quarta-feira, 10 de julho de 2019

Capitão América




O nosso Capitão América é, na verdade, baiano. Tem 36 anos, bem menos idade que o personagem das HQs, criado por Joe Simon e Jack Kirby. E ainda que o herói da Marvel tenha derrotado seus inimigos e salvado o planeta inúmeras vezes, ninguém no mundo conquistou mais troféus que Daniel Alves — com o de domingo são 40, três a mais que ninguém menos que Pelé. Na média, o baiano de Juazeiro é campeão mais de duas vezes por ano.

Em 2007 ele estava lá: só que no banco de reservas. Na decisão da Copa América contra a Argentina, em Maracaibo, Daniel entrou ainda no 1° tempo no lugar de Elano e foi decisivo. Foi dele o cruzamento em que o zagueiro Ayala desviou para as próprias redes; foi dele o terceiro gol da goleada de 3 a 0, depois de receber um belo passe de Vágner Love. Naquela tarde de domingo, Daniel conquistava seu primeiro título com a camisa amarela, enquanto a Seleção Brasileira vencia a terceira final consecutiva contra os argentinos e sua última Copa América, até então.





















12 anos se passaram, e o Brasil estava de volta à decisão. Entretanto, o adversário não era nenhum dos bichos-papões do continente: muito pelo contrário, já havia sido goleado pela própria seleção canarinho na fase de grupos. Só que o começo do jogo fez o torcedor esquecer aquela goleada na Arena Corinthians. Num Maracanã lotado, ávido por um título, quem tomou a iniciativa foi o Peru. O time de Gareca não se acovardou, adiantou a marcação e deixou a Seleção sem saída. Mas o fraco lado esquerdo peruano logo sucumbiu ao talentoso lado direito brasileiro: o primeiro gol saiu de um lançamento de Daniel Alves, um drible desconcertante de Gabriel Jesus em Trauco e a chegada oportunista de Everton por trás de Advíncula.

O Peru conseguiu o empate ainda no 1° tempo graças ao VAR, que enxergou um pênalti no braço de apoio de Thiago Silva. A fraca arbitragem do chileno Roberto Tobar foi na onda do árbitro de vídeo, o que fez cair por terra as suspeitas de Messi sobre uma armação para o Brasil ganhar a Copa América. Melhor para Guerrero, que converteu seu terceiro gol na competição, empatou na artilharia com Cebolinha e,     pela terceira vez, se consagrou como maior marcador de uma edição de Copa América — antes dele, só o uruguaio Pedro Petrone, na década de 20.




A Seleção Brasileira não se abateu em nenhum momento. Pelo contrário: foi mais time do que nunca. A defesa manteve-se sólida, o meio-campo produtivo e o ataque decisivo. Dos pés de Firmino saiu o carrinho para roubar a bola de Yotún, que Arthur conduziu até dar o passe para Gabriel Jesus. O camisa 9 contou com o escorregão de Zambrano para ajeitar, olhar e tocar no cantinho de Gallese. Depois de ser execrado na Copa do Mundo, Gabriel Jesus voltava a sorrir como destaque ofensivo, com gols e assistências.

O Brasil do 2° tempo pareceu mais ajustado. Coutinho teve duas boas oportunidades, mas no primeiro lance foi bloqueado e no segundo adiantou demais a bola. Aí veio a injusta expulsão de Gabriel Jesus, e o atacante trocou o sorriso pela violência e as lágrimas. Com um a mais, o Peru se fortaleceu. Militão entrou — estreou — e o time não passou sufoco. Com espaço, criou chances. No último grande lance da partida, Everton trombou com Zambrano e um novo pênalti foi mal marcado. A cobrança de Richarlison sacramentou a vitória brasileira e a ressurreição do jogador que há 10 dias estava isolado num quarto, com caxumba.

Foi a vitória do time solidário, onde todos tiveram espaço para brilhar: Everton foi eleito o melhor em campo, Alison, o melhor goleiro do torneio e Daniel Alves, o melhor jogador da Copa América — ele diz ter fôlego para chegar ao Qatar.

E ninguém sentiu a falta de Neymar.