segunda-feira, 30 de junho de 2014

8° de Final | Vim, Defendi, Venci













Existe uma linha tênue entre torcer e sofrer. Na torcida e no sofrimento há o grito, há o choro, há a vibração e há tantas outras coisas comuns à emoção humana. Sábado, no Mineirão, houve tudo isso: o torcedor brasileiro foi da alegria à tristeza e de novo à alegria num turbilhão de sentimentos jamais vistos em campos brasileiros. Afinal, é Copa do Mundo. E, em 1950, ainda não existia a decisão por pênaltis.


O sol a pino do meio-dia emanava um calor só comparável ao que vinha das arquibancadas. A verdadeira febre amarela engoliu o hino chileno cantado a plenos pulmões pelas inúmeras camisas vermelhas. Da já tradicional entrada em campo com as mãos nos ombros ao hino nacional brasileiro à capela, a rouquidão precoce na voz de torcedores e jogadores anunciava o drama que abriria as oitavas de final da melhor Copa dos últimos anos.





















Brasil x Chile era uma barbada. Três encontros em Mundiais, três vitórias; uma delas na casa chilena, o Estádio Nacional de Santiago, em 1962. Quando a bola rolou, ficou ainda mais evidente quem mandava no Mineirão, dentro e fora de campo. Com 16 minutos a Seleção cobrava seu terceiro escanteio na partida. Neymar botou na cabeça do capitão Thiago Silva, que desviou com autoridade para a pequena área, onde a bola encontrou a perna do chileno Jara e, depois, a barriga de David Luiz. Era o primeiro gol do zagueiro com a camisa amarela. Era a estrela de David brilhando mais alto que o sol das Minas Gerais.





















Porém, o Chile de 2014 não tinha jeito de freguês. Queria se servir na área brasileira, balançar a rede verde-amarela e criar um "Mineirazo". O time do ótimo Jorge Sampaoli encurralou um Brasil desatento em seu próprio campo. Numa cobrança de lateral de Marcelo, Vargas roubou a bola de Hulk, cruzou para a área e Alexis Sánchez bateu colocado, à direita de Julio Cesar. O canto de "O campeão voltou" emudeceu em meio às manchas vermelhas enlouquecidas. A posse de bola virou propriedade chilena: 57%. O primeiro tempo, graças a Deus, terminou.

A Seleção voltou do intervalo aguerrida. Enquanto a torcida cantava o hino, anunciava a volta do campeão e exaltava seu orgulho e amor, o time em campo tentava retomar as rédeas da partida. Hulk fez o segundo, mas o inglês Howard Webb flagrou um leve domínio com o braço do atacante brasileiro. O Chile tinha toque de bola, velocidade e vontade de aprontar. O Brasil não tinha criatividade. Aránguiz testou Julio com um belíssimo arremate, e lá estava ele, com uma defesa excepcional. Fred saiu, Jô nem entrou. O fim do jogo foi o começo. Depois de 16 anos, a Seleção Brasileira se encontrava com a famigerada prorrogação — 1998, Holanda, em Marselha.





















"Eu acredito!" Um apelo nunca ouvido num jogo da Seleção mostrava o quanto de tensão havia no ar. O cansaço psicológico virou físico. Brasileiros e chilenos se fecharam em rodinhas procurando na alma forças que faltavam às pernas. Passes errados e cruzamentos sem perigo foram um enredo previsível. Até que aos 119 minutos e 40 segundos de bola rolando, Pinilla acertou um torpedo que explodiu no travessão de Julio. Um frio na espinha se espalhou por todo o estádio. Quando Howard Webb apitou o fim do tempo extra, o Mineirão estava exausto.

Com os olhos marejados, Julio Cesar olhou para o nada e viu Sneijder. Voltou para a Terra e viu, um a um, todos os jogadores o abraçarem. Foi para a meta e esperou a sua primeira vítima: Pinilla, o mesmo que ousara carimbar a trave brasileira na prorrogação. Pegou. Veio Alexis, o craque chileno. Mas Julio virara um animal debaixo das traves, que não distinguia craque de perna-de-pau. Sem piscar, pegou também. Neymar cobrou o quarto, e assim como David Luiz e Marcelo, fez. Era o último pênalti chileno, e Jara — o coautor do gol brasileiro — chutou na trave. Não era mesmo dia dele. O dia era, sim, de Julio Cesar.





















Grupo H | Fazendo História














A fragilidade da Argélia ficou apenas na alcunha de "fenecos", as menores raposas do mundo, que pesam 1,5 kg. Uma boa estreia contra os belgas e uma vitória histórica contra os sul-coreanos colocaram os argelinos em grandes condições de classificação na rodada decisiva do Grupo H. Com a derrota da Coreia do Sul para a Bélgica, bastava um empate para os argelinos. 

Os russos chegaram a sair na frente, com uma cabeceada de Kokorin, mas o gol de Slimani, também pelo alto, selou o triste destino da futura sede da Copa do Mundo. Para a Argélia, a classificação inédita para as oitavas foi a realização de um sonho antigo, que vem desde 1982, quando a equipe fez uma excelente campanha e foi eliminada pelo jogo de comadres entre alemães e austríacos. E é justamente a Alemanha que a Argélia irá enfrentar. Não poderia haver motivação maior para a sua primeira oitava de final.

















Classificada por antecipação, a Bélgica entrou na Arena da Baixada recheada de reservas para o "amistoso" contra a Coreia do Sul. Por outro lado, os asiáticos ainda tinham alguma chance de avançar, e a partida para eles era tudo ou nada. As coisas pareciam estar a favor dos sul-coreanos quando Defour foi expulso ainda na etapa inicial por um lance similar ao do italiano Marchisio (contra o Uruguai). Os Diabos Vermelhos estavam à beira do inferno com um homem a menos, mas as mudanças do técnico Marc Wilmots no intervalo deram um alento à equipe. Mais que o titular Hazard, foi a entrada de Origi que mudou a partida.

O substituto de Benteke já havia feito o gol do triunfo sobre os russos e, mais uma vez, mostrou o seu valor. Aos 33 da etapa final, ele chutou de fora da área e o goleio Howard rebateu. A bola caiu no pé de Vertonghen, que não desperdiçou o rebote. A vitória por 1 a 0 classificou a Bélgica em primeiro lugar no Grupo H e foi histórica para a seleção vermelha: os belgas jamais haviam vencido todos os jogos da primeira fase de um Mundial. Agora, só resta jogar um futebol que faça jus à campanha 100%.





















domingo, 29 de junho de 2014

Grupo G | O Valor da Vitória





Ter milhões de passageiros viajando de uma ponta à outra do País para assistir aos jogos da Copa do Mundo é algo bastante normal. Estranho mesmo é saber que três milhões de dólares estiveram nos ares do território nacional na calada da noite na última quinta-feira. Mas se pensarmos que o destino do dinheiro era Brasília, nada mais natural para quem está acostumado a esconder dólares na cueca.

O dinheiro, na verdade, era o pagamento atrasado — e bem atrasado — da seleção de Gana pela classificação para a Copa. Os dólares chegaram depois que a ausência deles abalou as estruturas da concentração ganesa. Alguns jogadores perderam a cabeça e extrapolaram. Prince Boateng, por ofender o técnico Appiah, e Sulley Muntari, por ameaçar um membro da comissão técnica com uma garrafa, foram afastados. Só o cheiro das notas trouxe de volta a tranquilidade. 





















Com os ânimos acalmados, Gana entrou no Mané Garrincha precisando da vitória. Porém, quem saiu na frente foi Portugal, que além da vitória, tinha de golear. Aos 30 de jogo, o zagueiro Boye desviou contra o próprio patrimônio e levantou suspeitas sobre a procedência do dinheiro. No segundo tempo, Gana chegou ao empate depois do belo cruzamento de três dedos de Kwadwo Asamoah, que Gyan conferiu de cabeça. Entretanto, Cristiano Ronaldo, mesmo longe de sua melhor forma física, mudou o resultado.





















O jogador mais bem pago do mundo teve várias oportunidades, mas precisou esperar até aos 35 da segunda etapa para fazer o seu primeiro e único gol no Mundial do Brasil — com a colaboração do goleiro Dauda. A vitória por 2 a 1 não livrou Ronaldo do estigma que persegue o melhor do mundo em ano de Copa: nunca um vencedor do prêmio ganhou o Mundial. Discreto nos dois primeiros jogos, Ronaldo acabou eleito o homem do jogo contra Gana, o que foi pouco para quem tinha tudo para arrebentar em campos brasileiros.

No fim das contas, Portugal  e Cristiano Ronaldo deram um melancólico adeus, conforme o macumbeiro ganês previu (http://www.deletranacopa.com.br/2014/06/grupo-g-gana.html). Ao menos alguém fez bem o seu trabalho.































De um lado, o seu emprego. Do outro, o seu país e o seu pupilo e amigo. Apesar disso, Klinsmann não estava dividido. Na hora dos hinos, tinha ambos na ponta da língua. O abraço em Joachim Löw selou uma amizade de longa data: em 2006, Klinsmann era o treinador da Alemanha e Löw, o seu assistente. Parou por aí. Com a bola rolando, os dois técnicos esqueceram as festas de confraternização no fim de ano. Falou-se em jogo de compadres — o empate classificava os dois —, mas o que se viu no primeiro tempo foi uma guerra dentro de campo. Num jogo onde a chuva castigou a Arena Pernambuco, mas a drenagem do gramado não sentiu sequer cócegas, a bola foi um detalhe.





















E foi no detalhe que a Alemanha venceu no segundo tempo. Thomas Müller mostrou que a Copa do Mundo é a sua especialidade: marcou seu nono gol em nove partidas na história dos Mundiais. Se ele foi a revelação da Copa passada, nesta Müller briga pela artilharia, com quatro gols. A vitória por 1 a 0, além de dar a primeira posição aos germânicos no Grupo G, serviu para confirmar a previsão de Klinsmann, que disse antes da Copa: "Vamos passar em segundo, atrás da Alemanha". Dito e feito.
  




















sexta-feira, 27 de junho de 2014

Grupo E | Pequenos Gigantes













Mesmo sem jamais ter cantando a Marselhesa, ele é ídolo na França. Entretanto, Karim Benzema jamais havia pisado no Maracanã. Por outro lado, o limitado Frickson Erazo costuma cantar a plenos pulmões o hino do seu Equador, e conhece o Maracanã como poucos nessa Copa: ele atua no Flamengo. O encontro de extremos, na última quarta, tinha tudo para ser desigual, mas Erazo conseguiu anular o artilheiro francês, que pisou no Maracanã, mas não fez nenhum gol.



















Sem seis titulares, os Bleus jogaram para o gasto, fecharam a primeira fase como esperado — na liderança do Grupo E —, e têm pela frente a Nigéria nas oitavas de final. O Equador, no auge de suas limitações, foi o único a ficar fora da festa sul-americana. Se por um lado Antonio Valencia decepcionou por ser expulso, Frickson Erazo teve seu nome gritado nas arquibancadas do Maracanã. Resta saber se quando o Brasileirão voltar à ativa, a torcida rubronegra se lembrará de Erazo, "o homem que parou Benzema no Maracanã".













Ele tem apenas 1,69 metros, mas joga um grande futebol. Não é à toa que é o 12° jogador do poderoso Bayern Munique. No confronto da desforra, a Suíça queria apagar a mancha deixada pelo empate por 0 a 0 contra Honduras, em 2010, que tirou os helvéticos daquela Copa. E graças à Shaqiri, autor de três gols — e Drmic, autor de três assistências — na Arena Amazônia, a Suíça goleou e se classificou em segundo lugar, atrás da França, para a salvação do continente europeu.





















A Suíça encara a Argentina nas oitavas, em São Paulo. O técnico Ottmar Hitzfeld sabe que sua defesa, apelidada de "queijo suíço" nesta Copa, terá muito trabalho para conter Messi e cia. Mas ele lembra que o time não esqueceu como jogar defensivamente, o que nos leva a imaginar que muito possivelmente teremos o primeiro 0 a 0 da Arena Corinthians.