quinta-feira, 11 de junho de 2015

Fora de Padrão



“Padrão Fifa” é — ou era — um sinônimo de qualidade. O bordão ganhou força nas manifestações populares de 2013 que reivindicavam melhorias principalmente na saúde e na educação, diante da qualidade na organização da Copa do Mundo de 2014 por parte da Fifa. Não demorou muito, a expressão se incorporou ao dia a dia dos brasileiros: almoço “padrão Fifa”, atendimento “padrão Fifa” e, por que não, sexo “padrão Fifa”. Mas, recentemente, a entidade que rege o futebol no mundo perdeu a credibilidade com as investigações feitas pelo FBI (polícia federal americana). Elas revelaram um “padrão Fifa de corrupção” de dar inveja a qualquer partido político do Brasil.

Entre os vários envolvidos estava o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), que só escapou de ser preso numa operação policial na Suíça por estar hospitalizado — teve prisão domiciliar decretada pela Justiça paraguaia e cumprirá a pena tão logo receba alta. Sob o comando de Leoz, entre 1989 e 2013, a Conmebol desenvolveu um rentável vínculo comercial com a Traffic, empresa de marketing esportivo de J. Hawilla, que comprou os direitos sobre a Copa América, em 1986, e se manteve com exclusividade até 2011. De acordo com os inquéritos, o esquema de pagamento de propinas à Conmebol começou em 1991 e o ex-presidente paraguaio teria recebido US$ 40 milhões de suborno. Duas décadas de trapaça e alianças desonestas que transformaram a mais antiga competição entre seleções de futebol do mundo a ser ainda disputada em um ‘El Dorado ilícito.

Longe de Leoz e da Traffic, a Copa América parece ter sobrevivido ao escândalo. Em sua 44° edição, o torneio começa fora do padrão, com mais favoritos do que de costume, graças à ótima campanha dos países sul-americanos na última Copa do Mundo — cinco dos seis representantes do continente avançaram às oitavas de final. Depois de brilhar em terras tupiniquins, a Colômbia vem fortalecida pelo retorno de Falcao Garcia, que não jogou o Mundial por conta de uma contusão. E a parceria com James Rodríguez promete dar trabalho aos adversários. O Chile, de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, eliminou a então campeão Espanha e só caiu nos pênaltis frente aos donos da casa. Agora, com o status de anfitrião, os chilenos querem seu primeiro título continental. E não é exagero dizer que tanto a Colômbia como o Chile têm iguais condições de brigar pela taça com os gigantes Brasil e Argentina. Gigantes?

A Seleção Brasileira precisa recuperar seu prestígio na primeira competição oficial depois do histórico massacre alemão por 7 a 1. Com um Dunga renovado, sereno e confiante, que só conheceu vitórias desde que voltou (a última ontem à noite), o time deposita todas as suas fichas em Neymar: mais maduro e prestigiado depois do  título europeu de clubes. A Argentina não fica atrás no que se refere à pressão. A incômoda tarefa de encerrar 22 anos de jejum sem títulos pesará nas costas de Messi e seus companheiros. O Uruguai, por sua vez, perdeu Luis Suárez, ainda suspenso pela mordida no italiano Chiellini, e chega com menos peso de favorito. Mas se por um lado a Celeste está sem sua principal estrela, por outro ela conta com sua habitual raça para defender o título.

A festa vai começar. Dentro de campo, o espetáculo dos protagonistas nos maiores clubes do mundo. Fora dele, o espetáculo multicolorido das torcidas, com seus cânticos e hinos à capela. Porque no futebol só pode existir um padrão: o de torcer com o coração na garganta.



Troféu do torneio em Bogotá, durante excursão pelo continente.