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Coragem, força
e honra. Três virtudes enaltecidas durante o Império Romano. Lutas entre gladiadores, animais ferozes e corridas de bigas eram bons exemplos de tais atributos. Muito
populares, os espetáculos sanguinários serviam de diversão para o povo. Já para
os Césares, eram uma maneira de manter os cidadãos afastados das questões políticas.
Em 1978, a
Argentina vivia o auge de sua ditadura militar. Liderado pelo general Jorge
Videla, o governo viu na Copa do Mundo uma oportunidade de apaziguar os ânimos da
população, que vivia em polvorosa. Mas para que a estratégia desse certo, o sucesso
da seleção argentina era imprescindível. Os gladiadores da bola, no entanto,
não precisaram derramar sangue. Apenas suor. Muito suor.
A Argentina,
enfim, recebia o torneio com o qual sonhara e lhe fora negado por 40 anos, fazendo
com que o país desistisse de três Mundiais, em represália — de 1938 a 1954.
Porém, o desejo de sediar a Copa de 78 não evitou as falhas na organização. Os
estádios ficaram prontos de última hora, o que fez tufos de grama recém-plantada
se soltarem a cada jogada. As longas distâncias entre as sedes também
incomodaram a maioria das seleções. Enquanto isso, o time da casa jogou
praticamente só em Buenos Aires.
As polêmicas
na seleção argentina começaram antes mesmo da Copa. Um jogador do Argentino
Juniors despontava como a grande revelação do futebol platino. Com sua mágica
perna esquerda, seus lançamentos precisos, dribles curtos e chutes certeiros de
onde fosse, o meia-atacante chegou a ser convocado para a seleção, mas foi
preterido pelo técnico César Menotti antes da Copa por ser muito jovem. Aos 17
anos, Maradona teria que esperar para mostrar ao mundo todo o seu talento.
Com o escudo
da A.F.A. (Associação Argentina de Futebol) bordado na camisa, pela primeira
vez em Mundiais, a Argentina estreou no Grupo 1 contra a Hungria. E sofreu. A
vitória, de virada, só se confirmou a 8min do fim, numa trombada entre Luque e
o goleiro Gujdár, que Bertoni empurrou para o gol vazio. Na partida seguinte,
contra a França, mais um lance discutível: um pênalti marcado para a anfitriã
após um toque de mão involuntário, que Passarella cobrou e converteu. Platini
empatou no segundo tempo — seu primeiro gol em Copas — e Luque fez o segundo dos
hermanos, que repetiram o placar da estreia: 2 a 1.
No último minuto do primeiro tempo, Luque chuta e a bola desvia no braço de Trésor. As polêmicas partidas da Argentina na primeira fase eram um prenúncio do que ainda estava por vir. |
Na rodada
final da chave, a Itália roubou a cena e garantiu a primeira posição ao vencer
a Argentina, por 1 a 0, com um gol de Bettega. Entretanto, quem chamou a atenção
foi a França, em Mar Del Plata, na partida contra a Hungria. Em protesto contra
as más arbitragens, os franceses entraram em campo de branco, mesmo sabendo que
os húngaros jogariam de branco também. Sem uniforme reserva, os franceses
tiveram que pegar emprestado as camisas listradas em verde e branco de um clube
amador da cidade, o Kimberley.
No Grupo 2, a
Tunísia entrou para a história como o primeiro país africano a conquistar uma
vitória em Copas. E foi logo na primeira partida: 3 a 1 diante do México —
que até então nunca havia vencido uma estreia. As Águias de Cartago
ainda arrancaram um 0 a 0 com a Alemanha Ocidental, o que foi decisivo para os
germânicos terminarem atrás da líder Polônia no grupo. Apesar dos esforços, a
Tunísia foi eliminada, mas deixou o seu legado: a partir daquela Copa, uma seleção
africana sempre surpreenderia.
Sem Cruyff, a
Laranja Mecânica perdeu o seu fascínio e, no Grupo 4, amargou uma apagada segunda
colocação. Dirigido pelo austríaco Ernst Happel — a Holanda foi a única seleção
comandada por um técnico estrangeiro —, o time venceu o Irã (3 a 0), empatou
com o Peru (0 a 0) e, na última rodada, perdeu para a Escócia (3 a 2). Primeira
colocada do grupo, a seleção peruana, campeã sul-americana de 75, foi o grande
destaque da primeira fase, com o ataque mais positivo (7 gols) e uma das
defesas menos vazadas.
Rensenbrink se prepara para cobrar o pênalti do 1000° gol em Copas. Foi o primeiro dos cinco gols da derrota da Holanda para a Escócia, por 3 a 2. |
Sensacional o dicionário!
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