sexta-feira, 11 de julho de 2014

Semifinal | A Redenção de Barbosa

















9 de julho de 1950. O Brasil estreou no quadrangular decisivo da Copa do Mundo, no Maracanã, aplicando na Suécia a maior goleada de sua história em Mundiais: 7 a 1. Quatro dias depois, a Seleção venceu a Espanha por 6 a 1 — a segunda maior — e, uma semana depois, perdeu o título para o Uruguai por 2 a 1, em pleno Maracanã abarrotado. O episódio conhecido como 'Maracanazo' amaldiçoou toda uma geração de jogadores, simbolizados pelo goleiro Barbosa, até o fim de suas vidas.

8 de julho de 2014. Quem diria que, exatos 64 anos depois, numa Copa também no Brasil, a seleção canarinho conseguiria igualar o placar mais elástico de sua história na competição, mas às avessas? Numa partida semifinal que bateu todos os recordes negativos em Mundiais, o Brasil sofreu os mesmo 7 a 1 que imputou aos suecos e disse adeus pela segunda vez ao sonho do título em casa. O 'Mineirazo' imposto pelos alemães virou de fato sinônimo de tragédia. E mais: um pedido de desculpas público aos vice-campeões de 50.




















No Mineirão, a Alemanha conheceu o brado retumbante da torcida brasileira. Com a camisa de Neymar nas mãos, David Luiz e Julio Cesar entoaram o hino nacional até a última estrofe, o que fez o goleiro Neuer, maravilhado, aplaudir o canto à capela. A partida nem havia começado e o Brasil recebia pela última vez uma salva de palmas. Em campo, foram os alemães os únicos dignos de aplausos.

Luiz Felipe Scolari apostou em Bernard como substituto de Neymar, imaginando que o camisa 20 da Seleção poderia ser o novo Amarildo. No entanto, o comandante tupiniquim esqueceu-se de que Neymar não é Pelé e, sobretudo, que aquele time de 62 ainda tinha Garrincha — a verdadeira alegria nas pernas. A escolha equivocada mostrou-se um convite para o meio-campo alemão, com Khedira, Schweinsteiger, Özil, Kroos e Müller, engolir Luiz Gustavo, Fernandinho e Oscar. A supremacia em número de jogadores no setor por si só já constituía um fator determinante para a vitória alemã.

Ainda assim, o Brasil teve três minutos de lampejo: o chute de Marcelo saiu rente a trave de Neuer. Depois, o que se viu foi totalmente constrangedor. Müller, solitário na entrada da pequena área, fez o primeiro na cobrança de escanteio de Kroos. A Alemanha seguiu soberana no gramado, e em seis minutos — de pesadelo —, acabou com 64 anos de sonho.





















Aos 23, não era só o 2 a 0 no placar; era o décimo sexto gol do novo recordista em Copas, Miroslav Klose. Vieram mais três gols em sequência, como se a Alemanha estivesse jogando com os índios pataxós de Santa Cruz Cabrália. Em ritmo de treino, tabelando e fazendo linha de passe, Kroos anotou duas vezes e Khedira fez mais um. Em 18 minutos, a Alemanha havia marcado cinco gols. Aos 30, centenas de torcedores brasileiros já tinham deixado o Mineirão. Aos 45, a Seleção saiu de campo vaiada pela primeira vez na Copa. Chocado, o País assistia à maior humilhação na história do futebol brasileiro.

No segundo tempo — inútil —, o Brasil tentou mostrar um pouco de dignidade, enquanto a Alemanha demonstrava clemência. Com Oscar e Paulinho, a Seleção obrigou o goleiro Neuer a fazer três boas defesas, com tranquilidade. Poupando-se para a final, os germânicos mudaram. Mas nada de tirar o pé: Schürrle fez mais dois e deixou o placar envergonhado com os 7 a 0. No minuto final, Oscar marcou o gol da pouca honra que sobrara. Com uma derrota acachapante, a Seleção Brasileira deixou o campo sob lágrimas — tão polêmicas durante o torneio, mas agora totalmente compreensíveis.





















Diante de toda essa catástrofe, pelo menos um saldo é positivo. O goleiro Barbosa não será mais lembrado como o grande vilão do Brasil em Copas.