Era
uma vez um jogador de futebol chamado Edmundo. Condenado a quatro anos de
prisão em regime semiaberto pela morte de três pessoas em um acidente de
carro, em 1995, o "Animal" chegou a ser preso na época, mas depois
foi liberado. Seis anos mais tarde, o Supremo Tribunal Federal extinguiu a pena
do ex-jogador em decorrência da prescrição do crime. Hoje, ele é comentarista
da TV aberta. Casos de atletas envolvidos em acidentes de trânsito são comuns e a lista é extensa e cheia de famosos, como Cristiano Ronaldo, Tévez e Benzema.
Alguns escaparam apenas com ferimentos leves. Outros, como Edmundo, escaparam
da justiça. Outros não escaparam da morte. Se álcool e direção não combinam,
álcool, direção e jogador de futebol combinam menos ainda.
A
bola da vez é Arturo Vidal. O chileno ganhou as manchetes do país e do mundo
não só por suas belíssimas atuações com a camisa da "La Roja", que
lhe renderam a artilharia provisória da Copa América, com três gols, como também
pela autuação depois de se acidentar com sua Ferrari nas ruas de Santiago, sob
o efeito de álcool. Uma noite na detenção policial curou a ressaca como que por
milagre, e o jogador veio a público pedir desculpas. Amado por seu povo, o
"Rei Arturo" foi perdoado.
O
reencontro entre a realeza e seus súditos aconteceu na última sexta-feira, no
duelo contra a Bolívia, pela rodada decisiva do Grupo A. Quando o Chile veio
para o aquecimento no gramado, o camisa 8 fez questão de saudar a torcida.
Batendo palmas, trotando — sem o cavalo branco — e ciente de que sua imagem
estava no telão, o jogador se aproximou das arquibancadas e foi efusivamente aplaudido.
Deu um sorriso como se pedisse perdão mais uma vez e voltou para o vestiário,
mostrando que sabe a hora certa de entrar e sair de cena.
Contudo,
em campo, Vidal fez figuração. Tímido, o chileno não se sobressaiu como nas
duas primeiras partidas e foi apenas um espectador na jogada do centésimo gol
da história da seleção chilena: Aránguiz, logo aos 3min. Seu melhor lance foi
aos 30min, quando deu um drible com a bola por trás da perna e foi derrubado,
em falta que Alexis Sánchez cobrou no travessão. E na noite em que Arturo travou, Alexis desencantou, finalmente, marcando seu primeiro gol na seleção desde
novembro de 2014.
A
noite intensa, porém, foi curta para Vidal. Pendurado com um cartão amarelo, ele
acabou sendo substituído no intervalo. Voltou do vestiário aos 11min do 2°
tempo para se juntar aos companheiros no banco de reservas e, novamente no
telão do Estádio Nacional, recebeu aplausos. Ao lado de Alexis, também poupado,
mas por causa de um desconforto muscular na perna, brincou, riu, torceu e
assistiu a mais três gols de "La Roja", que fechou a goleada em 5 a 0
— a maior até agora no torneio.
E
foram felizes até a próxima partida.