passageiros viajando de uma ponta à outra do País para assistir aos jogos da
Copa do Mundo é algo bastante normal. Estranho mesmo é saber que três milhões de
dólares estiveram nos ares do território nacional na calada da noite na
última quinta-feira. Mas se pensarmos que o destino do dinheiro era Brasília, nada
mais natural para quem está acostumado a esconder dólares na cueca.
O dinheiro, na
verdade, era o pagamento atrasado — e bem atrasado — da seleção de Gana pela classificação
para a Copa. Os dólares chegaram depois que a ausência deles abalou as
estruturas da concentração ganesa. Alguns jogadores perderam a cabeça e extrapolaram. Prince Boateng, por ofender o técnico Appiah, e Sulley Muntari, por ameaçar um membro da comissão técnica com uma
garrafa, foram afastados. Só o cheiro das notas trouxe de volta a tranquilidade.
Com os ânimos
acalmados, Gana entrou no Mané Garrincha precisando da vitória. Porém, quem saiu na frente foi Portugal, que além da vitória, tinha de golear. Aos 30 de jogo, o zagueiro Boye desviou contra o próprio patrimônio e levantou suspeitas sobre a
procedência do dinheiro. No segundo tempo, Gana chegou ao empate depois do belo
cruzamento de três dedos de Kwadwo Asamoah, que Gyan conferiu de cabeça. Entretanto, Cristiano Ronaldo, mesmo longe de sua melhor
forma física, mudou o resultado.
O jogador mais bem
pago do mundo teve várias oportunidades, mas precisou esperar até aos 35 da
segunda etapa para fazer o seu primeiro e único gol no Mundial do Brasil — com
a colaboração do goleiro Dauda. A vitória por 2 a 1 não livrou Ronaldo do estigma que persegue o melhor do mundo em ano de Copa: nunca um vencedor do prêmio ganhou o Mundial. Discreto nos dois
primeiros jogos, Ronaldo acabou eleito o homem do jogo contra Gana, o que foi pouco para
quem tinha tudo para arrebentar em campos brasileiros.
No fim das contas, Portugal e Cristiano Ronaldo deram um melancólico adeus, conforme o macumbeiro ganês previu (http://www.deletranacopa.com.br/2014/06/grupo-g-gana.html). Ao menos alguém fez bem o seu trabalho.
De um lado, o seu
emprego. Do outro, o seu país e o seu pupilo e amigo. Apesar disso, Klinsmann
não estava dividido. Na hora dos hinos, tinha ambos na ponta da língua. O
abraço em Joachim Löw selou uma amizade de longa data: em 2006, Klinsmann era o
treinador da Alemanha e Löw, o seu assistente. Parou por aí. Com a bola
rolando, os dois técnicos esqueceram as festas de confraternização no fim de ano. Falou-se em
jogo de compadres — o empate classificava os dois —, mas o que se viu no primeiro tempo foi uma guerra dentro de
campo. Num jogo onde a chuva castigou a Arena Pernambuco, mas a drenagem do gramado não sentiu sequer cócegas, a bola foi um detalhe.
E foi no detalhe que a Alemanha venceu no
segundo tempo. Thomas Müller mostrou que a Copa do Mundo é a sua especialidade:
marcou seu nono gol em nove partidas na história dos Mundiais. Se ele foi a revelação
da Copa passada, nesta Müller briga pela artilharia, com quatro gols. A vitória por 1 a 0, além de dar a primeira posição aos germânicos no Grupo G, serviu para confirmar a previsão de Klinsmann, que disse antes da Copa:
"Vamos passar em segundo, atrás da Alemanha". Dito e feito.