quarta-feira, 17 de julho de 2019

quarta-feira, 3 de julho de 2019

O Retorno do Messias




O povo de Israel esperava ansiosamente pelo Messias. Os judeus acreditavam que ele seria uma figura política e religiosa, que iria restaurar a independência e a glória do país. Nesse meio tempo, houve quem alegasse ser o salvador ungido por Deus, o que gerou discórdia com os opressores romanos. Mas nenhum desses falsos Messias conseguiu fazer alguma coisa. Até que apareceu Jesus.


Ontem, no duelo do Mineirão, os candidatos a Messias eram alguns. A começar por Lionel Messi, que precisava provar não ao mundo, mas ao povo argentino, que é capaz de trazer o futebol platino de volta à luz. Descontraído, ele abraçou Daniel Alves na saída do túnel para o gramado, sem saber que o antigo parceiro de Barça seria outro forte candidato. Agüero, Coutinho, Everton e Lautaro também concorreram, mas ninguém conseguiu fazer alguma coisa. Até que apareceu Jesus.




O gol brasileiro aos 19min de partida foi uma pintura. Nos fez rapidamente esquecer que, há 5 anos, no minuto 19 de outra semifinal no Mineirão, o Brasil já perdia por 1 a 0 e estava na eminência de levar mais quatro gols ainda no 1° tempo. Teve rolinho de Coutinho, chapéu de Daniel e cruzamento de Firmino. Até que apareceu Jesus e empurrou a bola para dentro. 725 minutos depois de marcar seu último gol pela Seleção — em outubro de 2017, contra o Chile pelas Eliminatórias da Copa da Rússia —, Gabriel voltou a balançar as redes. O menino Jesus ainda deu uma linda arrancada no 2° tempo, levou uma trombada atrás da outra e, sem cair, serviu Firmino, que fez o segundo. A vitória por 2 a 0, enfim, convenceu.

A camisa 9 da Seleção é tão pesada quanto a 10. Já estamos há duas Copas do Mundo sem um centroavante de peso — Ronaldo Fenômeno literalmente foi o último. As pazes de Gabriel Jesus com o gol elevam a esperança de o Brasil voltar a ganhar títulos — o último foi há 6 anos, contra a Espanha pela final da Copa das Confederações, também a última vez que a Seleção jogou no Maracanã.

E Messi? Teve sua melhor atuação na Copa América, mas não foi o suficiente. Deu uma canseira no rival de Espanha, Casemiro, finalizou mais que qualquer um na albiceleste e chutou uma bola na trave de Alison — teve outra, numa cabeçada de Agüero. Mas vai embora com apenas um gol marcado, na seca de não conquistar títulos pela seleção principal da Argentina.

Se de um lado retorna o Messias, do outro temos o retorno de Messi... para casa.



segunda-feira, 1 de julho de 2019

Rivais Pacíficos




A França é a atual campeã do mundo. Portugal, da Europa. E o Chile levantou o caneco nas duas últimas Copas Américas. Mas o que conta para uma seleção de futebol ser considerada grande é a história; e isso o Brasil tem de sobra. E como todo gigante que se preza, tem sempre aquele dia de Davi. Em 1950, nasceu o Maracanazo. Em 2014, aconteceu o 7 a 1. Com essas duas desgraças da bola, a Seleção Brasileira conseguiu acabar com todas as estatísticas favoráveis dentro de casa. Entretanto, ainda restou uma: jamais perdeu para a Argentina no Mineirão — na última apresentação, em 2016, válida pelas Eliminatórias da Copa da Rússia, goleada brasileira por 3 a 0.



Calma, o Brasil ainda é favorito por jogar em casa contra uma Argentina capenga. Mas a Seleção, salvo os 5 a 0 sobre os peruanos, não fez muito mais que os hermanos no torneio. As duas equipes chegam para o embate em pé de igualdade: um nível abaixo do que se esperava. Talvez seja o pior Brasil x Argentina da história em nível técnico, mas, com certeza, será um dos melhores em emoção, ainda mais que a decisão por pênaltis tem sido uma tendência nesta edição. O fato é que a Argentina, desorganizada, sem defesa e com Messi em má fase, foi a única seleção capaz de marcar gols em 360 minutos de quartas de final — Brasil, Chile e Peru obtiveram suas classificações nos pênaltis após 90 sofríveis minutos sem gols.

Mas se você acha que a rivalidade entre Brasil e Argentina é a maior das semifinais da Copa América, você precisa conhecer melhor a relação entre peruanos e chilenos. O duelo entre os dois nunca se limitou ao futebol, graças a uma área rica em recursos minerais, como salitre e cobre, que despertou a chamada 'Guerra do Pacífico', travada entre 1879 e 1883. O Chile se saiu vencedor, anexou ao seu território a província de Taracapá, do Peru, e Antofagasta, da Bolívia, deixando os bolivianos sem saída para o mar. Até hoje os países disputam a soberania sobre esses territórios na justiça — uma disputa tal qual o oceano, pacífica.

Na primeira Copa América conquistada pelo Chile, em julho de 2015, as seleções se enfrentaram também nas semifinais. Melhor para os chilenos, donos da casa, que venceram o grande rival por 2 a 1 e foram à decisão. No último encontro entre os dois, em outubro de 2015, o Chile voltou a vencer o Peru, por 4 a 3, em jogo das Eliminatórias realizado em Lima. O então campeão da América deixou um recado na parede do vestiário do Estádio Nacional de Lima. "Respeito! Por aqui passou o campeão da América", em resposta às provocações peruanas antes e durante a partida.

Não tem jeito. O orgulho ferido dos peruanos sempre entra em campo quando do outro lado estão os chilenos.