O
nosso Capitão América é, na verdade, baiano. Tem 36 anos, bem menos idade que o
personagem das HQs, criado por Joe Simon e Jack Kirby. E ainda que o herói da
Marvel tenha derrotado seus inimigos e salvado o planeta inúmeras vezes,
ninguém no mundo conquistou mais troféus que Daniel Alves — com o de domingo
são 40, três a mais que ninguém menos que Pelé. Na média, o baiano de Juazeiro é
campeão mais de duas vezes por ano.
Em
2007 ele estava lá: só que no banco de reservas. Na decisão da Copa América
contra a Argentina, em Maracaibo, Daniel entrou ainda no 1° tempo no lugar de
Elano e foi decisivo. Foi dele o cruzamento em que o zagueiro Ayala desviou
para as próprias redes; foi dele o terceiro gol da goleada de 3 a 0, depois de
receber um belo passe de Vágner Love. Naquela tarde de domingo, Daniel
conquistava seu primeiro título com a camisa amarela, enquanto a Seleção
Brasileira vencia a terceira final consecutiva contra os argentinos e sua
última Copa América, até então.
12
anos se passaram, e o Brasil estava de volta à decisão. Entretanto, o adversário
não era nenhum dos bichos-papões do continente: muito pelo contrário, já havia
sido goleado pela própria seleção canarinho na fase de grupos. Só que o começo
do jogo fez o torcedor esquecer aquela goleada na Arena Corinthians. Num
Maracanã lotado, ávido por um título, quem tomou a iniciativa foi o Peru. O
time de Gareca não se acovardou, adiantou a marcação e deixou a Seleção sem
saída. Mas o fraco lado esquerdo peruano logo sucumbiu ao talentoso lado
direito brasileiro: o primeiro gol saiu de um lançamento de Daniel Alves, um drible
desconcertante de Gabriel Jesus em Trauco e a chegada oportunista de Everton
por trás de Advíncula.
O
Peru conseguiu o empate ainda no 1° tempo graças ao VAR, que enxergou um
pênalti no braço de apoio de Thiago Silva. A fraca arbitragem do chileno
Roberto Tobar foi na onda do árbitro de vídeo, o que fez cair por terra as
suspeitas de Messi sobre uma armação para o Brasil ganhar a Copa América.
Melhor para Guerrero, que converteu seu terceiro gol na competição, empatou na
artilharia com Cebolinha e, pela terceira vez, se consagrou como maior
marcador de uma edição de Copa América — antes dele, só o uruguaio Pedro Petrone,
na década de 20.
A
Seleção Brasileira não se abateu em nenhum momento. Pelo contrário: foi mais
time do que nunca. A defesa manteve-se sólida, o meio-campo produtivo e o
ataque decisivo. Dos pés de Firmino saiu o carrinho para roubar a bola de
Yotún, que Arthur conduziu até dar o passe para Gabriel Jesus. O camisa 9
contou com o escorregão de Zambrano para ajeitar, olhar e tocar no cantinho de
Gallese. Depois de ser execrado na Copa do Mundo, Gabriel Jesus voltava a sorrir
como destaque ofensivo, com gols e assistências.
O
Brasil do 2° tempo pareceu mais ajustado. Coutinho teve duas boas oportunidades,
mas no primeiro lance foi bloqueado e no segundo adiantou demais a bola. Aí
veio a injusta expulsão de Gabriel Jesus, e o atacante trocou o sorriso pela
violência e as lágrimas. Com um a mais, o Peru se fortaleceu. Militão entrou — estreou
— e o time não passou sufoco. Com espaço, criou chances. No último grande lance
da partida, Everton trombou com Zambrano e um novo pênalti foi mal marcado. A
cobrança de Richarlison sacramentou a vitória brasileira e a ressurreição do
jogador que há 10 dias estava isolado num quarto, com caxumba.
Foi
a vitória do time solidário, onde todos tiveram espaço para brilhar: Everton
foi eleito o melhor em campo, Alison, o melhor goleiro do torneio e Daniel
Alves, o melhor jogador da Copa América — ele diz ter fôlego para chegar ao
Qatar.
E
ninguém sentiu a falta de Neymar.