Zmajevi Dolaze:
Os dragões estão chegando
Pode o futebol unir
um país que ainda lambe as feridas de um conflito que dividiu vizinhos e ceifou
a vida de mais de 200 mil pessoas? Parte dessa resposta começou a ser dada em
uma fria noite de outubro em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina.
Jovens muçulmanos e
cristãos, os filhos caçulas de uma guerra fratricida que marcou a metade dos anos
90, olhavam mesmerizados para o telão colocado no centro histórico da capital.
Com as mãos cruzadas sobre o peito, rezavam por um Deus diferente e um mesmo
milagre: a classificação inédita de sua seleção para a Copa do Mundo.
E ela veio aos 22
minutos do segundo tempo em um cruzamento da esquerda do craque do time, Edin Džeko,
que encontrou o pé certeiro de seu parceiro no ataque, Ibisević, e foi morrer no alto da rede lituana. Com o apito
final, a alegria invadiu as ruas de Sarajevo, Banja Luka, Tuzla e tantas outras
cidades bósnias. Era o fecho de uma campanha quase perfeita dos dragões, como
os jogadores são carinhosamente chamados, com dez jogos e um único revés,
contra a Eslováquia. A quarta melhor campanha da Europa, atrás apenas de
Alemanha, Holanda e Bélgica, com um total de 30 gols marcados.
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Com a classificação para a Copa, a alegria tomou conta das ruas de Sarajevo, vinte anos depois delas presenciarem a guerra. |
A explicação para
essa fome ofensiva vem do banco. O técnico Safet Sušić foi um grande meio-campista, eleito pela revista
France Football o melhor jogador da história do Paris Saint-Germain, deixando
para trás craques brasileiros, como Raí e Ronaldinho Gaúcho. Na região dos
Balcãs, o treinador de dragões é quase tão famoso quanto os vampiros.
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ESSE É O CARA: Edin Dzeko recuperou a condição de titular do Manchester City nas últimas rodadas da Premier League. Com o título, chega com muita moral para, quem sabe, brigar pela artilharia. |
Para pousar no
Guarujá, sede escolhida pela delegação no Brasil, a Bósnia deixou pelo caminho
Eslováquia, Lituânia, Letônia, Liechtenstein e Grécia. Fará o primeiro jogo de
sua história em Mundiais num palco digno do momento histórico para o país. Terá
pela frente a Argentina, de Lionel Messi, no Maracanã, pelo Grupo F.
É uma seleção que
construiu seus sucessos a partir das cinzas de um país destruído e dividido, e
que não parece estar disposta a ser uma mera coadjuvante na festa. A sabedoria
aconselha não duvidar. O futebol é uma caixinha de surpresas e de dentro dela
talvez já se possa ouvir o bater de asas atravessando o Atlântico.
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FIQUE DE OLHO: Miralem Pjanic é quem faz a transição do meio-campo para o ataque. Com boa visão de jogo, também é chegado em marcar uns golzinhos. |
ESQUEMA TÁTICO: 4-4-2
Jogando no esquema
4-4-2, o time conta com meias habilidosos vindos de fora: Pjanić, da Roma, e Misimović, do chinês Guizhour Renhe, e os atacantes Ibišević, que defende as cores do Stuttgart, da Alemanha, e
Džeko, do Manchester City, atual campeão inglês.
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4-4-2 (clique para ampliar) |
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Clique para ampliar |
Paulo Sancer,
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