"Sabemos como
ganhar do México". Niko Kovać tentou dar uma de van Gaal, mas ao contrário
do treinador holandês, que conhece seu time como a palma da sua mão, o croata
ficou apenas no discurso pretensioso. Quieto no seu canto, o técnico mexicano Miguel
Herrera armou-se na defesa, como de costume, pensando em surpreender os croatas.
Mas quem se surpreendeu mesmo foi o próprio Herrera. Depois de um jogo
arrastado até os 25 minutos do segundo tempo, nem ele esperava que o México
resolvesse a partida em dez minutos.
Começou
com o capitão Rafa Márquez, de cabeça. Guardado fez o segundo no contra-ataque,
e Chicharito saiu do banco para fazer o terceiro. A cada gol, o técnico Herrera
rolava no chão abraçado a alguém da comissão técnica. Mas quem ficou mesmo no
chão — de cara nele — foi Niko Kovać. O gol de Perišić, que vazou Ochoa pela primeira vez
na Copa, não serviu de consolo para a torcida croata presente à Arena
Pernambuco, que pegou no pé do treinador. Quem sabe assim Kovać aprende a dobrar a língua para
não precisar mordê-la.
De camisas brancas,
calções azuis e meias pretas, a Seleção Brasileira entrou em campo no acanhado Parque
Central, em Montevidéu, desfalcada de seus melhores jogadores devido a uma
briga entre paulistas e cariocas. Resultado: naquele 14 de julho de 1930, o
Brasil perdeu por 2 a 1 para a Iugoslávia, em sua estreia em Mundiais. 84 anos
depois, o cenário é bem diferente: a Iugoslávia já não existe mais, a camisa é
amarela, a Seleção é uma família e o grande craque do futebol brasileiro,
Neymar, não fica fora sequer um jogo. Ainda mais quando se trata do centésimo da Seleção em
Copas do Mundo.
A capital do país
do futebol amanheceu ensolarada, e o vento constante era o prenúncio do
vendaval de gols que Brasília testemunharia. Em festa, a torcida compareceu em
peso ao Mané Garrincha, vestida de amarelo, de verde, de Hulk e até de Carmem
Miranda. Depois de um empate por 0 a 0 contra o México, os torcedores queriam
gol, e a Seleção sabia que precisava mostrar ao seu público poder de recuperação.
O Brasil começou avassalador,
se infiltrando na área adversária e dando trabalho para a zaga camaronesa. Mas
o ímpeto brasileiro passou e as falhas no meio-campo começaram a aparecer.
Ainda assim, o Brasil saiu na frente. Luiz Gustavo roubou a bola e cruzou para
Neymar emendar de primeira. A sintonia foi perfeita: no centésimo jogo do
Brasil em Copas, o craque brasileiro fez o centésimo gol da Copa de 2014.
Mesmo desfalcado de
Eto'o, Camarões foi um adversário aguerrido no primeiro tempo. Nyom
ganhou a dividida com Dani Alves e cruzou rasteiro para Matip, livre na pequena
área, empatar o marcador. E quando a Seleção estava em seu pior momento na
partida, a genialidade de Neymar apareceu. Ele carregou a bola, cortou para o
meio e bateu com inteligência no contrapé de Itandje. Na hora da dificuldade, o
menino dos cabelos descoloridos resolveu.
No segundo tempo, Felipão
mudou. Tirou Paulinho e promoveu a estreia de Fernandinho. O camisa 5 entrou para, o que se espera, não mais sair. Dos pés dele veio o passe para David Luiz cruzar na cabeça de
Fred. O centroavante bigodudo saiu vibrando como poucos. Afinal, se aquele era
o centésimo terceiro gol da Copa, era apenas o primeiro dele na competição. No
final, a atuação de Fernandinho foi premiada com um gol — de bico.
Com a primeira colocação
do grupo assegurada, a Seleção enfrenta um velho conhecido de oitavas de
final: o Chile, eliminado nesta fase pelo Brasil em 1998 e 2010. Portanto, sábado no Mineirão não
se pode esperar outra coisa se não a septuagésima vitória e, pelo menos, o centésimo quinto e sexto gols do Brasil em Copas.