“Padrão Fifa” é — ou era — um sinônimo de
qualidade. O bordão ganhou força nas manifestações populares de 2013 que reivindicavam
melhorias principalmente na saúde e na educação, diante da qualidade na organização
da Copa do Mundo de 2014 por parte da Fifa. Não demorou muito, a expressão se incorporou
ao dia a dia dos brasileiros: almoço “padrão Fifa”, atendimento “padrão Fifa”
e, por que não, sexo “padrão Fifa”. Mas, recentemente, a entidade que rege o
futebol no mundo perdeu a credibilidade com as investigações feitas pelo FBI
(polícia federal americana). Elas revelaram um “padrão Fifa de corrupção” de
dar inveja a qualquer partido político do Brasil.
Entre os vários envolvidos estava o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confederação
Sul-Americana de Futebol (Conmebol), que só escapou de ser preso numa operação
policial na Suíça por estar hospitalizado — teve prisão domiciliar decretada
pela Justiça paraguaia e cumprirá a pena tão logo receba alta. Sob o comando de Leoz, entre 1989 e 2013, a Conmebol
desenvolveu um rentável vínculo comercial com a Traffic, empresa de marketing esportivo de J. Hawilla, que
comprou os direitos sobre a Copa América, em 1986, e se manteve com exclusividade até 2011. De acordo com os inquéritos, o esquema de pagamento de
propinas à Conmebol começou em 1991 e o ex-presidente paraguaio teria recebido US$ 40
milhões de suborno. Duas décadas de trapaça e alianças desonestas que
transformaram a mais antiga competição entre seleções de futebol do mundo a ser
ainda disputada em um ‘El Dorado’ ilícito.
Longe de Leoz e da Traffic, a Copa América parece
ter sobrevivido ao escândalo. Em sua 44° edição, o torneio começa fora do padrão, com mais
favoritos do que de costume, graças à ótima campanha dos países sul-americanos
na última Copa do Mundo — cinco dos seis representantes do continente avançaram às
oitavas de final. Depois de brilhar em terras tupiniquins, a Colômbia vem
fortalecida pelo retorno de Falcao Garcia, que não jogou o Mundial por conta de
uma contusão. E a parceria com James Rodríguez promete dar trabalho aos adversários. O Chile, de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, eliminou a
então campeão Espanha e só caiu nos pênaltis frente aos donos da casa. Agora, com
o status de anfitrião, os chilenos querem seu primeiro título continental. E não
é exagero dizer que tanto a Colômbia como o Chile têm iguais condições de brigar pela
taça com os gigantes Brasil e Argentina. Gigantes?
A Seleção Brasileira precisa recuperar seu
prestígio na primeira competição oficial depois do histórico massacre alemão
por 7 a 1. Com um Dunga renovado, sereno e confiante, que só conheceu vitórias desde
que voltou (a última ontem à noite), o time deposita todas as suas fichas
em Neymar: mais maduro e prestigiado depois do título europeu de clubes. A
Argentina não fica atrás no que se refere à pressão. A incômoda tarefa de
encerrar 22 anos de jejum sem títulos pesará nas costas de Messi e seus
companheiros. O Uruguai, por sua vez, perdeu Luis Suárez, ainda suspenso pela mordida no italiano Chiellini, e chega com menos peso de favorito. Mas
se por um lado a Celeste está sem sua principal estrela, por outro ela conta
com sua habitual raça para defender o título.