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Sob o comando de Vicente Feola e com um inovador sistema 4-2-4, a Seleção Brasileira não deixou pedra sobre pedra durante a fase de preparação para a Copa de 58.
Sob o comando de Vicente Feola e com um inovador sistema 4-2-4, a Seleção Brasileira não deixou pedra sobre pedra durante a fase de preparação para a Copa de 58.
Em três meses de treinamento intensivo, o Brasil
goleou em três dos cinco jogos preparatórios no território nacional. No Maracanã, fez 5 a 1 no Paraguai;
no Pacaembu, goleou a Bulgária, por 4 a 0, e o Corinthians, por 5 a 0. Uma
semana antes de estrear no Mundial, a equipe excursionou pela Itália e não
perdeu o pique. Arrasou a Fiorentina, em Florença, e a Internazionale, em Milão;
ambas, por 4 a 0.
Porém, durante o amistoso em Milão o técnico perdeu
Pepe, titular absoluto, com o tornozelo machucado. O tratamento à base de gelo
e água quente, diferente do que se vê hoje em dia, não foi capaz de salvar a
participação do ponteiro santista no Mundial. Ainda assim, Pepe embarcou junto
com a delegação para a Suécia.
Zagallo ganhou a vaga de Pepe na estreia, contra a
Áustria, em Uddevalla, e manteve-se titular até o final da competição. Foi
justamente pelos pés do velho lobo — na época, ainda jovem — que o Brasil
começou a trilhar o caminho do título. Aos 37min de jogo, Mazzola aproveitou o cruzamento
de Zagallo e fez o primeiro gol brasileiro em campos suecos.
O segundo veio logo aos 3min da etapa complementar. O
lateral-esquerdo Nilton Santos arrancou com a bola dominada até o ataque — sob
os protestos do técnico Feola — e, tabelando com Mazzola, deu um toque
caprichoso por cima do goleiro Szanwald. A dez minutos do fim, Mazzola, o nome
do jogo, acertou um belo chute com o peito do pé e tirou a bola completamente do
alcance do goleiro austríaco: 3 a 0, placar final.
Mazzola marca o terceiro: estreia triunfante da Seleção Brasileira. |
Três dias depois, em Gotemburgo, as declarações dos
jogadores ingleses espelhavam bem a expectativa que cercava a partida entre
Brasil e Inglaterra, pela segunda rodada. O duelo foi bem disputado, mas o “melhor
jogo da história das Copas”, no entanto, acabou sendo apenas o primeiro 0 a 0
da história das Copas.
Após o apito final, brasileiros e ingleses ficaram esperando no gramado o árbitro dar início ao tempo extra, o que, obviamente, não foi necessário. Os jogadores desconheciam o novo regulamento da fase de grupos, que não falava em prorrogação no caso de igualdade, salvo um eventual
jogo de desempate.
Zagallo cumprimenta o goleiro inglês McDonald, depois de saber que o jogo tinha terminado mesmo. |
O Grupo 1 tinha Alemanha Ocidental (atual campeã),
Argentina (vice em 30) e Tchecoslováquia (vice em 34), mas quem deu o que falar
foi a inexpressiva Irlanda do Norte. Depois de eliminar a bicampeã Itália nas
eliminatórias, os norte-irlandeses arrancaram um empate com os alemães e
venceram duas vezes os tchecos — a segunda na partida de desempate. Mesmo
perdendo para os argentinos, o time bretão se classificou em segundo lugar para
as quartas de final. A Alemanha Ocidental ficou com a primeira vaga.
O grupo também marcou o fracasso da Argentina. Em seu
retorno às Copas, os platinos foram humilhantemente goleados pela Tchecoslováquia,
por 6 a 1, e voltaram mais cedo para casa. Na chegada à Buenos Aires, o elenco
foi recebido com uma chuva de pedras e moedas.
A adversária da Irlanda do Norte nas quartas de final
seria a França, destaque no Grupo 2. Sob o ritmo do brilhante Raymond Kopa —
recém-coroado campeão europeu pelo Real Madrid e eleito o “Jogador Europeu do
Ano” —, os azuis atropelaram o Paraguai, na estreia, por impiedosos 7 a 3. Com
três gols na partida, Just Fontaine começava a sua caminhada rumo à artilharia
do torneio.
O saldo para lá de positivo não fez diferença na
derrota por 3 a 2 para a Iugoslávia, na segunda rodada — dois gols de Fontaine,
que já chegava a cinco no total. Na última partida do grupo, a França venceu a
Escócia, por 2 a 1 — um de Fontaine, passando a seis gols no torneio —, e terminou em primeiro
lugar.
Fontaine fuzila o goleiro paraguaio no primeiro dos 13 gols que faria na Copa — um recorde jamais alcançado. |
Antes da Copa, a federação sueca de futebol permitiu
que os futebolistas profissionais jogassem pela seleção de novo, o que possibilitou
o retorno de jogadores que atuavam na Itália, como Gunnar Gren e Nils Liedholm,
protagonistas do título olímpico de 1948, e do jovem promissor Kurt Hamrin.
Fortalecida pelos profissionais, a anfitriã Suécia nem precisou brilhar no
Grupo 3 para obter a primeira vaga. O México foi presa fácil e a Hungria já não
era mais a mesma da Copa passada, principalmente depois que a Revolução Húngara
de 1956 fez grande parte dos jogadores debandarem — Puskás, por exemplo, estava
na Espanha.
Os suecos venceram México e Hungria, por 3 a 0 e 2 a
1, respectivamente, e ficaram no 0 a 0 — o segundo na história da competição —
com o País de Gales. A equipe galesa empatou os seus três jogos na fase de
grupos e conseguiu a classificação somente na partida de desempate contra a
Hungria — vitória por 2 a 1. Ao lado da Irlanda do Norte, o País de Gales era a
outra surpresa nas quartas de final.
Liedholm faz o 1° gol sueco contra os pobres mexicanos: ele faria também o 1° gol na decisão contra o Brasil. |
Faltava a definição do Grupo 4. A Seleção Brasileira
precisava ganhar da fortíssima União Soviética, campeã olímpica de 56, na
última rodada, para ficar com a primeira posição. O Brasil vinha de um 0 a 0 incômodo
contra a Inglaterra, o que levou o chefe da delegação, doutor Paulo Machado de
Carvalho, a consultar a opinião dos jogadores mais experientes, como Nilton
Santos, Bellini e Didi, a respeito de mudanças na equipe.
Às vésperas da partida, o técnico Vicente Feola resolveu
fazer três alterações. Tirou Dino Sani, Joel e Mazzola e colocou,
respectivamente, Zito, Garrincha e Pelé — este último com apenas 17 anos.
Por uma ironia do destino, os dois gênios estrearam juntos na Copa do Mundo. |