quinta-feira, 12 de julho de 2018

A Queda da Rainha (e do Fotógrafo)



Goste você ou não de xadrez, o fato é que a prática desse esporte — considerado também uma arte e uma ciência — estimula a inteligência, desenvolve o pensamento estratégico e amplia as noções táticas. Napoleão Bonaparte era apaixonado por xadrez, enquanto Leon Trótski, pensador socialista, fazia analogias entre as inúmeras possibilidades de jogadas e estratégias militares.  
Um dos jogos de tabuleiro mais antigos e complexos da humanidade, o xadrez exige raciocínio rápido, assim como o futebol. Seja no tabuleiro ou no gramado, um lance errado pode comprometer a jogada e abrir espaço para o oponente ganhar a partida. E quando se fala em semifinal de Copa do Mundo, o cuidado tem de ser dobrado.
A Inglaterra, ausente de uma semifinal de Copa desde 1990, sentiu primeiro o gostinho da grande final — esta, não vê desde 1966. Aos 4min de partida, Lingard serviu Dele Alli, que foi derrubado por Modrić na entrada da área. Os croatas foram em peso para a barreira, mas a cobrança precisa do ala direito Trippier encontrou o ângulo do goleiro Subašić, que chegou atrasado.



Foi o primeiro gol de falta em uma semifinal de Copa desde o gol do chileno Toro Sánchez, em 1962, na derrota por 4 a 2 para o Brasil.

















Na frente do marcador, o English Team teve chances de aumentar ainda no 1° tempo, mas o artilheiro da Copa, Harry Kane, além de desperdiçar duas oportunidades, estava impedido em ambas. O que faltou na Inglaterra sobrou na Croácia: frieza. Mais ligado depois do intervalo, o time dos Bálcãs conseguiu o empate em um golpe de caratê do multiesportivo Ivan Perišić — ele disputou uma etapa do Circuito Mundial de vôlei de praia no ano passado. O camisa 4 croata chegou perto de virar a partida quando, pouco depois, acertou um chute na trave do goleiro inglês, Pickford. Aguerrida, a Croácia cresceu em campo, empurrada pela torcida, e dominou as ações e o adversário. Porém, o empate persistiu e veio a prorrogação — a terceira para os croatas, a segunda para os ingleses.


Apesar de cansados, os dois times não economizaram em emoção. Primeiro, o lateral Vrsaljko salvou o cabeceio de Stones em cima da linha. Em seguida, foi a vez de Pickford trabalhar. Perišić cruzou e Mandžukić chegou dividindo com o bom goleiro inglês, que salvou a pátria com a perna. Mal sabia o 'Super Mario' que o momento sublime da partida lhe estava reservado.

Os dois times já pareciam exaustos no começo do 2° tempo da prorrogação; talvez por isso a zaga inglesa tenha afastado de qualquer jeito o cruzamento de Pivarić. Mandžukić ameaçou desistir da jogada, mas quando viu a bola cabeceada por Perišić pegar a defesa bretã de surpresa, o faro do artilheiro entrou em ação. Cara a cara com Pickford, o atacante da Juventus, da Itália — será companheiro de Cristiano Ronaldo na próxima temporada —, chutou firme e forte para estufar as redes. Foi seu primeiro gol no Mundial — e o mais importante.




Com 32 anos, Mario Mandžukić  marcou seu 32° gol pela Croácia. Ele está atrás apenas de Davor Šuker (45), o maior artilheiro da história da seleção — hoje, ele é presidente da Federação Croata de Futebol. A geração 2018 superou a de 1998.
























Na comemoração, um personagem inusitado roubou a cena: o fotógrafo salvadorenho Yuri Cortéz foi "atropelado" pelo bonde croata na beira do campo. Mesmo empurrado, esmagado e pisoteado, o fotógrafo manteve o sorriso no rosto e a câmera na mão, o que lhe rendeu fotos de um ângulo bastante exclusivo. De quebra, ainda ganhou um beijo de Vida.
Depois do gol, os ingleses não tiveram forças para reagir, e os croatas, apenas forças para comemorar. Naquele tabuleiro de grama, as peças do time xadrez vislumbraram um novo mundo e todas as possibilidades que ele oferece. A primeira delas, um inédito título mundial.