Para quem goleou a
atual campeã mundial por 5 a 1 na estreia, vencer a frágil Austrália parecia
tarefa fácil. Entretanto, o sofrimento holandês para vencer pela primeira vez
na história o time da Oceania foi grande. A família real da Holanda, com o rei
Willem Alexander e a rainha Máxima Zorreguieta presentes ao Beira-Rio, não
acreditou quando os Socceroos surpreendentemente encararam a Laranja de igual para
igual.
A "Copa das
Viradas" chegou ao seu ápice com duas reviravoltas no marcador. Robben
abriu os trabalhos com uma arrancada típica desde o círculo central e um
arremate rasteiro com força. No minuto seguinte, Tim Cahill lembrou van Basten
no sem-pulo mais extraordinário dos últimos tempos. Se o empate por 1 a 1 no
primeiro tempo já era um espanto, a virada no início do segundo foi um balde de
água fria.
Num pênalti mal
assinalado, Jedinak cobrou no canto contrário de Cillessen — que nem saiu na
foto — para fazer o segundo australiano. O sonho começou a acabar quando van
Persie, quatro minutos depois da virada australiana, deixou tudo igual
novamente. Com a contusão de Martins Indi, que chegou a desmaiar em campo, o garoto
Memphis Depay ganhou uma oportunidade de ouro. E a abraçou. No chute do meio da
rua, o goleiro Ryan não conseguiu segurar. 3 a 2.
A vitória colocou a Holanda com um pé na segunda fase. O outro veio logo em seguida, no Maracanã, com mais um tropeço dos detentores do título.
Quando a seleção
chilena saiu vaiada de campo em 3 de setembro de 1989, ninguém imaginou que ela
só voltaria ao gramado do Maracanã 25 anos depois. Além do mais, aplaudida. O
Maracanã desta quarta-feira era um mar vermelho de chilenos, que cantaram o
hino nacional à capela até o último suspiro. Ainda que alguns baderneiros
tenham invadido o centro de imprensa, nas arquibancadas não havia lugar para lembranças
vergonhosas. Rojas caído, misteriosamente ensanguentado e depois sendo
carregado pelos companheiros fazia parte do passado. No lugar da fraude, o bom
futebol que credenciou o Chile a uma das surpresas da Copa.
A atual campeã estava
em xeque. Precisava vencer para ainda sonhar com o bi. Mas o gol de Vargas logo
a 19 minutos deu início à contagem regressiva: tik-taka, tic-tac... Aos 43, Casillas rebateu a falta cobrada por
Alexis Sánchez no pé de Aránguiz. Era a detonação de uma geração de ouro, chegando ao fim — o fim de Casillas, Xavi e Iniesta. No segundo tempo, o time
do toque de bola passou a observar a brazuca nos pés dos chilenos, onde ela
parecia ficar mais à vontade. O tempo passou e a hora chegou. A Espanha, que
tanto encantou, disse adeus, com medo de voltar à rotina de figurante.
Como em 1950, quando perdeu para o Brasil por 6 a 1 neste mesmo Maracanã.
Adeus para uns,
bem-vindo para outros. A Copa recebeu de braços abertos a estreia do croata
Mario Mandžukić, que estava suspenso no primeiro jogo. E ele não decepcionou.
Contribuiu com dois gols para a incrível média de três por partida no torneio.
De quebra, Mandžukić ajudou a Croácia a eliminar Camarões. O time
africano, que não pode contar com Samuel Eto'o, chegou a se desentender em
campo — Assou-Ekotto e Moukandjo trocaram empurrões e cabeçadas durante a
partida —, o que mostrou o mesmo ambiente hostil das Eliminatórias. Já a Croácia
demonstrou que o bom futebol na abertura não foi por acaso, e que uma das vagas
nas oitavas deverá ser dela.