sexta-feira, 27 de junho de 2014

Grupo E | Pequenos Gigantes













Mesmo sem jamais ter cantando a Marselhesa, ele é ídolo na França. Entretanto, Karim Benzema jamais havia pisado no Maracanã. Por outro lado, o limitado Frickson Erazo costuma cantar a plenos pulmões o hino do seu Equador, e conhece o Maracanã como poucos nessa Copa: ele atua no Flamengo. O encontro de extremos, na última quarta, tinha tudo para ser desigual, mas Erazo conseguiu anular o artilheiro francês, que pisou no Maracanã, mas não fez nenhum gol.



















Sem seis titulares, os Bleus jogaram para o gasto, fecharam a primeira fase como esperado — na liderança do Grupo E —, e têm pela frente a Nigéria nas oitavas de final. O Equador, no auge de suas limitações, foi o único a ficar fora da festa sul-americana. Se por um lado Antonio Valencia decepcionou por ser expulso, Frickson Erazo teve seu nome gritado nas arquibancadas do Maracanã. Resta saber se quando o Brasileirão voltar à ativa, a torcida rubronegra se lembrará de Erazo, "o homem que parou Benzema no Maracanã".













Ele tem apenas 1,69 metros, mas joga um grande futebol. Não é à toa que é o 12° jogador do poderoso Bayern Munique. No confronto da desforra, a Suíça queria apagar a mancha deixada pelo empate por 0 a 0 contra Honduras, em 2010, que tirou os helvéticos daquela Copa. E graças à Shaqiri, autor de três gols — e Drmic, autor de três assistências — na Arena Amazônia, a Suíça goleou e se classificou em segundo lugar, atrás da França, para a salvação do continente europeu.





















A Suíça encara a Argentina nas oitavas, em São Paulo. O técnico Ottmar Hitzfeld sabe que sua defesa, apelidada de "queijo suíço" nesta Copa, terá muito trabalho para conter Messi e cia. Mas ele lembra que o time não esqueceu como jogar defensivamente, o que nos leva a imaginar que muito possivelmente teremos o primeiro 0 a 0 da Arena Corinthians. 


Grupo F | Só Messi Salva (SMS)





Era mais que um jogo da fase de grupos, mais que a briga pelo primeiro lugar. Era a memória de um gênio. Há exatos 20 anos, Diego Maradona jogava sua última partida em Copas do Mundo, justamente contra a Nigéria. Pego no exame antidoping, Dieguito foi suspenso e nunca mais voltou a desfilar seu futebol na competição.

Messi provavelmente sabia disso. Sabia que herdara a camisa dez do Pibe, e que deveria honrar aquele manto. Em sua terceira Copa, Messi começa a despontar não só como artilheiro, mas como o homem que tem levado a Argentina praticamente nas costas — assim como Maradona fez em 86, em seu terceiro Mundial.



















O duelo com a Nigéria é antigo, e teve mais um capítulo de intensa disputa em 2010. Na ocasião, o goleiro Enyeama fez de tudo e mais um pouco para não ser vazado por Messi. Foram oito arremates de "La Pulga" e nenhum deles entrou — o gol da vitória argentina foi marcado por Heinze.

Porém, na versão 2014 do confronto, Messi só precisou de um chute para vencer Enyeama, aos 3. Mas nem teve tempo de comemorar. Aos 4, Musa empatou para as Super Águias. Messi não se abateu, e no finzinho do primeiro tempo marcou seu segundo gol, cobrando falta. Enyeama nem se mexeu.





















Quando Musa, aos 2 da etapa complementar, marcou outro gol e igualou mais uma vez o marcador, Messi descobriu que seu duelo não era com o goleiro nigeriano. No entanto, não foram os pés do craque argentino que decidiram o jogo. O pé salvador, na verdade, foi um joelho. Na cobrança de Di María, o lateral-esquerdo Rojo subiu para cabecear, mas só conseguiu esticar o joelho para empurrar a bola no gol. Foi o ato final de uma batalha bem disputada.

Carregada por Messi, a Argentina venceu a terceira seguida na Copa. Mas fica evidente que a defesa dos hermanos não acompanha o resto do time. A Argentina é uma equipe muito perigosa do meio para frente; também do meio para trás. Resta saber quem vai fazer mais a diferença: os gols de Messi ou as falhas da zaga.































Pode uma seleção sem nenhum gol marcado disputar uma vaga na segunda fase da Copa do Mundo? Pode. Mas não merece. Com reais chances de classificação pela primeira vez em sua história, o Irã encarou a já eliminada Bósnia, em Salvador, dependendo de si e de uma vitória da Argentina — os hermanos fizeram a parte deles. Só faltou avisar aos bósnios, que exerceram pressão desde o início do jogo e, com méritos, construíram um placar honroso para sua despedida.

A chuva veio, mas não foi a chuva de gols com que o torcedor baiano está acostumado (média de 5,66 por partida nessa Copa). Džeko, enfim, marcou o seu. Mas o sabor amargo da derrota para a Nigéria, com um gol dele mal anulado, ainda vai ficar por muito tempo na memória dos bósnios. Os persas, em último lugar no Grupo F, retornam para Teerã ao menos com um golzinho na conta.   




















Grupo C | Mitos & Lendas






A febre se espalhou pelo Pantanal. Um dos ecossistemas mais ricos do mundo conheceu nesta semana os "cafeteros". Amarela e muito agitada, esta espécie se caracteriza pela alegria e pelo apoio incessantes nas arquibancadas. A Colômbia quando joga é uma festa dentro e fora de campo. Contra o Japão, no encerramento do Grupo C, não foi diferente.


Mesmo classificados, os colombianos passearam na Arena Pantanal. Ainda assim, o primeiro tempo terminou igual, com um gol de Cuadrado, de pênalti, e outro de Okazaki, no último lance. Na etapa complementar, os dois gols de Jackson Martínez deram espaço para as homenagens. A cinco minutos do fim, o técnico José Pekerman transformou Farid Mondragón em uma lenda viva: aos 43 anos, o goleiro reserva tornou-se o jogador mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo, superando o camaronês Roger Milla (42, em 1994). Homenagem feita, James Rodríguez fechou o placar com um golaço: 4 a 1. E a febre amarela continua derrubando os adversários.






























Na mitologia grega é comum os deuses do Olimpo descerem à Terra para dar uma 'forcinha' aos seus filhos preferidos. Embora seja pouco provável que Zeus tenha estado entre os 59 mil presentes no Castelão, em Fortaleza, é fato que o destino foi decisivo para o triunfo da Grécia e sua inferioridade técnica.

Com o jogo empatado no segundo tempo — Samaris para os gregos e Bony para os marfinenses —, a Costa do Marfim tropeçou em sua própria soberba, e na figura de Giovanni Sio cometeu um pênalti infantil aos 47. Samaras cobrou e virou herói — não da mitologia, mas da primeira classificação helênica para a segunda fase de um Mundial. Se o fantasma de 50 assusta, o de 2004 corre por fora. 





















Grupo D | Beijinho no Ombro















Uma famosa série de TV apresenta um mundo apocalíptico dominado por seres que se alimentam de carne humana. Pode parecer só ficção, mas a realidade não está tão longe disso. Relatos de canibalismo, ainda que raros, geram grande repercussão pela crueldade com que são cometidos. No mais recente deles, um homem foi morto pela polícia por se negar a parar de comer quase todo o rosto de sua vítima. Pensar que o futebol está a salvo desse tipo de barbárie pode até parecer absurdo, mas a Copa do Mundo está aí para provar que o sabor — e o dissabor — de uma mordida tem suas razões e consequências.

A tensão da partida disputada em Natal é um bom indício: uma batalha entre duas seleções acostumadas a dramalhões épicos, onde só um continuaria vivo. A Itália, que só precisava do empate, entrou para se defender, desperdiçando o talento de Pirlo. Balotelli, sumido, nem voltou do intervalo. A Azzurra jogava literalmente com o regulamento debaixo do braço. Para piorar, Marchisio foi expulso no início do segundo tempo, após entrar de sola em Arévalo Rios.



















Para o Uruguai, só a vitória interessava. Foram inúmeras chances com Suárez, Cavani e Cristian Rodríguez, até que aos 30, o camisa 9 teve a maior de todas elas, frustrada pelo braço providencial do milagroso Buffon. Destemperado, Suárez, aos 35, foi em direção a Chiellini, mordeu o ombro do zagueiro e levou uma cotovelada. O lance passou batido pela arbitragem, mas não pela FIFA. O gol veio logo depois, aos 36, com Godín cabeceando de costas no escanteio. A Itália foi embora, com Pirlo e Buffon deixando saudades. Dois dias depois, Suárez também foi. Por ser reincidente, pegou nove partidas e quatro meses de suspensão. Uma decisão, no  mínimo, exagerada.





















Não há dúvidas da genialidade de Luis Suárez, artilheiro da última Premier League e deus máximo da Celeste Olímpica. Ele, que por pouco não perdeu o Mundial, e talvez tivesse sido melhor assim, do que ficar tanto tempo longe de qualquer atividade ligada ao futebol. Do joelho à mordida, um fim de Copa indigesto para o artilheiro que tem fome não só de gols.












































Sob os olhares atentos do príncipe Harry, o English Team jogou por sua honra num Mineirão tomado pelos costarriquenhos. Mas por mais que o time tenha tentado vazar a meta de Keylor Navas, não foi possível evitar o empate e, consequentemente, a pior campanha da Inglaterra na história das Copas. Resta aos bretões apostar nos jovens valores desta geração, como Sturridge, Welbeck e Sterling, para a Copa de 2018.

No fim, a Costa Rica, grande surpresa da competição, se mostrou satisfeita com o placar. Para quem chegou eliminada num grupo com três campeões do mundo, sobreviver de forma invicta já é um título.