domingo, 15 de junho de 2014

A Cor dos Craques













A região africana de forte comércio de presas de elefantes é conhecida hoje como Costa do Marfim — Côte d'Ivoire, para ser mais exato. Mas desde a vinda dos navegadores franceses outras designações foram usadas: Costa dos Dentes, Costa dos Seis Fios, Costa do Vento e Costa dos Escravos. Contudo, "Costa do Drogba" seria o nome ideal. O atacante marfinense, além de craque, faz uso da fama para apaziguar a guerra civil e unir os povos em seu país. Por isso, é idolatrado.


Quando Drogba começou no banco, o torcedor marfinense sentiu que havia algo de errado. E havia mesmo: o Japão abriu o placar num arremesso lateral. Honda dominou bem com um pé, se livrou de Yaya Touré e com o outro soltou a pancada. O gol japonês foi aos 16 do 1° tempo. Aos 16 do 2°, Drogba entrou. E incendiou o jogo.



















Logo depois de sua entrada, Aurier cruzou e Bony, que até então havia errado todas as finalizações, mergulhou de cabeça para empatar. O time marfinense se inflou de confiança e foi para cima. O segundo gol parecia replay do primeiro. Cruzamento de Aurier para, desta vez, Gervinho testar para as redes.  A Costa do Marfim virou o placar com dois gols em dois minutos. E nem foi preciso que Drogba participasse deles. 












Mario Balotelli é apenas o segundo jogador negro da história da Squadra Azzurra. É de se admirar que tenha virado ídolo em um futebol marcado pelo racismo extremo. A resposta é simples: gols. Assim como César dava pão e entretenimento para distrair o povo, Balotelli faz gols para calar os críticos. Seu temperamento difícil é facilmente observado quando comemora gols — na verdade, quando não comemora. Porém, fazer um gol numa Copa do Mundo arranca sorrisos até do mais sisudo dos cidadãos.

O primeiro clássico entre campeões mundiais foi disputado sob o forte calor de 31°C na capital amazonense. Com a vitória costarriquenha sobre o Uruguai, quem perdesse ali estaria fadado ao fracasso. A Itália saiu na frente com uma jogada genial de Pirlo, que fez o corta-luz para o chute certeiro de Marchisio, companheiro de Juventus. A Inglaterra empatou logo em seguida com a sua tradicional jogada pelos lados. Rooney cruzou e Sturridge completou na pequena área. Ainda no primeiro tempo, Balotelli tentou encobrir Hart, mas Jagielka tirou sobre a linha.



















A temperatura baixou no segundo tempo, e o jogo cresceu em emoção. Usando as armas inglesas, a Itália chegou ao segundo gol na bola aérea. Candreva cruzou da direta e Balotelli subiu para cumprimentar o ex-colega de Manchester City, o goleiro Hart. Na comemoração, um singelo sorriso escapou do rosto do artilheiro.

Do outro lado, Rooney bem que tentou, mas não foi dessa vez que saiu o seu primeiro gol em Copas do Mundo. Um escanteio cobrado por ele, aos 30 do 2° tempo, mostrou que não era mesmo o seu dia — a bola sequer entrou em campo. A derrota complicou a vida do English Team, que precisa vencer o Uruguai para não ser eliminado ainda na fase de grupos. No aniversário da Rainha Elizabeth II, os ingleses deram um presente de grego à Sua Majestade. 




Cafeteros & Castelazo













O Mineirão, acostumado a vestir azul ou alvinegro, foi pintado de amarelo. Se dissessem que a partida era em Bogotá, ninguém acharia estranho. Os colombianos tomaram de assalto a capital mineira e fizeram o mesmo que os brasileiros em São Paulo e os chilenos em Cuiabá: cantaram o hino à capela. Sentado nas tribunas, Falcao García era um mero espectador. Mas sua força estava com os jogadores. Afinal, depois de 16 anos, a Colômbia estava de volta à Copa.



















Aos 5 minutos de jogo, a seleção correspondeu em campo à euforia das arquibancadas. Armero completou o cruzamento de Cuadrado e fez o primeiro. Na comemoração, o lateral colombiano dançou uma versão atualizada do "Armeration", sucesso do jogador nos tempos em que atuava no Palmeiras. Téo Gutiérrez, substituto de Falcao, marcou o segundo, e James Rodríguez — o melhor em campo ao lado de Cuadrado — fechou a conta no minuto final. A festa estava completa em Belo Horizonte. Ou seria Bogotá?











Faixas, camisetas e até um "fantasma". As alusões ao Maracanazo eram tão inevitáveis quanto a autoconfiança. Para muitos torcedores no Castelão, sim, era possível repetir a estreia de 64 anos atrás, quando o Uruguai goleou a Bolívia por impiedosos 8 a 0. E mais do que isso: cumprir uma campanha igualmente vencedora e, uma vez mais, calar um estádio cheio de brasileiros. Entretanto, o primeiro passo foi em falso.

Luis Suárez, um herói da estirpe de Gigghia, estava no banco, ainda se recuperando de uma cirurgia no joelho. O Uruguai pareceu não sentir sua falta. Aos 21 minutos, Lugano foi puxado dentro da área e Cavani cobrou com precisão. "Faltavam sete", pensaram alguns fanáticos nas cadeiras brancas do Castelão. Vieram três — nenhum para o lado celeste.



















A Costa Rica voltou diferente do intervalo. As bolas aéreas passaram a assustar o time azul celeste e um garoto de 21 anos se transformou no tormento da zaga. Joel Campbell mostrou-se atrevido, incisivo e mortal — características muito apreciadas pelos uruguaios. Em três minutos, os "Ticos" viraram a partida. Primeiro com Campbell, que pegou a sobra na área e fuzilou. Depois com Duarte, cabeceando após o cruzamento. Aos 12 do 2° tempo, o Uruguai já estava entregue.

Recuado, Campbell continuou atazanando a vida dos comandados de Oscar Tabarez. Aos 38, o garoto enfiou uma bola perfeita entre Godín e Lugano para o gol de Ureña —ele havia acabado de entrar. Os favoritos, derrotados, tiveram de ouvir de costarriquenhos e brasileiros os humilhantes gritos de "olé". A expulsão de Maxi, no finzinho, só confirmou a tarde infeliz da Celeste.


No chamado "grupo da morte", o Uruguai perdeu uma vida. Restam duas. E olhe lá.