sábado, 7 de junho de 2014

Grupo F | Irã

O Tapete Persa





Apesar de só ter disputado quatro Copas do Mundo, está é a terceira presença do Irã nas últimas cinco edições. Este pode ser um indicativo de certo destaque no cenário regional, muito embora não conquiste a Copa da Ásia desde 1976, quando, inclusive, sediou o torneio. Tal imagem pode ser reforçada se lembrado o último jogo das Eliminatórias: vitória por 1 a 0 contra os sul-coreanos, em Seul — presentes em Copas desde 1986 —, o lhe valeu o primeiro lugar da chave.

As boas observações sobre os persas param aí. O Irã é aquele tipo de seleção que deve se dar por satisfeita por chegar numa Copa do Mundo. A realidade do futebol asiático, com raríssimas exceções na história, na verdade, se pauta nisso. Se por um lado o futebol é o esporte mais popular do país, seus resultados no cenário internacional são pouco expressivos. Seus destaques olímpicos, por exemplo, estão no halterofilismo e na luta.


Copa de 98, Estados Unidos vs. Irã, em Lyon. Depois da partida, os jogadores das duas equipes posaram misturados para a foto. 


















Talvez sua participação mais memorável em Copas tenha sido justamente quando da sua única vitória até aqui: 2 a 1 contra os Estados Unidos, em 1998, com tentos anotados por Estili e Mahdavikia. Memorável mais pelo aspecto político que pelo  esportivo. Sabe-se que as relações exteriores entre os dois países são, usando um eufemismo, pouco amistosas. O filme ganhador do Oscar de 2013, Argo, ajuda a entender o início de tamanha tensão entre a maior potência do planeta e um dos regimes políticos mais fechados existentes.

No Brasil, as equipes de Irã e Estados Unidos novamente estarão próximas, mas não se enfrentarão nos gramados. O Irã utilizará as instalações do Corinthians, na capital paulista, enquanto seus arquirrivais políticos estarão no Centro de Treinamento do São Paulo FC, arquirrivais dos alvinegros na maior cidade brasileira.


ESSE CONHECE: o principal destaque à disposição do técnico português Carlos Queiroz é o capitão Javad Nekounam, meia de 33 anos do Al-Kuwait e ex-Osasuña, que vai para o seu segundo Mundial.






















Em campo, a seleção iraniana pode ser apontada como um dos maiores azarões desta Copa. Se em 1998 e 2006 não se esperava muito dela — e os resultados comprovam isso —, em 2014 uma surpresa é ainda mais improvável. É certamente um dos elencos mais fracos da competição, com seus jogadores escolhidos em clubes locais, principalmente nas três forças da Pro League: Persepolis, Esteghlal e Sepahan.

Os poucos que jogam em ligas europeias atuam em times de pouca representatividade como NEC (da Holanda), Sporting da Covilhã (da segunda divisão portuguesa), Las Palmas (da segunda divisão espanhola), Eintracht Braunschweig (cujo terceiro goleiro, Daniel Davari, é reserva na equipe rebaixada para a segunda divisão alemã) e os londrinos Fulham e Charlton (da segundona inglesa).

Mesmo num grupo com Argentina, Nigéria e Bósnia & Herzegovina, que está longe de ser o mais encardido, é muito provável que os asiáticos somem mais três derrotas em seu currículo de mundiais. Aí é só arrumar as malas, varrer a sujeira para baixo do tapete — persa —, voltar para Teerã e tentar a classificação daqui a quatro anos, mais uma vez.


FIQUE DE OLHO: Ashkan Dejagah jogou nas categorias de base da seleção alemã de 2001 a 2009, até que optou por defender seu país natal, para a tristeza do técnico Joachim Löw, que o tinha em seus planos. 





















NO ESQUEMA: 4-4-2

Tanto os gols quanto as melhores jogadas de ataque passam pelos pés de Nekounam. No entanto, não é o bastante. Não há um setor que possa dar esperanças ao "Team Melli". A defesa é frágil, a armação pouco criativa e o ataque deficiente.

 
4-4-2 (clique para ampliar)





















Histórico em Copas (clique para ampliar)










Adriano 'Carica',
sofredor, torcedor do Vasco e da Lusa,
se acha o mais paulista dos cariocas






Grupo F | Bósnia e Herzegovina

Zmajevi Dolaze: 

Os dragões estão chegando





Pode o futebol unir um país que ainda lambe as feridas de um conflito que dividiu vizinhos e ceifou a vida de mais de 200 mil pessoas? Parte dessa resposta começou a ser dada em uma fria noite de outubro em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina.
Jovens muçulmanos e cristãos, os filhos caçulas de uma guerra fratricida que marcou a metade dos anos 90, olhavam mesmerizados para o telão colocado no centro histórico da capital. Com as mãos cruzadas sobre o peito, rezavam por um Deus diferente e um mesmo milagre: a classificação inédita de sua seleção para a Copa do Mundo.

E ela veio aos 22 minutos do segundo tempo em um cruzamento da esquerda do craque do time, Edin Džeko, que encontrou o pé certeiro de seu parceiro no ataque, Ibisević, e foi morrer no alto da rede lituana. Com o apito final, a alegria invadiu as ruas de Sarajevo, Banja Luka, Tuzla e tantas outras cidades bósnias. Era o fecho de uma campanha quase perfeita dos dragões, como os jogadores são carinhosamente chamados, com dez jogos e um único revés, contra a Eslováquia. A quarta melhor campanha da Europa, atrás apenas de Alemanha, Holanda e Bélgica, com um total de 30 gols marcados.

Com a classificação para a Copa, a alegria tomou conta das ruas de Sarajevo, vinte anos depois delas presenciarem a guerra.




















A explicação para essa fome ofensiva vem do banco. O técnico Safet Sušić foi um grande meio-campista, eleito pela revista France Football o melhor jogador da história do Paris Saint-Germain, deixando para trás craques brasileiros, como Raí e Ronaldinho Gaúcho. Na região dos Balcãs, o treinador de dragões é quase tão famoso quanto os vampiros.

ESSE É O CARA: Edin Dzeko recuperou a condição de titular do Manchester City nas últimas rodadas da Premier League. Com o título, chega com muita moral para, quem sabe, brigar pela artilharia. 



















Para pousar no Guarujá, sede escolhida pela delegação no Brasil, a Bósnia deixou pelo caminho Eslováquia, Lituânia, Letônia, Liechtenstein e Grécia. Fará o primeiro jogo de sua história em Mundiais num palco digno do momento histórico para o país. Terá pela frente a Argentina, de Lionel Messi, no Maracanã, pelo Grupo F.

É uma seleção que construiu seus sucessos a partir das cinzas de um país destruído e dividido, e que não parece estar disposta a ser uma mera coadjuvante na festa. A sabedoria aconselha não duvidar. O futebol é uma caixinha de surpresas e de dentro dela talvez já se possa ouvir o bater de asas atravessando o Atlântico.

FIQUE DE OLHO: Miralem Pjanic é quem faz a transição do meio-campo para o ataque. Com boa visão de jogo, também é chegado em marcar uns golzinhos.






















ESQUEMA TÁTICO: 4-4-2

Jogando no esquema 4-4-2, o time conta com meias habilidosos vindos de fora: Pjanić, da Roma, e Misimović, do chinês Guizhour Renhe, e os atacantes Ibišević, que defende as cores do Stuttgart, da Alemanha, e Džeko, do Manchester City, atual campeão inglês. 

4-4-2 (clique para ampliar)




















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Paulo Sancer,
publicitário com mais juízo que cabelo e que acredita que vai ter Copa






Grupo F | Argentina

Messi comanda a Argentina

favorita com fome de gols




Hermanos surgem como adversários do Brasil numa possível final histórica da Copa do Mundo. Antecipo meu prognóstico e revelo a torcida por uma final Brasil x Argentina no dia 13 de julho, no lendário Maracanã. Seria uma decisão histórica e um prêmio ao futebol mundial. Essa é a minha torcida. Já a minha previsão é que a Alemanha estará na grande decisão. Mas tudo é aposta e o que valerá é realmente quando a bola rolar.

De certo é que a Argentina tem futebol para chegar à decisão. É fato. E vou mais além: qualquer campanha que não leve a seleção argentina até a semifinal, no mínimo, será de uma enorme decepção. Os Hermanos têm um time poderoso e comandado por um gênio chamado Lionel Messi. Então ficar entre os quatro primeiros é obrigação.

Messi, craque do Barcelona, é o grande nome da seleção da Argentina. O camisa 10 encara o Mundial em terras brasileiras como a sua Copa do Mundo. A competição para ele vencer e se consagrar de vez, calando àqueles que ainda ousam duvidar do seu potencial como um gênio da bola. Com Messi, a Argentina chega forte ao Brasil. Do meio-campo para frente é uma equipe mágica, forte e que promete ser avassaladora tamanho o poder de fogo dos comandados de Alejandro Sabella.

É fato que a Argentina tem um sistema defensivo frágil. Também pudera o maior rival sul-americano do Brasil ter a equipe avassaladora do meio para frente e apresentar ainda uma defesa firme, segura. Seria realmente uma covardia com os adversários.

Sendo assim, o polivalente Javier Mascherano cumpre o papel de desarmar as jogadas rivais, aliviando a pressão em cima da zaga formada por Ezequiel Garay e Federico Fernández. As laterais também são setores fragilizados de uma Argentina que promete, na base da força e do talento, compensar a fragilidade defensiva e caminhar rumo a mais um título Mundial.


O sonho e o pesadelo

FIQUE DE OLHO: Ángel Di María chega ao Mundial com o título de campeão europeu e fome de gols.





















Todos os holofotes estão em Lionel Messi e seus parceiros de frente. No entanto, Sabella sabe quem são os jogadores chaves do time, bem como os mais fragilizados e que precisam ser vigiados pelo esquema.

O talentoso Gago tem o papel de segundo volante, com a missão de tomar a bola e dar qualidade à saída, o que sabe fazer muito bem. Para tanto, conta com Mascherano de um lado e mais à frente Di Maria. Já o novato lateral-esquerdo Marcos Rojo e o zagueiro Frederico Fernández são o “calcanhar de Aquiles” de Sabella e não contam com a confiança do torcedor argentino.

Ciente da fragilidade do time como um todo, Sabella buscou dar espírito de equipe à seleção e conseguiu. O time joga atualmente com espírito coletivo, atacando e defendendo em grupo, o que compensa de certa forma a fragilidade de alguns setores da equipe.


O Cara

ESSE É O CARA: Messi comemora gol contra o Uruguai nas Eliminatórias. Ele quer repetir o feito do vizinho há 64 anos.





















Dentre as estrelas da Copa do Mundo, o argentino Lionel Messi é a maior delas. Eleito o melhor jogador do mundo nas últimas quatro temporadas, Messi é a grande esperança de título para a Argentina, que não é campeã do mundo desde 1986.

O camisa 10 já disputou duas Copas (2006 e 2010), mas acabou eliminado em ambas para a Alemanha, nas quartas de final. Craque, o jogador do Barcelona vê ainda o Mundial como o maior desafio para superar as cobranças dos críticos, que teimam em não colocá-lo no topo devido à ausência de uma Copa do Mundo no currículo.

Messi tem 26 anos e chega no auge da carreira para o Mundial do Brasil. Defende uma seleção argentina já pronta e competitiva, sobretudo do meio para a frente. O setor defensivo preocupa, é fato, mas é um time que tem um poder de fogo que de certa forma compensa a deficiência defensiva da equipe. Messi vê a Copa do Mundo do Brasil como a grande chance de conquistar o topo do mundo com a camisa da seleção argentina.

Nas Eliminatórias sul-americanas ficou claro que o jogador se sente bem mais à vontade com a camisa da seleção, conseguindo apresentar todo o seu futebol. Messi é um gênio da bola, mas que demorou a deslanchar com a camisa de seu país.

O sucesso no Barcelona jogava contra o craque, que era cobrado fortemente pelo fato de o futebol apresentado no clube catalão não se repetir na seleção argentina. As coisas mudaram e Messi vem forte e motivado para o Mundial do Brasil.

É aguardar e contar as horas para ver Messi atuar em campos brasileiros. Os torcedores daqui e todos os amantes do futebol terão a chance de ver o camisa 10 em ação em mais um Mundial. Isso é um privilégio.


ESQUEMA TÁTICO: 4-3-3

Um time fiel ao esquema 4-3-3, com Messi fazendo a função de falso camisa 9 e tendo a companhia de Gonzalo Higuaín e Sergio Agüero. No entanto, o maior destaque vem detrás, com o rápido e insinuante Di María, que atua como um meia-esquerda sem a bola, mas quando a seleção está com a bola torna-se um quarto atacante para temor das zagas adversárias.



4-3-3 (clique para ampliar)





















(clique para ampliar)










Fabio Salgueiro,
jornalista, é um amante do futebol e de pessoas