terça-feira, 11 de junho de 2019

O Último Samba em Paris





Certa vez, andando pelas ruas de Roma, o cineasta Bernardo Bertolucci viu uma mulher desconhecida e imaginou ter relações sexuais com ela sem nem saber quem era. Nascia a ideia de um dos filmes mais polêmicos do cinema, que chegou a ser proibido no Brasil por causa da censura militar. Em "O Último Tango em Paris", de 1972, Marlon Brando interpreta um viúvo americano que mantém uma tórrida paixão com uma jovem parisiense de 19 anos, vivida por Maria Schneider. O casal decide não saber nada um do outro, nem mesmo o nome. Os encontros inusitados têm seu ápice quando Brando abusa da garota usando um tablete de manteiga na falta de lubrificante. O filme destruiu a vida da atriz, que se sentiu humilhada com a forma como a cena do estupro foi filmada.


O diretor Bernardo Bertolucci conversa com Brando e Schneider durante as
filmagens do filme, que se tornou um símbolo da violência sexual no cinema.




















Semana passada, Paris voltou a ser palco de um escândalo sexual; desta vez, na vida real. O encontro amoroso entre Neymar Júnior e Najila Trindade sacudiu as redes sociais e virou caso de polícia. Chamado de "armadilha" pelo pai, o episódio repercutiu mundo afora e manchou a imagem do jogador. Dias depois, em amistoso pela Seleção, Neymar rompeu o ligamento do tornozelo direito e foi cortado da Copa América. Ontem, sem Neymar, no último amistoso antes da estreia, o Brasil obteve sua maior vitória sob o comando de Tite: 7 a 0, diante de Honduras.

Jogadores comemoram um dos sete gols da goleada. Brasil e Honduras se enfrentaram exatamente quatro anos atrás em um amistoso também no Beira-Rio. A diferença ficou apenas no placar: 1 a 0, gol de Firmino.
















Coincidência ou não, a verdade é que a Seleção Brasileira há muito tempo não precisa mais tanto assim de Neymar. Apesar disso, a CBF continua endeusando o jogador. Neymar tem mais poder que os próprios dirigentes da entidade, que o técnico Tite e todos os mais de 70 convocados por ele juntos. Uma postura bajuladora que transforma Neymar em algo maior que a própria Seleção. Sua saída da Copa América, mais que uma obviedade, foi uma necessidade.

O time possui outros nomes de expressão no cenário futebolístico mundial que precisam de espaço para crescer. Firmino é campeão europeu pelo Liverpool. Gabriel Jesus, da liga mais disputada do Velho Continente. Richarlison e David Neres deixaram de ser promessa e viraram realidade. Sem Neymar, o protagonismo desses atletas pode ganhar novos contornos. É mais ou menos como aconteceu na série da HBO, "Game of Thrones": matava-se o protagonista para que um coadjuvante assumisse o seu lugar. No caso da Seleção, Neymar perdeu, além da coroa, a faixa de capitão.



Enquanto isso, a gente segue com saudade do que ainda não viveu: um título na era Tite.



Neymar sai carregado do estádio em Brasília. 5 deputados protocolaram a criação de um projeto de lei que aumenta a detenção para quem denuncia falsamente ataques sexuais. Se for aprovado, será a 'Lei Neymar da Penha', pior que novela mexicana.