sexta-feira, 20 de junho de 2014

Os Fantasmas do Maracanã













Para quem goleou a atual campeã mundial por 5 a 1 na estreia, vencer a frágil Austrália parecia tarefa fácil. Entretanto, o sofrimento holandês para vencer pela primeira vez na história o time da Oceania foi grande. A família real da Holanda, com o rei Willem Alexander e a rainha Máxima Zorreguieta presentes ao Beira-Rio, não acreditou quando os Socceroos surpreendentemente encararam a Laranja de igual para igual.

A "Copa das Viradas" chegou ao seu ápice com duas reviravoltas no marcador. Robben abriu os trabalhos com uma arrancada típica desde o círculo central e um arremate rasteiro com força. No minuto seguinte, Tim Cahill lembrou van Basten no sem-pulo mais extraordinário dos últimos tempos. Se o empate por 1 a 1 no primeiro tempo já era um espanto, a virada no início do segundo foi um balde de água fria.


















Num pênalti mal assinalado, Jedinak cobrou no canto contrário de Cillessen — que nem saiu na foto — para fazer o segundo australiano. O sonho começou a acabar quando van Persie, quatro minutos depois da virada australiana, deixou tudo igual novamente. Com a contusão de Martins Indi, que chegou a desmaiar em campo, o garoto Memphis Depay ganhou uma oportunidade de ouro. E a abraçou. No chute do meio da rua, o goleiro Ryan não conseguiu segurar. 3 a 2. 




















A vitória colocou a Holanda com um pé na segunda fase. O outro veio logo em seguida, no Maracanã, com mais um tropeço dos detentores do título. 












Quando a seleção chilena saiu vaiada de campo em 3 de setembro de 1989, ninguém imaginou que ela só voltaria ao gramado do Maracanã 25 anos depois. Além do mais,  aplaudida. O Maracanã desta quarta-feira era um mar vermelho de chilenos, que cantaram o hino nacional à capela até o último suspiro. Ainda que alguns baderneiros tenham invadido o centro de imprensa, nas arquibancadas não havia lugar para lembranças vergonhosas. Rojas caído, misteriosamente ensanguentado e depois sendo carregado pelos companheiros fazia parte do passado. No lugar da fraude, o bom futebol que credenciou o Chile a uma das surpresas da Copa.



















A atual campeã estava em xeque. Precisava vencer para ainda sonhar com o bi. Mas o gol de Vargas logo a 19 minutos deu início à contagem regressiva: tik-taka, tic-tac...  Aos 43, Casillas rebateu a falta cobrada por Alexis Sánchez no pé de Aránguiz. Era a detonação de uma geração de ouro, chegando ao fim — o fim de Casillas, Xavi e Iniesta. No segundo tempo, o time do toque de bola passou a observar a brazuca nos pés dos chilenos, onde ela parecia ficar mais à vontade. O tempo passou e a hora chegou. A Espanha, que tanto encantou, disse adeus, com medo de voltar à rotina de figurante.

Como em 1950, quando perdeu para o Brasil por 6 a 1 neste mesmo Maracanã.






























Adeus para uns, bem-vindo para outros. A Copa recebeu de braços abertos a estreia do croata Mario Mandžukić, que estava suspenso no primeiro jogo. E ele não decepcionou. Contribuiu com dois gols para a incrível média de três por partida no torneio. De quebra, Mandžukić ajudou a Croácia a eliminar Camarões. O time africano, que não pode contar com Samuel Eto'o, chegou a se desentender em campo — Assou-Ekotto e Moukandjo trocaram empurrões e cabeçadas durante a partida —, o que mostrou o mesmo ambiente hostil das Eliminatórias. Já a Croácia demonstrou que o bom futebol na abertura não foi por acaso, e que uma das vagas nas oitavas deverá ser dela.