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Símbolo carioca do
luxo — e da luxúria —, o Copacabana Palace hospedou, em 16 de janeiro de 1989,
todos os então 26 dirigentes das federações estaduais de futebol do Brasil. Com
tudo pago pela CBF, Ricardo Teixeira foi eleito por unanimidade o novo
presidente da entidade. Ao assumir o cargo, negou ter gasto 2 bilhões de
cruzados em sua campanha eleitoral, falou em "dar vez ao Norte e
Nordeste" e prometeu retirar sua candidatura à reeleição.
{ acusado de corrupção e desvio de verba, Ricardo Teixeira ficou no poder
até 2012, quando então renunciou }
Seis meses depois,
Sebastião Lazaroni, o homem de confiança de Ricardo Teixeira, levou o Brasil a
conquistar sua primeira Copa América em 50 anos. Com vitórias marcantes contra
a Argentina (2 a 0) e o Uruguai (1 a 0, no aniversário de 49 anos do
"Maracanazo"), o torneio consagrou a dupla Bebeto e Romário, autora
de 9 dos 11 gols brasileiros na campanha do título. A dupla caiu nas graças do
treinador, que preparou um esquema com três atacantes para as eliminatórias:
Bebeto, Romário e Careca. O chamado "ataque dos sonhos" seria o
grande trunfo de Lazaroni na Copa.
{ Bebeto amargou o banco de reservas do início de 90 até o Mundial,
Romário se lesionou e o ataque foi formado por Careca e Müller }
Em 3 de setembro, o
palco da decisão foi novamente o Maracanã. O Brasil vencia facilmente o Chile
pelas eliminatórias da Copa — 1 a 0, gol de Careca aos 4min do segundo tempo —,
quando, aos 24min, um sinalizador marítimo caiu na área defendida pelo time
chileno. O goleiro Rojas imediatamente desabou com as mãos no rosto, sugerindo
que havia sido atingido pelo artefato. Depois de muito rolar na grama — e no
meio da fumaça —, o jogador, ensanguentado, foi para o vestiário carregado pelos
próprios companheiros, que dispensaram a maca. Meia hora depois, o árbitro argentino
Juan Carlos Loustau declarou o Brasil vencedor por abandono de campo do Chile.
O medo de uma punição por parte da FIFA tomou conta da torcida brasileira.
{ a farsa foi logo descoberta: o sinalizador lançado — sem querer — pela
torcedora Rosenery Mello não atingiu o goleiro, que cortara a si próprio com
uma lâmina de barbear, escondida numa das luvas }
Em 17 de dezembro, o
futebol deu lugar à política com a vitória do alagoano Fernando Collor de Mello
nas primeiras eleições diretas para presidência desde 1960. Classificando o
ex-presidente José Sarney como "corrupto, incompetente e safado",
Collor se autodenominou caçador de marajás e defensor dos descamisados. "Lutarei
contra a inflação, a corrupção e o desvio de recursos da administração
pública", declarou ao Estado de São Paulo em sua primeira entrevista como
presidente.
{ o Plano Collor trouxe a maior recessão da história do Brasil e o
presidente corrupto acabou desmascarado pela CPI do "Esquema PC", que
desviara grandes quantias de dinheiro dos cofres públicos }
"Caras-pintadas" tomam as ruas e pedem o impeachment do presidente. Collor renunciou ao cargo, mas, com o processo já em andamento, teve seus direitos políticos cassados por oito anos, até 2000. |
A Seleção
Brasileira voltou a campo no final de 1989. Com duas boas vitórias nos amistosos
contra a Itália em Bolonha, em outubro, e a Holanda em Roterdã, em dezembro
(ambos por 1 a 0), o time de Lazaroni se credenciou entre os favoritos ao
título mundial. Tricampeão carioca com Flamengo e Vasco em três anos
consecutivos (1986 a 1988), Lazaroni transformou-se na esperança do futebol
brasileiro depois de seguidos insucessos em Copas do Mundo.
{ no último jogo-treino antes da Copa, a Seleção Brasileira foi derrotada
pelo inexpressivo combinado da Úmbria, que revelou a fragilidade do esquema
tático 3-5-2 de Lazaroni }
Cabeça de chave do
Grupo C, o Brasil disputou a primeira fase em Turim. A estreia foi apertada: 2
a 1 contra a Suécia, com dois gols de Careca. Na segunda rodada, a Seleção
enfrentou a estreante Costa Rica, que vestiu camisas listradas idênticas às da
Juventus, dona do estádio — a ideia de ganhar simpatizantes locais nunca foi
confirmada. Foi um massacre brasileiro, com quatro bolas na trave, apesar de ter
feito apenas um gol, de Müller, herói também contra a Escócia. Com 100% de aproveitamento,
o Brasil fez a segunda melhor campanha da fase de grupos.
{ diante de três atuações medíocres da Seleção Brasileira, Romeu Tuma, à
época superintendente da Polícia Federal, disse que a seleção deveria treinar
pontaria com a polícia }
Depois da derrota
na estreia para Camarões, a Argentina se recuperou ao vencer a União Soviética,
em Nápoles, por 2 a 0. Maradona não marcou gols, mas salvou uma bola em cima da
linha quando a partida ainda estava 0 a 0. Na última rodada, o empate de 1 a 1
com a Romênia foi o suficiente para os platinos se classificarem para a segunda
fase.
{ a exemplo do que havia feito em 86, Maradona usou a mão para evitar o
gol soviético e salvar a Argentina, classificada às oitavas pelo bizarro
regulamento que beneficiava os melhores terceiros colocados dos grupos }
O chaveamento
colocou o favoritíssimo Brasil e a Argentina frente a frente nas oitavas de
final. Era um clássico, mas os hermanos estavam caindo pelas tabelas. Com um
problema na clavícula, Maradona não tinha totais condições físicas de jogo. Caçado
em campo até mesmo pelo colega de Napoli, Alemão, o craque argentino passou
mais tempo estirado no gramado do que efetivamente em pé. Numa das faltas, o
lateral brasileiro Branco aproveitou a presença do departamento médico
argentino para se refrescar com a água do adversário — e ficou levemente
atordoado.
{ anos depois, Maradona admitiu sem o menor constrangimento que a água
que Branco bebeu estava "batizada", num dos episódios preparados premeditadamente
para pegar os brasileiros desprevenidos }
Machucado e jogando
no sacrifício, Maradona só precisou de um único lance — genial — para acabar
com a melhor apresentação da Seleção Brasileira na Copa de 90. Aos 35min, El
Pibe dominou a bola no meio-campo, deixou Dunga e Alemão para trás e partiu com
ela até a entrada da grande área. Ricardo Gomes, Ricardo Rocha, Mauro Galvão e
Branco cercaram o camisa 10, que passou para Caniggia, absolutamente livre. O
atacante tirou de Taffarel e rolou a bola mansamente para o gol vazio.
{ faltando dez minutos para o fim da partida, o pique de Maradona mostrou
que sua condição física era tão perfeita quanto a sua inteligência no lance,
quando chamou a atenção dos zagueiros brasileiros para que Caniggia pudesse
receber sem marcação }
A amarga derrota escancarou
os problemas internos do time de Lazaroni: as divergências quanto às
premiações, as brigas no elenco, as festas na concentração e as táticas pouco compreendidas
pelos jogadores — o próprio líbero Mauro Galvão não entendia muito bem a sua
função. Derrotada por si mesma, a Seleção Brasileira ficou com fama de
mercenária. Começava a chamada "Era Dunga", do futebol defensivo,
prosaico e de poucos gols. Taxado de grosso, o volante Dunga foi alvo de
críticas. Dizia-se que um jogador como ele jamais teria condições de ser campeão
do mundo.
{ estavam enganados }