Há 64 anos, as televisões não tinham cores, nem subcelebridades. Em vez de vários estilos de penteado, chapéus de diferentes marcas. A moda era terno e gravata, e a palavra celular só existia nos livros de Biologia. As diferenças socioculturais entre 1950 e 2014 são enormes e nem é preciso enumerar todas elas para se ter certeza disso. Entretanto, a euforia, o interesse e a ansiedade eram os mesmos de hoje. A Copa do Mundo, enfim, chegara ao Brasil.
Na Arena de
Itaquera — um terreno baldio, em 50 —, a Seleção Brasileira entrou em campo sob
um novo ritual, com as mãos nos ombros, mostrando que aquele seria um dia
diferente. Na saída do túnel, Neymar beijou cada um de seus companheiros — era
dia dos namorados. E quando o hino nacional à capela derrubou mais uma vez o protocolo da
FIFA, os jogadores choraram.
Mas quem se sentiu em casa foi a Croácia. Insensível e ousada, a seleção dos Balcãs abriu o placar logo a 10 minutos de jogo. O cruzamento de Olić encontrou as pernas de Marcelo, que, confusas, botaram a
bola para dentro das próprias redes. Era o primeiro gol contra brasileiro em
Copas, o 37° da história da competição. Sem brilho, a Seleção viu os refletores
se apagarem por poucos minutos.
Com a luz de volta,
o bom futebol apareceu. O pequenino Oscar se tornou gigante. Ganhou o "pé
de ferro" com três croatas e tocou para Neymar. O chute saiu fraco, mas
colocado. Beijou a trave e entrou. Depois de 12 anos, um camisa 10 da Seleção
voltava a marcar em Copas. Mas o lance que ganharia todos os holofotes do mundo
ainda estava por vir.
Aos 25 do 2° tempo,
Fred recebeu a bola na área e, malandro, se atirou ao chão. Só o árbitro japonês
Yuichi Nishimura enxergou o pênalti. Se, em 1950, Broderick Crawford levou o Oscar
de melhor ator por sua atuação em "A Grande Ilusão", em 2014 foi a vez de Fred. Na
cobrança, Neymar provocou um frio na espinha de cada torcedor. O bom
goleiro Pletikosa chegou a tocar com as duas mãos na bola, mas a Brazuca queria
mesmo descansar na rede. As semelhanças com a estreia de Felipão em 2002 paravam por aí —
virada e pênalti inexistente. Nos acréscimos, o desempenho de Oscar foi premiado não com um troféu, mas com um gol. Ele carregou a bola até a entrada da área e,
de bico, marcou o terceiro.
Mas não se iluda em
acreditar que foi uma grande vitória. O placar de 3 a 1 não retratou o que foi
a partida, "estragada" pela arbitragem japonesa. A Croácia mostrou
sua força e, com Mandzukić de volta deverá surpreender. Para a Seleção, os três pontos
valem, é verdade, mas ainda há muito que melhorar. Estrear em casa num Mundial não
é fácil para ninguém. Mesmo quando você é o maior campeão de toda as Copas.