quinta-feira, 13 de março de 2014

1950 | Pedras na Chuteira


Estudos realizados pelo Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos concluíram que viajar de avião é onze vezes mais seguro do que de automóvel. E mais: as chances de uma pessoa morrer durante um voo é de uma em 90 milhões. Isso significa que você pode voar pelos próximos 250 mil anos sem se preocupar.

Mas as estatísticas estão aí para serem quebradas. No dia 4 de maio de 1949, o avião que trazia de volta o elenco do Torino, tetracampeão italiano, chocou-se violentamente contra a Basílica de Superga, nos arredores da cidade de Turim, matando todos os jogadores, dirigentes e jornalistas a bordo.

O funeral dos jogadores do Torino, em 1949: o time conquistou o penta em 1948/49 com os juvenis.
























Sem os craques do clube, base da seleção, a bicampeã Itália fracassou no Grupo 3: perdeu logo na estreia para a Suécia por 3 a 2, e mesmo vencendo o Paraguai na partida seguinte ficou de fora do quadrangular final — os suecos se classificaram.

Outra decepção foi a Inglaterra, que até então não havia se inscrito para nenhuma Copa por se julgar superior às demais seleções. Depois de estrear no Grupo 2 com uma vitória de 2 a 0 sobre o Chile, no Maracanã, o English Team protagonizou uma das maiores “zebras” da história das Copas: derrota por 1 a 0 para os Estados Unidos, em Belo Horizonte. Os norte-americanos tinham uma equipe amadora, formada em sua maior parte por carteiros, lavadores de pratos e imigrantes.

Os ingleses posam para as fotos na estreia: pela primeira vez em Copas, números nas costas dos jogadores.
















O placar foi tão inesperado que parte da mídia inglesa publicou o resultado de 10 a 1, entendendo que havia um erro de digitação. Com mais uma derrota por 1 a 0, desta vez para a Espanha, os britânicos disseram adeus ao torneio que por tanto tempo desprezaram.

A torcida mineira carrega nos braços os heróis norte-americanos.


























Enquanto isso, no Grupo 1, o Brasil não deu chances para o México. Na abertura da Copa, no Maracanã, a Seleção Brasileira goleou o "El Tri" por 4 a 0, com dois gols de Ademir de Menezes. No entanto, a segunda partida não foi nada fácil, apresentando um adversário que ficaria conhecido por seu sistema defensivo, apelidado de “Ferrolho Suíço”.

Quatro dias depois da estreia, Brasil e Suíça jogaram para 42 mil torcedores no Pacaembu — a única partida da Seleção Brasileira fora do Rio. A torcida paulista não morria de amores pelo time, ressabiada com a baixa presença de paulistas na equipe titular. Tentando amenizar o clima, o técnico Flávio Costa escalou o atacante corintiano Baltazar como titular. Não adiantou muito. Mesmo com um gol dele, o estádio inteiro vaiou em uníssono o empate de 2 a 2.

O Pacaembu no dia de Brasil x Suíça, em 1950.






















Com o resultado, a terceira e última partida, contra a Iugoslávia, virou decisão. Com um ponto a menos que os iugoslavos, a Seleção Brasileira precisava da vitória para não ser eliminada. A tensão acabou logo aos 4min, com o gol de Ademir. Aos 44min do 2° tempo, Zizinho fez o segundo e classificou o Brasil para a fase seguinte.

Alheio a todas as dificuldades vividas pelas outras seleções, o Uruguai teve vida fácil no Grupo 4. Diante das desistências de França e Portugal, só precisou enfrentar a Bolívia. Correspondendo muito bem às expectativas, a Celeste fez 8 a 0 nos bolivianos, a maior goleada da Copa, e se juntou à Espanha, Suécia e Brasil no quadrangular final. 

O regulamento era simples: todos contra todos e quem somasse mais pontos seria o campeão. Pela primeira e única vez na história a Copa do Mundo não teria verdadeiramente uma final. Pelo menos era o que todos imaginavam.


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Apesar de enfiar 8 a 0 na Bolívia, o Uruguai não metia medo em ninguém.


[ continua ]