sábado, 15 de junho de 2019

Vaca Verde e Amarela





São Paulo nessa sexta-feira, 14, teve greve geral, mas a cidade não parou. Motoristas de ônibus, ferroviários e motoboys não aderiram ao protesto contra a reforma da Previdência, e ônibus e trens da CPTM funcionaram normalmente durante o dia. À noite, os motoristas, ferroviários e motoboys assistiram à estreia da Seleção Brasileira na Copa América. Pela televisão.

O Morumbi estava bonito, é verdade. Envelopado com a identidade visual da competição, a grande novidade do estádio vinha das arquibancadas: os novos telões. Dois gigantes de 20,16 metros de largura por 7,68 metros de altura, que pesam 24 toneladas cada. E mesmo com uma resolução de imagem de 2016 x 768 pixels — proporcionando uma espetacular qualidade de imagem —, nada irritou mais do que o locutor blasé repetindo em três línguas todos os eventos dentro de campo (out, sale, sai). Somado aos fogos de artifício e aos canhões de luz, parecia uma noite de rock no Morumbi: ambiente, preço e público de show.

A torcida, por sua vez, foi um caso à parte. Chamada de elitista, cantou o hino à capela e ensaiou uma "ola", mas logo caiu na apatia e se tornou indiferente. Em alguns momentos, o silêncio tomou conta do estádio. Manifestações esparsas de clubismo e homofobia deram novamente as caras e, como em anos anteriores, a Seleção não empolgou o torcedor paulistano. A última reação da torcida foi de espanto, no final do jogo, quando anunciaram os mais de 22 milhões de reais de renda (em três línguas) — superando em 2 milhões a renda do São Paulo FC, dono do estádio, nos 15 jogos como mandante na atual temporada.


A torcida de Instagram se esbaldou com a cerimônia de abertura.
Depois teve torcedor que dormiu durante o jogo.
























O Brasil entrou de camisas brancas em homenagem ao centenário da primeira edição da Copa América, jogada e vencida pelo Brasil. A Seleção não atuava de branco em partidas oficiais desde o fatídico dia do 'Maracanazo' (clique aqui para ler "1950 | O Dia em que o Brasil Parou"). Em campo, o time sofreu com a defesa boliviana, ainda que nenhuma chance tenha sido criada contra o gol de Lampe no 1° tempo. Tite mostrou uma cautela excessiva, com Fernandinho e Casemiro contra uma Bolívia inoperante. A equipe jogou bastante pelos lados, com Richarlison e Neres, mas a falta de criatividade não impediu os jogadores de serem vaiados na saída para o intervalo.  

A reação veio logo no início do 2° tempo, com uma ajudinha do VAR — a primeira intervenção do árbitro de vídeo na história da Copa América. Após o cruzamento de Richarlison, a bola tocou no braço de Jusino. O árbitro Nestor Pitana deu aquela corridinha até o monitor na beira do gramado e não teve dúvidas: pênalti. Coutinho bateu com extrema categoria e abriu a porteira boliviana. Não demorou muito e Coutinho voltou a marcar. Desta vez, aproveitando o cruzamento de Firmino com um toque sossegado de cabeça na pequena área. Tite mexeu no ataque, e entraram Gabriel Jesus, Willian e Everton Cebolinha. O plano do técnico se mostrou infalível: aos 39min, o endiabrado jogador do Grêmio recebeu pela esquerda, cortou para dentro e soltou um tijolo contra o gol de Lampe, que nem se mexeu: 3 a 0, goleada.

Com o triunfo sobre a Bolívia, a Seleção Brasileira chegou a sua 100° vitória em Copas Américas.























Há 40 anos, o Brasil jogou contra a Bolívia, pela Copa América, no estádio do São Paulo FC. Naquele dia, os torcedores viram um 1° tempo sem gols, vaiaram o time na ida para os vestiários, e o primeiro gol saiu no começo do 2° tempo. A única diferença foi que, em 1979, a torcida estava inquieta. Já em 2019, estava quieta.

Zico (foto) fez o segundo gol da vitória brasileira por 2 a 0 contra a Bolívia, no Morumbi, em 1979.
Após o gol, o Galinho partiu para cima do zagueiro boliviano e iniciou uma confusão generalizada.
























"Vaca verde e amarela
Matou de canela
Quem falar primeiro
Pega terça a Venezuela"