segunda-feira, 9 de junho de 2014

Grupo D | Uruguai

Mítico1 e Místico2





Cena 1 (1987)


Aos sete anos de idade, acompanhando minha mãe em seu escritório imobiliário, surge a figura de um homem grande, cabelos enrolados, voz suave e sotaque engraçado. Era Darío Pereyra, clássico zagueiro uruguaio dos anos 80, que pretendia comprar uma fazenda no Brasil após uma década jogando no futebol brasileiro.

Cena 2 (1989)


Férias de inverno. Interrompo as longuíssimas e divertidíssimas pelejas disputadas com meus primos por um bom motivo: final da Copa América. Romário marca o gol que nos livra de quatro décadas de jejum do torneio continental, mas não consegue exorcizar plenamente a maior assombração da história das Copas.

Cena 3 (1993)


Mais uma vez o genial baixinho, no palco da tragédia de 1950, salva o Brasil nas sofridas eliminatórias para a Copa do Mundos dos EUA, com uma atuação notável. Construía-se ali o fio condutor para o tetra, mas permanecia a chaga do improvável gol de Ghiggia nos minutos finais do 'Maracanazo'. 

Cena 4 (2005)


Durante as comemorações do título mundial do São Paulo FC no gramado do Morumbi, deparo-me com Lugano segurando a taça com orgulho. O ídolo tricolor me dá, por instantes, a oportunidade de tocá-la e reverenciá-la.

Cena 5 (2014)


Na fronteira entre Brasil e Uruguai fui escalado para colher as impressões do povo uruguaio acerca do Mundial no Brasil. Saio com a sensação de conhecer melhor um povo que carrega uma relação única e profunda com sua seleção.

Registro de uma das seis andanças pelo país vizinho que ama o futebol tanto quanto os brasileiros e carrega uma relação mística com sua seleção, a sempre temível Celeste Olímpica.


















Por meio disso tudo, construí uma imagem mítica e uma relação mística com o Uruguai. O mito nasce do paradigma de ver este povo pacato, educado, cordial, politizado e progressista sendo visceralmente enlouquecido pelo futebol, a partir de uma característica marcante e incomparável: sua capacidade de superação.

Afinal, como explicar um país com uma população inferior a da Zona Leste de São Paulo e que não teve nenhum mito do futebol, como Pelé, Maradona ou Romário, ser considerado o maior vencedor da história das seleções nacionais? São quatro campeonatos mundiais — contando o bi olímpico de 24 e 28, reconhecido pela FIFA —, 15 Copas Américas e um Mundialito, num total de 20 conquistas internacionais. Além disso, a Celeste foi capaz de obter o mais improvável e épico triunfo da história deste esporte, justamente contra o proclamado “país do futebol”, 64 anos atrás.

ESSES SÃO OS CARAS: No auge de suas carreiras, ambos com 27 anos, Cavani e Suárez formam uma das duplas mais mortais do futebol mundial. A torcida é para que,em breve, a dupla esteja junta novamente.

























A partir desse incrível poder de realização do improvável que reside a esperança do torcedor uruguaio de repetir seu maior feito esportivo, mesmo considerando o Grupo C como o mais mortífero da história dos Mundiais, com três campeões. Ainda mais diante da queda de rendimento do velho craque Diego Forlán após a Copa de 2010, quando foi eleito o melhor jogador do torneio. Soma-se a isso a recente contusão no joelho de Luisito Suárez, estrela e artilheiro da Premier League nesta temporada. O astro corre contra o tempo para recuperar-se de uma delicada cirurgia. Com tantas adversidades, todavia, sua força costuma crescer.

Caso supere a difícil primeira fase, os torcedores locais consideram que o time pode embalar e ganhar moral e, a partir de então, ser capaz de alcançar os degraus mais improváveis, inclusive o da escadaria da FIFA na tribuna do mítico Maracanã, no dia 13 (místico) de julho (mês mítico das Copas).

Assim, mesmo não chegando ao Mundial no rol dos favoritos, é preciso ter respeito — ou quase reverência — a uma nação da bola que parece se utilizar de forças celestiais nas adversidades e que realiza, de tempos em tempos, o milagre das conquistas épicas, escoradas em improváveis heróis. Caberia a Edinson Cavani e suas esvoaçantes cabeleiras à La Darío Pereyra, esta alcunha? Por via das dúvidas, melhor não escalar o goleiro Jéfferson numa hipotética final contra eles, Felipão.

FIQUE DE OLHO: Com a decadência física e técnica de Forlán, Christian Stuani deve ter oportunidade de mostrar  o bom futebol apresentado no Espanyol, de Barcelona.



















NO ESQUEMA: 4-2-3-1


Na concepção de Oscar Tabárez, o 4-2-3-1, na verdade, se transforma num 2-4-3-1 no momento em que os laterais Maxi e Álvaro Pereira se lançam ao ataque. Cavani, às vezes mais recuado, às vezes não, faz companhia para Suárez no ataque dos sonhos de qualquer treinador.


4-2-3-1 (clique para ampliar)



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Rafael Bauer,
professor de turismo e turista profissional




[1] Mito é uma narrativa de caráter simbólico, bastante relacionada a aspectos inerentes de determinada cultura e/ou religião, baseando-se em tradições e lendas que buscam explicar a realidade.

[2] O misticismo está relacionado a crenças que admitem a comunicação do homem com elementos sobrenaturais, geralmente associados a conhecimentos esotéricos e teosóficos. Assim, algo mítico pode se referir a um fenômeno místico, ao se buscar explicar algo observado. Da mesma forma, o místico pode dizer respeito a um mito, quando uma experiência fora do comum relaciona-se a determinado mito.






Grupo D | Itália


Veni, Vidi, Vici




Massa e pizza. Com certeza essa é a primeira coisa que vêm à cabeça quando falamos de Itália. Logo imaginamos aquela mesa cheia de comida e com aquela grande família em volta falando todos ao mesmo tempo. Mas ela é muito mais do que o país da comida farta e do povo falastrão.

A quinta nação mais populosa da Europa já foi o centro político e religioso do mundo ocidental. E olhando para este passado talvez fique mais fácil entender a paixão de seu povo pelos esportes, em especial o futebol. Afinal, desde 80 d.C. seu povo já costumava vibrar e torcer nos grandes combates de gladiadores realizados no Coliseu, o grande “estádio” da época.

Falando em futebol — é para isso que estamos aqui —, a seleção da “terra da bota” vem ao Brasil com a intenção de apagar o vexame da última Copa do Mundo, quando não passou sequer da fase de grupos. Isso que fazia parte da mais fraca das chaves, com Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia. E para piorar ainda mais as coisas para este ano, caíram talvez no grupo mais difícil de todos, com mais dois campeões do mundo: Inglaterra e Uruguai; além da fraca Costa Rica.

ESSE É O CARA: O polêmico Mario Balotelli disputará sua primeira Copa do Mundo. E se o temperamento não atrapalhar, tem tudo para brilhar.






















Porém, nem tudo é tão desanimador assim. Primeiro porque estamos falando de uma tetracampeã mundial. E, só por isso, aquela camisa azul já impõe muito respeito. Depois, porque após a pífia campanha na Copa de 2010, a Squadra Azzurra conseguiu bons resultados nas duas últimas competições que participou: o vice na Euro-2012 e a terceira posição na Copa das Confederações de 2013, passando pelas fortes seleções de Inglaterra e Alemanha na Euro e só perdendo para a Espanha em ambos os torneios — no intercontinental, apenas nos pênaltis.

O escrete comandado por Cesare Prandelli vem para esta Copa com um time bastante renovado, sendo sua base formada por seis jogadores da Juventus, atual tricampeã da Serie A. Outra característica da Azzurra é a mescla de jogadores experientes com jovens promessas. Para se ter uma ideia, o jovem Matteo Darmian, do Torino, vestirá pela primeira vez a camisa da seleção principal.

FIQUE DE OLHO: Reserva, Ciro Immobile pretende ser o novo Totó Schillaci das Copas do Mundo. Com uma diferença: o título.





















Certamente os tifosi apostam todas as suas fichas nas mãos do experiente Gigi Buffon, no entrosamento da zaga da Vecchia Signora, Bonucci, Chiellini e Barzagli, e nas bolas paradas de Andrea Pirlo. Além, é claro, dos gols do polêmico — e matador — Mario Balotelli.

Assim como o imperador Júlio César, que após vencer cada batalha proclamava em alto e bom som "veni, vidi, vici" (vim, vi, venci), os italianos estão loucos para gritar
"pentacampeão".


NO ESQUEMA: 4-3-3


Esqueça aquela Itália retranqueira com uma defesa impenetrável. Prandelli avançou a linha de marcação e, ao mesmo tempo em que fortaleceu o sistema ofensivo, enfraqueceu lá atrás. Até porque Maldini e Baresi já se aposentaram há algum tempo.


4-3-3 (clique para ampliar)




















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José Alves Jr., o popular "Josu",
publicitário, são-paulino e camisa nº 19

Grupo D | Inglaterra

Os Três Leões





Desde os primórdios do planeta bola identificamos a primeira controvérsia envolvendo o futebol inglês. Até os dias atuais, eles se vangloriam de serem os criadores do futebol, ao celebrar a expulsão dos dinamarqueses de seu território chutando bolas de couro, fato que foi desmentido por muitos historiadores que alegam que os primeiros indícios do esporte apareceram na Dinastia do Imperador Huang-Ti, na China.

Outra controvérsia importante ocorreu na final da Copa de 1966, quando a Inglaterra venceu a Alemanha Ocidental com um gol irregular na prorrogação. No entanto, os bretões se defendem dizendo que a falta que originou o empate germânico foi inexistente.

O gol polêmico de Hurst em 66: nem foram preciso recursos tecnológicos para determinar que a bola não entrou.























Não há palavra melhor para resumir a seleção inglesa em Copas do Mundo que tragédia, regada a fracassos em disputas de pênaltis e cartões vermelhos: em 1990, na semifinal contra os alemães, ou em 1998, contra os argentinos nas oitavas, e o cartão vermelho para Beckham, ou em 2006, contra os portugueses, e a expulsão tola de Rooney. E como sempre se consideram favoritos e com uma seleção repleta de craques, acabam eliminados e fadados à consequente decepção.

Estes três leões estarão muito presentes no esquadrão de Roy Hodgson nesta Copa do Mundo. Com uma boa performance nas Eliminatórias — nenhuma derrota em dez partidas — a expectativa é grande, e um novo fracasso eminente. A Inglaterra é um time repleto de reservas em seus clubes, tanto que o principal escudeiro de Hodgson, Ray Lewington, já classifica a missão de seu companheiro um milagre, e 72% dos torcedores não confiam no título.

ESSE É O CARA? Wayne Rooney já vai para a sua terceira Copa, e até agora só colecionou fiascos. Está na hora de mostrar o futebol que o condicionou à craque.































A equipe treina com três camadas de casacos e finalizará a preparação em Miami, onde acredita que lá se habituará às condições do local do jogo de estreia contra a Itália, em Manaus. No grupo D ainda estão Uruguai e Costa Rica. É um grupo muito difícil e serão confrontos muito duros. Ou seja, é uma tragédia da preparação ao local dos jogos, passando pelo sorteio dos grupos e o chaveamento.

A principal contestação do time de Hodgson está no ataque, formado pelo experiente Wayne Rooney, do Manchester United e pelo bom jogador Daniel Sturridge, do Liverpool. Ambos estão fora de sintonia, porque só jogaram juntos em cinco oportunidades. A unanimidade no ataque é o jovem Raheem Sterling, também do Liverpool, que vai dar mais dinamismo ao setor.

FIQUE DE OLHO: Nascido na Jamaica, Sterling optou pela seleção inglesa desde a base. Aos 19 anos, foi a revelação da Premier League e chega ao Mundial como grande promessa.






















O English Team é uma seleção recheada de bons jogadores: o goleiro Joe Hart, do City, o zagueiro Gary Cahill, do Chelsea, os experientes Steven Gerrard, do Liverpool, e Frank Lampard, do Chelsea, o goleador Wayne Rooney, do United, e as sensações Sturridge e Sterling, do Liverpool. Porém, na prática, esse time bom no papel tem tudo para fazer um papelão, mais uma vez.

NO ESQUEMA: 4-3-1-2


A Inglaterra joga num falso 4-3-3, com volantes que criam (Gerrard e Henderson). Rooney faz a função de um meia-atacante e os dois atacantes do Liverpool (Sturridge e Sterling) botam o adversário para correr.


4-3-1-2 (clique para ampliar)





















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João Luiz Ferreira,
empresário e adepto do futebol moleque, curte Copa desde 86