São
Paulo nessa sexta-feira, 14, teve greve geral, mas a cidade não parou. Motoristas
de ônibus, ferroviários e motoboys não aderiram ao protesto contra a reforma da
Previdência, e ônibus e trens da CPTM funcionaram normalmente durante o dia. À
noite, os motoristas, ferroviários e motoboys assistiram à estreia da Seleção
Brasileira na Copa América. Pela televisão.
O
Morumbi estava bonito, é verdade. Envelopado com a identidade visual da competição,
a grande novidade do estádio vinha das arquibancadas: os novos telões. Dois
gigantes de 20,16 metros de largura por 7,68 metros de altura, que pesam 24
toneladas cada. E mesmo com uma resolução de imagem de 2016 x 768 pixels — proporcionando
uma espetacular qualidade de imagem —, nada irritou mais do que o locutor blasé
repetindo em três línguas todos os eventos dentro de campo (out, sale, sai).
Somado aos fogos de artifício e aos canhões de luz, parecia uma noite de rock
no Morumbi: ambiente, preço e público de show.
A
torcida, por sua vez, foi um caso à parte. Chamada de elitista, cantou o hino à
capela e ensaiou uma "ola", mas logo caiu na apatia e se tornou
indiferente. Em alguns momentos, o silêncio tomou conta do estádio.
Manifestações esparsas de clubismo e homofobia deram novamente as caras e, como
em anos anteriores, a Seleção não empolgou o torcedor paulistano. A última
reação da torcida foi de espanto, no final do jogo, quando anunciaram os mais de
22 milhões de reais de renda (em três línguas) — superando em 2 milhões a renda
do São Paulo FC, dono do estádio, nos 15 jogos como mandante na atual
temporada.
A torcida de Instagram se esbaldou com a cerimônia de abertura. Depois teve torcedor que dormiu durante o jogo. |
O Brasil entrou de camisas brancas em homenagem ao centenário da primeira edição da Copa América, jogada e vencida pelo Brasil. A Seleção não atuava de branco em partidas oficiais desde o fatídico dia do 'Maracanazo' (clique aqui para ler "1950 | O Dia em que o Brasil Parou"). Em campo, o time sofreu com a defesa boliviana, ainda que nenhuma chance tenha sido criada contra o gol de Lampe no 1° tempo. Tite mostrou uma cautela excessiva, com Fernandinho e Casemiro contra uma Bolívia inoperante. A equipe jogou bastante pelos lados, com Richarlison e Neres, mas a falta de criatividade não impediu os jogadores de serem vaiados na saída para o intervalo.
A
reação veio logo no início do 2° tempo, com uma ajudinha do VAR — a primeira
intervenção do árbitro de vídeo na história da Copa América. Após o cruzamento
de Richarlison, a bola tocou no braço de Jusino. O árbitro Nestor Pitana deu
aquela corridinha até o monitor na beira do gramado e não teve dúvidas:
pênalti. Coutinho bateu com extrema categoria e abriu a porteira boliviana. Não
demorou muito e Coutinho voltou a marcar. Desta vez, aproveitando o cruzamento de Firmino com um toque sossegado de cabeça na pequena
área. Tite mexeu no ataque, e entraram Gabriel Jesus, Willian e Everton
Cebolinha. O plano do técnico se mostrou infalível: aos 39min, o endiabrado
jogador do Grêmio recebeu pela esquerda, cortou para dentro e soltou um tijolo
contra o gol de Lampe, que nem se mexeu: 3 a 0, goleada.
Com o triunfo sobre a Bolívia, a Seleção Brasileira chegou a sua 100° vitória em Copas Américas. |
Há 40 anos, o Brasil jogou contra a Bolívia, pela Copa América, no estádio do São Paulo FC. Naquele dia, os torcedores viram um 1° tempo sem gols, vaiaram o time na ida para os vestiários, e o primeiro gol saiu no começo do 2° tempo. A única diferença foi que, em 1979, a torcida estava inquieta. Já em 2019, estava quieta.
Zico (foto) fez o segundo gol da vitória brasileira por 2 a 0 contra a Bolívia, no Morumbi, em 1979. Após o gol, o Galinho partiu para cima do zagueiro boliviano e iniciou uma confusão generalizada. |
"Vaca verde e amarela
Matou
de canela
Quem
falar primeiro
Pega terça a Venezuela"