segunda-feira, 10 de março de 2014

1938 | O Diamante Verde-Amarelo


Se, hoje, a Seleção Brasileira é reconhecida como uma potência do futebol — se não a maior —, muito se deve ao Brasil da Copa do Mundo de 38. Mesmo sem o título, a Seleção daquele ano foi o primeiro grande time brasileiro em Mundiais. Chegou badalado à Europa, principalmente porque contava com sua força máxima: cariocas e paulistas. As brigas nas Copas de 30 e 34 haviam ficado para trás. Segundo o povo francês, o Brasil, ao lado da anfitriã França, era o favorito.

O Mundial de 38 foi o primeiro a ser transmitido por rádio para vários países do mundo. No Brasil, a voz do locutor Gagliano Neto, da rádio carioca Cruzeiro do Sul, falhava constantemente, deixando o ouvinte sem saber o resultado até o fim da partida. As imagens chegavam dias depois e os filmes dos jogos eram exibidos no cinema.

O Brasil chegou à França 19 dias antes da estreia, o que deu tempo de sobra para recuperar o condicionamento físico dos atletas, depois de 15 dias no mar.

No dia 5 de junho de 1938, a Seleção Brasileira estreou contra a Polônia, em um encharcado Stade de La Meinau, em Estrasburgo. As duas equipes vestiam branco, e o Brasil acabou optando por jogar com a camisa de treino, azul e sem escudo. Foi um dos jogos mais emocionantes de todas as Copas.



Leônidas em ação contra a Polônia: 3 gols, sendo um deles descalço.
















Com um pé-d’água castigando o gramado desde o início, o Brasil abriu vantagem de 3 a 1, mas acabou cedendo um incrível empate por 4 a 4. Na prorrogação, sem chuva, o barro que se formou no campo arrebentou a chuteira de Leônidas. Enquanto ela era consertada, o atacante aproveitou o rebote de uma cobrança de falta e soltou uma bomba com o pé descalço. Era o sexto gol do Brasil, que acabou vencendo apertado, por 6 a 5, com três gols do “Diamante Negro” — apelido dado por um jornalista francês. Mesmo derrotado, o polonês Wilimowski entrou para a história: marcou quatro vezes e tem, até hoje, a melhor média de gols por jogo em Copas.

Após a partida, o técnico do Brasil, Adhemar Pimenta, comentou:
— Mas que terrível adversário foi a chuva!


O Brasil precisou de 210 minutos para eliminar a Tchecoslováquia.

















Nas quartas-de-final, contra a Tchecoslováquia, não choveu. Mas o tempo fechou. A partida, que ficou conhecida como “Batalha Campal”, teve três expulsões — os brasileiros Machado e Zezé Procópio e o tcheco Riha — e acabou em confusão. O goleiro Plánička deixou o campo com o braço quebrado e o atacante Nejedlý levou tantos pontapés que acabou indo parar no hospital. Antes, porém, o artilheiro da Copa de 34 havia empatado a partida, de pênalti — Leônidas marcou para o Brasil. O empate por 1 a 1 forçou o jogo extra.

Dois dias depois, brasileiros e tchecos voltaram a se encontrar. Devido à violência da partida anterior, o Brasil entrou com um time reserva reforçado por Leônidas. Para surpresa geral, o duelo transcorreu em paz e harmonia. Quando a partida estava 1 a 1 — gols de Kopecký e Leônidas —, o goleiro Walter, em um chute rasteiro de Senecký, se atrapalhou e deixou a bola entrar. Para a sorte da Seleção, o árbitro não viu. Logo em seguida, Roberto virou o placar e o Brasil se classificou para as semifinais.


O goleiro brasileiro Válter disputa a bola com o italiano Meazza, observado por Domingos da Guia.

Era feriado de Corpus Christi no Brasil quando a Seleção enfrentou, em Marselha, o seu maior desafio até então em Copas: a Itália. Leônidas, contundido, foi poupado pelo técnico Adhemar Pimenta, e o Brasil sucumbiu. A decisão controversa dividiu opiniões. Para muitos, o técnico havia menosprezado o adversário, já que o artilheiro teria condições de atuar. Mas não foi a ausência de Leônidas que decidiu a partida.

Logo no começo do 2° tempo, Colaussi abriu o placar para a Azzurra. Cinco minutos depois, com o jogo parado, o atacante italiano Piola deu um pontapé em Domingos da Guia dentro da área brasileira, que revidou. O árbitro suíço marcou pênalti, apesar dos protestos. Giuseppe Meazza cobrou e ampliou para 2 a 0. Romeu ainda descontou, aos 42min, mas já era tarde. O Brasil dizia adeus ao tão sonhado título.

Se Leônidas havia sido mesmo poupado, foi para a disputa do 3° lugar, contra a Suécia. Na vitória de 4 a 2, teve grande atuação, marcou duas vezes e terminou na artilharia da Copa, com 7 gols. Anos depois, virou nome de chocolate. Mas sua ausência naquela fatídica semifinal ainda deixa um gosto amargo na lembrança.


Leônidas, pelo São Paulo: se não o inventor da bicicleta, aquele que a executava da melhor forma.