Professor Felipão,
Acabo de ver Brasil x Holanda. Mais uma vez vi
diante da câmera um time desorganizado e confuso chocando a nação. Fiquei muito
triste ao constatar que o futebol, muitas vezes, é de uma crueldade sem limites.
Tive esse sentimento ao ver a pane tática, técnica e emocional da última
terça-feira quase se repetir. E o senhor sofrendo um gol com dois minutos de
jogo, antes mesmo de a Seleção ter tido a posse de bola, insiste em dizer que
foram seis minutos de apagão. Mais do que qualquer um ali, com sua soberba
peculiar, o senhor sabe que não foram só seis minutos. Foram 180.
Parabéns. Mais uma vez provou que é um grande homem
— poupou o Fred da maior vaia de sua vida. Um treinador ímpar, que escalou Jô
no comando (?) de ataque e povoou o meio-campo com volantes sem atitude, que
deixaram Nederland escapar pela ponta e sofrer pênalti de Thiago Silva. Tudo
bem, a falta foi fora da área, mas ainda assim foi uma falha de posicionamento.
O senhor ressuscitou van Persie, que bateu o pênalti e marcou um gol depois de
quase um mês — o último tinha sido contra a Austrália, ainda na primeira fase.
Eu, como os demais brasileiros, gostaria de estar
comemorando outro resultado. Porém, sei que ninguém perde por vontade própria. Meu
e-mail é para agradecer os momentos de grande alegria que o senhor e sua equipe
proporcionaram à nação holandesa. Foram três. Eles não balançavam a rede do
adversário há 240 minutos na Copa do Mundo. Parabéns novamente.
Imagino que o senhor deva ter ensinado o David
Luiz que não se rebate a bola cruzada para o meio da área, mas acho que ele se
esqueceu. A bola caiu bem no pé do Blind. Coitado. Da gente. Mas o que eu gostei mesmo foi dos reservas dando
instruções para os titulares à beira do gramado. Depois que Neymar e outros jogadores
fizeram o papel de técnico, o time sofreu somente mais um gol, e ainda foi nos
acréscimos do segundo tempo — não vou lembrar o nome do jogador, mas era algo
parecido com Reginaldo.
Parabéns pelo seu fracasso e boa sorte nas próximas
Copas. Tenho certeza que o senhor comandará com sua inquestionável competência
o Uzbequistão na Rússia, em 2018. Dizem que as mulheres não entendem de
futebol, o que é uma bobagem, já que não foi uma mulher que escalou o Maxwell
na lateral-esquerda, para não lembrar de outros. Porém, entendemos de seres
humanos, e louvamos a sua decisão de preservar o Fred. E envio um abraço
carregado de carinho para o van Gaal e toda a sua equipe, que utilizaram os 23
jogadores do elenco, com sabedoria, pela primeira vez em uma Copa do Mundo.
Fique com Deus, mas lembre-se que não é ele quem
escala o time. O choro dura uma noite, e o arrependimento vem ao amanhecer.
Quero dizer com essa citação que vão passar várias bolas pelo gol brasileiro
enquanto o senhor estiver no comando. Quem sabe até quebrar o recorde de 14
gols sofridos em um único Mundial, estabelecido pelo senhor. Saiba que, como
eu, há várias pessoas que estão apoiando a sua saída da nossa Seleção.
Eu era muito mais feliz quando Bernard, Dante e Willian
eram do vôlei, Oscar do basquete, Luiz Gustavo era ator, Jô humorista, Hulk super-herói e Fred amigo
do Barney. Receba o adeus de uma brasileira anônima, que não conhece muito de
futebol, mas que entende mais que o senhor.
Att.
Torcedora Lúcida